quinta-feira, 20 de março de 2014

ESTE PAÍS TAMBÉM É PARA VELHOS

"Este país também é para velhos ! ” Homenagem de hoje- 19 de Março- ao meu pai e a todos os pais de Abril.


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"Este país também é para velhos ! ” 

«Este país não é para velhos» tradução er
rada dum autor americano que deu à luz uma obra recentemente transformada num filme, muito badalado. Fui ver. Não gostei. O título com tradução correcta seria “este país já não é o que era».Refere-se a uma certa América. Continuaria a não gostar dele, mas talvez o entendesse melhor.

O meu título refere-se a Portugal. Mais, refere-se à nossa essência de Portugal de Abril. Explicarei porquê!
Sou um vaidoso. Às vezes dizem ou insinuam que terei alguma sede de protagonismo. Já me deram tantas explicações para estes males. Nenhum remédio. Desculpo-me tantas vezes comigo próprio...Que serei vaidoso pelas coisas boas, por muitos anos de falta de auto-estima, e por desconfiar de ter sido sempre o primeiro classificado dos meus cursos e não achar que o merecia .

Media o mundo por mim e a minha bitola era exponencialmente mais exigente do que a dele. Afinal não era preciso ser como eu queria. Bastava que fosse como ele (o mundo) queria ou precisasse que eu fosse para com ele !
Super-ego a mais, dirão os especialistas.


Mas isto deu-me pancada forte. Vaidade e protagonismo para quê?! São tudo balelas!? Procura-se remédio...

Caíram-me umas folhas dum baú. Um manuscrito de duas folhas datadas de 27 de Fevereiro de 2003 e escritas por um idoso que iria fazer 89 anos no então ,próximo, dia 13 do mês de Abril.

Nesse dia a sua irmã mais velha festejava 100 anos.

A partir daqui as palavras são suas.

«Excelentíssimo Senhror Presidente da Santa Casa da Misericórdia do Fundão e seus colaboradores. Minhas Senhoras e meus Senhores.»

«Como irmão mais novo presente e ainda vivo, venho agradecer a Vossas Excelências, primeiro as palavras neste momento de homenagem à minha irmã e em segundo lugar por terem organizado este evento no dia em que se comemoram as suas cem risonhas Primaveras.»

«A família S.C. da Capinha, era constituída ,além dos pais, por cinco irmãos, sendo a homenageada a mais velha que para os mais novos era considerada uma segunda mãe, porque os pais devido à labuta, fora de casa, era a esta a quem entregavam o cuidado dos irmãos mais novos, ao ponto de nunca poder ter frequentado a escola e por isso ela se queixava de todos saberem ler e ela ser analfabeta.»

«Esta nossa irmã era uma rapariga muito bonita e por isso todos os rapazes do seu tempo a queriam namorar mas a nossa mãe não a deixava dançar no baile, que aos domingos, se realizava no adro da Igreja da Capinha. Por isso eu (o mais novo e único irmão masculino) tinha como missão avisá-la quando a nossa mãe saía de casa, próximo do largo, com um pau debaixo do avental para lhe bater se a apanhasse a dançar, por já saber desse seu gosto.»

«Como era também um cantadeira como poucas, pela altura da Quaresma, na procissão do enterro do Senhor, que se realizava cerca da meia-noite da Quinta-Feira Santa, os promotores das cerimónias escolhiam-na sempre para cantar no papel da Verónica da história bíblica. Ela fazia esse papel com um melodia inexcedível.»

«Quando lhe arranjaram namoro, para casar, com aquele rapaz desta terra (Peroviseu) que veio a ser seu marido, os rapazes da Capinha obrigaram este a pagar-lhes um monte de pão de trigo de quatro quartos, da altura do namorado e ainda um presunto e três almudes de vinho, para se vingarem de terem perdido a rapariga mais bonita da sua terra.»

« Foi sempre uma grande amiga dos seus irmãos. Por exemplo. Eu fui contemplado com o pagamento dos livros que precisei para me matricular na Escola Industrial e Comercial da Covilhã, onde também trabalhava, mas onde ela ía todos os sábados, montada num animal, com dois cestos de azeitona para vender na praça daquela cidade.»

«Também depois da irmã Natividade (terceira na idade) ter casado no Fundão, resultando desse casamento o nascimento de dois filhos, o Fernando e o Joaquim António, e esta nossa irmã ter negócios de culinária e venda de roupas que confeccionava, esta nossa mana Maria ía a todas as feiras e romarias vender aqueles produtos para auxiliar a irmã e ao regressar depois das vendas, apresentava já as contas feitas. Mentalmente apresentava as receitas e os custos como se fosse uma letrada.»

«Também por alturas dos festejos de Santa Lúzia ,o meu cunhado, num carro de bois, pedia-me para lhe escrever um letreiro “Só se vende um copo de vinho a quem comprar um passarinho”. Esse meu cunhado mandava preparar “taralhões” e pendurava-os no tampo da pipa e era a mana Maria que seguia a pé, a tràs do carro, a vender os copos de vinho pelo caminho. Ao chegarem à romaria de Santa Lúzia já o vinho e os pássaros estavam vendidos e por isso mandavam regressar ao Fundão o “ganhão” com o carro e a pipa já vazia.»

«Já referi que ela era muito cantadeira e isso era de facto uma constante até mesmo nos trabalhos agrícolas. De quando eu era novato há umas cantigas que me ficaram no ouvido.»

« Senhora Santa Lúzia/ Minha Senhora tão bela/Com a Vossa ajuda no caminho/Estamos a chegar à Vossa Capela.»

«A terra da Beira-Baixa/É de todas a mais bela/A dar castanhas e azeitonas/Não há outra como ela.»

«O comboio da Beira-Baixa/Tem 24 janelas/Mais abaixo,mais acima/Meu amor vai numa delas.»

«Agora só me resta pedir desculpa pelo tempo que vos tomei, desejando que todos os presentes cheguem a esta bonita idade de gozar as cem risonhas Primaveras tal qual a minha irmã e segunda mãe,a qual é ainda o orgulho de três filhos, dez netos, quatorze bisnetos e cinco trinetos.A todos um bem-haja muito grato e que Deus vos pague este sacrifício que fizestes por vir a esta bela freguesia da Peroviseu.»

O autor destas palavras viveu entre nós mais quase quatro anos. Não chegou, para si, os votos que fez para os então presentes: atingirem as “risonhas cem Primaveras”.
Mas teve sempre muito orgulho no caminho que fez caminhando...e nas sementes deitadas a campo...

Ela a irmã fez no passado 27 de Fevereiro 105 “risonhas Primaveras”, provando que este país de Abril também é para velhos como foi, também, com estes velhos que cresceu e se libertou.

E que será com os novos e velhos ,do Minho ao Algarve, que acabaremos por construir, as peças por fazer, do Abril , que todos queremos.

Como poderá um humilde cidadão deixar de ser vaidoso?
Basta não esquecer as origens...e se puder olhar todas as noites para a estrela Polar. Mesmo em noites de névoa ou nevoeiro ela está lá.

Manuel Duran Clemente

5 de Abril/2008

(este cidadão idoso era meu PAI -António dos Santos Clemente e a sua irmã minha tia,Maria de Jesus)

terça-feira, 18 de março de 2014

Ainda …o 16 de Março contado por Otelo Saraiva de Carvalho.

Ainda …o 16 de Março contado por Otelo Saraiva de Carvalho.



Nos 30 Anos do 25 de Abril realizaram-se jornadas de Reflexão, em Oeiras .Durante o dia de 25 de Março de 2004 no Teatro Eunice Muñoz, houve três sessões, como os  seguintes temas e intervenientes.:

1 º Painel-Conspiração-Vasco Lourenço, Duran Clemente e Aprígio Gonçalves.
2 º Painel-Acção Militar-Otelo Saraiva de Carvalho, Garcia dos Santos e Costa Neves
3 º Painel-Pós-25 de Abril- Victor Alves, António Reis e Romano Pires

Descrevo isto, para esclarecimento de alguns,para quem esta "operação"ainda é um mistério, o que sobre o 16 de Março foi relatado por Otelo Saraiva de Carvalho, gravado e transposto  no Livro: "OS 30 ANOS DO 25 DE ABRIL", editado pela Casa das Letras (ex-Editorial de Noticias): [ MDC]

Página 92 ,​​Linha 15
Diz Otelo: "Falar sobre a acção do 25 de Abril é um pouco como as telenovelas: um episodio começa  sempre com cenas do episódio  anterior. E eu, assim, vou repegar na questão do 16 de Março. De facto, eu estive no 16 de Março. O coronel Marques Ramos dizia que devia estar na mesa alguém que tivesse participado no 16 de Março. E AQUI ESTOU EU "...

" Vou retomar duas intervenções: uma do Manuel Duran Clemente e outra do  José Novo.”

“O Duran Clemente disse-nos que, na Guiné, quando se deu a despedida dos então majores Casanova Ferreira e Monge, o pessoal da Guiné ficou com uma absoluta convicção de que eles regressavam a  Lisboa para fazer qualquer coisa, para levar por diante uma acção, de que vinham com essa ideia fisgada, de que as coisas estavam muito paradas e era preciso  agir. "

Página 93,Linha 7

Diz Otelo : "A questão que foi colocada por Duran Clemente dá-nos  outra justificação para o 16 de Março: tendo regressado da Guiné, de facto, com a ambição de fazer qualquer coisa, de romper com um situação, o Casanova Ferreira  vai exercer sobre MIM UMA PRESSÃO ENORME  "...

Entre a pagina 93 e a página 99 (vou fazer um resumo do que é dito de mais importante):

Otelo conta das reuniões em casa de Casanova Ferreira, primeiro no Algueirão, no dia 12 de Março, com tenentes e oficiais das Escolas Práticas e outros do RI5-Caldas e do RALIS-Lisboa. Depois  e já à tarde na casa do Casanova mas de Lisboa .... "alinhámos num folhinha de papel A5, uma pequena Ordem de Operações(!) em que intervinham quase só as Escolas Práticas .. Não havia transmissões, não havia nada. "
Então, continua dizendo Otelo: na sequência dessa reunião arrancou,no dias seguinte, para Santarém ... Teve uma reunião em Casa do Capitão Bernardo. Este interrogou? "A ordem vem assinada pelo general Spínola?” Perante uma resposta negativa, respondeu: “Ah então nós, Escola Prática, não entramos, fica já ponto assente.” (Salgueiro Maia estava de Serviço no aquartelamento).

Mais é ainda referido por Otelo: n'uma reunião, ainda ao fim dessa tarde no Dafundo com representantes do Corpo de Paraquedistas, com a presença de Garcia dos Santos e Moreira Azevedo,o paraquedista capitão Avelar de Sousa perante a má qualidade da Ordem de Operações acabou por também se recusar a avançar.

Otelo, acaba esta parte, dizendo: "posto isto parecia  termos desistido, mas não."

Depois  da exoneração de Costa Gomes e António Spínola  (14 de Março) são desafiados por Lamego (CIOE). O capitão Ferreira da Silva afirma “vamos avançar sobre o Porto”.

Então Casanova Ferreira dá ordens. Manda Otelo arranjar tropas em  Mafra (EPI) e em Vendas Novas (EPA). Estando Presente o major Marques Ramos (que nesta sessão, trinta anos depois, manifestou a sua indignação contra a forma como estas acções foram planeadas).Diz-lhe Casanova: “tens malta amiga no RI5/Regimento das Caldas ficas incumbido de ir lá e trazer uma coluna”. Por sua vez Casanova prontifica-se ir a Santarém e trazer outra companhia. Manuel Monge ficaria em Lisboa como coordenador das acções…pelo telefone ...

Conta Otelo: "despedimo-nos e arrancámos ...."

“Rumei a casa do Victor Alves, (da Direcção Operacional do MFA) pois o Vasco Lourenço já estava nos Açores, e expliquei-lhe a situação. O Victor Alves ficou alarmadíssimo e disparou “ISSO É UMA BRONCA “.” Mas Como é que isso pode acontecer assim à revelia do Movimento? "  …” Isso é uma bronca" ...

"E eu" ... (Diz Otelo) ... "Pois é mas eu estou metido nisto até aos gorgomilos, paciência, vou arrancar nesta aventura e vamos ver o que isto vai dar? ..."

************

QUEREM QUE CONTE MAIS? Pergunto agora eu, [MDC]

Não Vale a pena o resto é o que se sabe e é mais ou menos público ... na EPI-Mafra ,Otelo  não encontrou tropas, e na EPA-Vendas Novas  a mesma coisa.. Era fim de semana .
Casanova não teve melhores resultados. Também ninguém o satisfez em Santarém.

Só saiu o RI5/Regimento de Infantaria nº 5 das Caldas da Rainha chegando quase à portagem da AE de Lisboa. Para onde Otelo terá ainda tentado dirigir-se para evitar mais sarilhos. Foi em vão.

PARA QUEM TENHA DÚVIDAS O MELHOR É COMPRAR ESTE LIVRO OU PEDI-LO EMPRESTADO .

Justificação esfarrapada ou talvez não : impedir a exoneração de Costa Gomes e Spínola ... que até já tinham sido exonerados ... a 14 de Março. Ou recolocá-los nos seus lugares de chefia anteriores.

 * Manuel Duran Clemente [MDC] (citações do Livro E COMENTÁRIOS MEUS)



domingo, 9 de março de 2014

Há 40 anos O rigor Histórico

Há 40 anos    O rigor Histórico
·         `   * Manuel Duran Clemente

ACABO DE LER O EDITORIAL do último
O Referencial.(Revista da A25A de Jul-Set nº 111) 

Nos primeirosparágrafos pude ver:
“A verdade é que a dinâmica do Monte
Sobral rapidamente se estendeu às
colónias e, em Portugal, na Guiné, em
Angola, em Moçambique, nas primeiras
reuniões que se seguiram e sem que
houvesse contactos ou posições concertadas,
surgiram intervenções que
iniludivelmente apelavam à politização
do movimento contra a ditadura…”.

Este excerto faz parte do texto integral do referido editorial e sobre ele só
poderei estar de acordo e subscrever o seu justo espírito. Já não posso concordar
com a frase e “rapidamente se estendeu às colónias” quando todos (!)
sabemos e sem qualquer esgar competitivo, mas em abono do rigor, que
assim não foi ou se foi assim (porque a frase é ambígua) é preciso ser claro
que na Guiné já tinha havido, antes de 9 de Setembro, seis reuniões onde,
além do documento de objecção colectiva preparado, assinado por 51 oficiais
e enviado (entre 16 e 28 de Agosto), se apelara à politização do movimento
contra a ditadura e onde já se constituíra uma Comissão de Capitães (*). E contactos,
entre Bissau e Lisboa, houve suficientes, tanto que, disse quem sabe,
o documento assinado por 136 militares no Monte Sobral tinha entre os outros
mais nobres objectivos também o da solidariedade para com os 51 militares
que assinaram o documento de Bissau, aliás referido nas “memórias de Marcelo
Caetano” que reza mais ou menos isto:”quando li o documento assinado pelos
capitães em guerra na Guiné fiquei muito preocupado”.
Na Guiné ficamos gratos e satisfeitos com o evento e gesto de Alcáçovas, não
só por sabermos que 136 militares tinham (publicamente) engrossado a sublevação,
pois era um acto de indisciplina quaisquer subscrições colectivas, como
e principalmente constatarmos o recrudescer da contestação e da consciencialização
dos camaradas oficiais, exactamente onde elas poderia ser
profícuas, no então Continente. Sendo assim julgo que o texto do edi -
torial podia ser mais claro ou abrangente.
A esse propósito daria o meu contributo (e de quantos oficiais estiveram neste
acto na Guiné), contributo que poderia ser uma outra versão mais assertiva,
ainda que condicionada a poucos caracteres, transcrevo um texto da minha
autoria, há meses publicado:
****
MFA. Capitães iniciam contestação,
prólogo da revolta
Estamos em 1973. Decorre o décimo segundo ano da guerra colonial. O fascismo
teima no “orgulhosamente sós” contra os ventos da História. O colonialismo
fenece. As grandes potências cedem aos direitos conquistados pelos
povos oprimidos. Fruto das lutas antifascistas e do movimento internacional
ergue-se a consciencialização libertadora Os capitães estão fartos da guerra, da
mentira e da hipocrisia. Descobrem que o inimigo não está na mata tropical
mas nas altas hierarquias. Em Junho, a primeira manifestação de militares
traduz-se pelo repúdio, ao “congresso dos combatentes” no Porto. Encenação
fascista para perpetuar a guerra. Oficiais de carreira rejeitam tal farsa e protestam
em Bissau e no Continente. Não muito depois a contestação na Guiné-Bissau
agudiza-se. Em Agosto é enviado às mais altas patentes, governamentais
e militares, um documento de objecção colectiva, subscrito por meia centena
de capitães – acto marcante de sublevação disciplinar. Assim se inicia a
preparação para a revolta, convergindo na célebre reunião dos 136 capitães e
subalternos em Alcáçovas/Évora a 9 de Setembro. A gestação para a alvorada
da Liberdade levaria, curiosamente, pouco menos de nove meses.
*****
O Referencial da nossa A25A é uma das referências mais saudáveis dos
militares associados ao Movimento de Capitães e depois MFA. Têm sido inegáveis
os contributos doados, desde sempre, à verdade e dignidade do Movimento
e da Revolução, quer nas atitudes quer nos escritos.

Relativamente o meu reparo, relembro que revejam a página 132 do livro a “Alvorada
em Abril” de Otelo Saraiva de Carvalho, que esteve em Bissau no início
deste processo. Igualmente do “Diário da Liberdade” de Aniceto Afonso a páginas
278 e 281.E bem assim do livro “Origem e Evolução do Movimento de
Capitães” de Diniz de Almeida a páginas 410 e 411 e, entre outros, do livro ”30
Anos do 25 de Abril” compilação de M. Barão da Cunha a páginas 68 a 71 e ainda
dos documentos “LUSA-25 de Abril/Memórias” na página 24.

Depois de se terem vivido estes acontecimentos(também vividos em Angola
e Moçambique) da forma que sabemos, talvez não tão semelhante como na Guiné,
mas certamente de forma parecida, é legitimo o nosso reparo, não só quanto ao
texto editorial da epígrafe “Alcáçovas /Reunião de militares fundou há 40 anos
o movimento de capitães” como a outros textos que, sem querer, podem tornear
a história dos acontecimentos.

Não estou a pugnar para termos “a medalha” de obreiros do início da conspiração.
Tenho dito e escrito, talvez se pense que a conspiração começou na
Guiné. Talvez por causa da carta, que foi a primeira manifestação de indisciplina
colectiva, isso tenha ficado um pouco na ideia. Mas eu acho que
começou em todos os que acordaram para o facto, que teve muito a ver com
a guerra e com o que nela aprendemos.

E na Guiné pelas suas características,pesou muito. Nos últimos anos, a partir
de 1966 a 73,após os primeiros seis anos de guerra colonial, os militares
do quadro permanente despertaram para uma consciencialização mais
aguda e mais clara das contradições e mentiras do sistema, ou seja, do regime
político que nos desgovernava. (MDClemente ,“30 anos de Abril”, pág. 65).

Tenho dito e escrito: 

A conspiração começou em todos que não se sentiam
bem “com o estado ao que isto chegou”(Salgueiro Maia). Fomos um só povo:
europeus e africanos. Os do Norte eos do Sul, do Litoral e do Interior, a
sentir em português o acto REVOLTA,a falar em português a palavra LIBERDADE.
A guerra que travámos tinha várias espécies de “teatro de operações”.
Este não era só em África, na guerra colonial, era em toda a parte. Onde se
lutava, onde se trabalhava, onde se sofria, onde se aprendia, onde se crescia…
onde se queria um 25 de Abril. (MDClemente, “25 de Abril - Sonho Luta Revolução
e Esperança”)

Mas desejo pugnar por um pouco mais de rigor por quem escreve história.

E nesse sentido quero que fique muito claro, que apesar deste meu reparo,
considero que a reunião de 9 de Setembro foi para todos nós um amarrar das
angústias. Tem o seu significado ímpar como todos os actos que correspondem
a um anseio colectivo. E esse significado, independentemente do antes e
do depois, ficará justa e eternamente gravado na história. Simbolicamente,
junto-me, aos que o consideram o início do “colectivo consciente” para a nossa
caminhada da Liberdade.

40 Anos de Abril O rigor histórico

(*) Para comprovar já o acento político das reuniões deBissau, devo
acrescentar que a eleição da comissão foi precedida de intervenções e numa
delas eu referi e citei excertos do livro de Sottomayor Cardia “Para uma Democracia Antimonopolista”
que Matos Gomes acabara de trazer de Lisboa .Fui o mais votado e ele o segundo

MAUEL DURAN CLEMENTE    Jan 2014

Resposta de Vasco  Lourenço
Confesso estar a ficar cansado da “guerra” do “onde começou…”. Guiné, Angola,
continente?
O facto é que, como afirma Duran Clemente,terá começado em todo o lado
ao mesmo tempo.
Mas, duas coisas são indiscutíveis:

- Após o congresso dos combatentes, a primeira atitude concreta, colectiva, de
reacção ao dec.-Lei 353/73, foi no IAEM em Pedrouços, onde os majores do curso de
actualização entregaram um memorando (não assinado) ao director do serviço de
Pessoal do exército.

- A primeira acção que pode ser considerada como de criação do movimento dos capitães
foi a reunião em Alcáçovas de 9 de setembro de 1973, dado que aí foi escolhida uma
comissão coordenadora Provisória (independentemente de, antes, já ter
havido reuniões no continente, na Guiné e Angola e de, na Guiné, ter sido feito um
documento assinado por cinquenta e um oficiais e enviado para “cima”). Aliás,
é ai que nasce a denominação Movimento dos Capitães Todos confluímos para a acção comum, que
nos levou ao 25 de Abril.
E isso é que conta!
Oxalá consigamos congregarmo-nos no objectivo de recuperar os valores que nos
nortearam há 40 anos…!
V. L.

RESPOSTA de Duran Clemente A VASCO LOURENÇO. 

Não, Vasco Lourenço estas duas coisa são discutíveis.
Primeiro parece-me que o meu texto é claríssimo e duma dignidade  percebida por toda a gente.Assim como toda a gente percebe que a tua justificação é frágil.
Primeiro um memorando apócrifo mesmo sendo de oficiais do IAEM não tem  o valor das nossas reuniões de Bissau e do documento assinado por 51 Oficiais (47 capitães e 4 tenentes).
Segundo se a reunião de Alcáçovas é importante por ter sido nomeada uma comissão provisória nas reuniões de Bissau foi eleita uma comissão coordenadora não provisória.Comandou o Processo até ao fim.    Manuel Duran Clemente.  (9.03.2014)


Nota editorial:
PEZARAT CORREIA   (director do Referencial,revista da A25A)
No último Editorial, referindo-me ao encontro do Monte Sobral de 9 de
Setembro de 1973, escrevi que «(…) a dinâmica do Monte Sobral rapidamente
se estendeu às colónias (…)» o que não é rigoroso, nomeadamente em relação à
Guiné, onde umas dezenas de oficiais já estavam em processo avançado de
contestação desde Agosto, já haviam constituído uma Comissão de Capitães e
até já apelavam à politização domovimento. O Manuel Duran Clemente
chamou-me a atenção para o lapso, aliás  despido de qualquer intencionalidade e,
porque é de justiça, aqui fica exarada a competente retificação com as minhas
desculpas aos leitores e em particular aos camaradas do Movimento dos Capitães
na Guiné.

Nota:
ESTAS PUBLICAÇÕES ,com excepção da minha resposta de agora a VL, foram publicadas na revista recente (nº 112 )