(Comunicação no dia 7.12 na Conferência da Paz do CPPC e no dia 8.12.2013 na Convenção Democrática Nacional )
25 de ABRIL/Sonho, Luta,
Revolução e Esperança
Voltámos a estar em guerra.
Abril vencerá porque Abril é o futuro.
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Houve 25 de Abril porque havendo ditadura,
colonização, opressão, obscurantismo, repressão, demagogia, isolamento…um
pesado policiamento das consciências. queríamos
ser Livres, estar…em PAZ, contribuir, com plena cidadania, para a construção do
nosso futuro…
Mas
Colonizados e
colonizadores, interna e externamente, também houve 25 de Abril porque quisemos acabar
com o infortúnio e cegueira duma guerra colonial.
Todos os
que não se sentiam bem…com este estado de coisas… fizeram o 25 de ABRIL.
Fomos
um só povo: europeus e africanos. Os do Norte e os do Sul, do Litoral e do
Interior:
A sentir em português o
acto: REVOLTA...
A falar em português a
palavra: LIBERDADE...
A
guerra que travámos tinha várias espécies de “teatro de operações”:
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O teatro
de operações não era só em África, na guerra colonial…era em toda a parte
onde se lutava,
onde se trabalhava
onde se sofria,
onde se aprendia,
onde se conspirava
onde se crescia…
onde se queria um 25
de Abril.
A
guerra em que nos meteram “Portugal uno e indivisível “ isolou-nos ainda mais …Mas
como há sempre verso e reverso, a dialéctica encarregou-se de nos colocar contemporâneos
com o rumo de mudança e de concretizar o fim
da
ditadura
opressiva de quarenta e oito anos e do colonialismo atávico de quinhentos anos.
”Libertámo-nos”
duma prisão, dum isolamento e dum obscurantismo e quisemos, com os novos ventos
da História, enfunar as velas de velhos navegantes rumo a outra Amizade
e Cooperação entre os povos.
E…só assim
foi possível o 25 de ABRIL…
Portugal redimiu-se numa noite e fez
surpreendentemente, dum conjunto de jovens militares, emergirem capitães,
timoneiros do povo armado…mas também, sob a égide dum povo unido, erguer uma das mais belas alvoradas.
Nós capitães, anos após anos, constatámos que
afinal o nosso inimigo não estava na mata tropical mas no Terreiro do
Paço…Altas patentes militares e Governantes mentiam-nos sem pudor.
E foi, paradoxalmente, com os conhecimentos
adquiridos nessa guerra, que soubemos preparar com profissionalismo e
competência a tomada do poder.
Uma Alvorada libertadora, só por si, não faz uma
Revolução…mas há Alvoradas que as fazem.
Nesse dia,
há 39 anos, o 25 de Abril sendo um Golpe Militar, organizado, trabalhoso e
difícil, teve na estrondosa adesão popular a plataforma para um estado
superior : foi REVOLUÇÃO.
Ao povo, aos cidadãos… foi restituído o que era
deles e por isso eles acorreram: a tomar nas suas mãos o que lhe era pertença:
-nas instituições;
-nas fábricas;
-nos bairros;
-nas escolas;
-na terra…no campo…na serra.
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Hoje,
passados trinta e nove anos, o Portugal Democrático não devia já ter nada a ver
com o Portugal da ditadura. Não queremos branquear o fascismo mas nos últimos
anos infelizmente o 25 de Abril está a ficar distante.
Não
confundamos os males de então com os dias extremamente difíceis de “hoje”,
que já o eram “ontem” e têm vindo a sê-lo nesta caminhada.
Quiçá,
terão mesmo alicerces numa data venerada pelos inimigos da Revolução, dum certo
Novembro da nossa Primavera.
Os
desencantos de hoje e respectivas frustrações nada têm a ver com o 25 de Abril.
Os desencantos de hoje e respectivas frustrações
são fruto duma coligação de interesses e conjugação de factores internos e externos.
Às raízes antigas, outras se lhes vieram juntar.
Globalmente são resultado
da essência e natureza dum sistema predador:
-Responsável
pela miséria, pela fome e pela doença de milhões de seres humanos.
-Responsável
pela depauperação de países e pela pilhagem de continentes.
Chama-se: “capitalismo”,
com diversas alcunhas:
-neo-liberalismo,
-ultra-liberalismo global…
-e até já, e só, simplesmente da curta palavra
“mercado ”.
Em
25 de Abril quisemos que as pessoas, os portugueses participassem no futuro.
Quem
deixou, quem permitiu (como e quando) que agora, nos dias de hoje, seja o
MERCADO e os seus tiranetes que mandem em nós ???
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Há
anos que vimos afirmando que o sistema gera desumanas situações sócio-económicas,
com uma aparente e ilusória contrapartida de progresso económico,
onde os ricos tem ficado
cada vez mais ricos
e os pobres, cada vez,
mais pobres.
Há
muito que a economia social foi estrangulada
e a vertente financeira (especulação)
se sobrepõe à vertente produtiva
(economia real). A Banca e a Finança a governar.
Esta
é a essência da crise
.
Infelizmente,
é-o, há muito.
E o que é que isto tem a ver com o nosso 25 de Abril?? Perguntarão.
Tem
tudo a ver.
Para
nós Capitães de Abril, para a esmagadora maioria de nós, de todos nós, o
verdadeiro 25 de Abril assentava numa base programática (o programa do MFA) com
os direitos e os deveres do cidadão, dignos dum Estado-Social…e que, graças à luta dos progressistas, a
Constituição da República Portuguesa viria a consagrar, em letra, em 2 de Abril
de 1976.
Durante cerca de dois
anos o MFA e os governos provisórios produziram quase 200 diplomas (Leis, DL e
Portarias) que oficializaram as conquistas da Revolução…para alegria e satisfação popular.
Que País e que
Estado-Social temos, 39 anos depois?
Há trinta e nove anos quisemos um país novo.
O
programa do MFA deu o mote: descolonizar,
democratizar e desenvolver. Ter PAZ, como necessidade intrínseca.
Tivemos muitos avanços e grandes recuos. Mas…
Que
outra “guerra” ou outras “guerras” nos atormentam?
Dos
marcos da Revolução Francesa : Liberdade,
Igualdade e Fraternidade (Solidariedade), os poderes instalados só vibram
com a Liberdade.
Mas
onde andam a Igualdade, Fraternidade e a Solidariedade?
É que a Liberdade, anda de boca em boca, para
que haja cada vez mais libertinagem para : “explorar”… “oprimir” … “mentir”…“manipular”.. A mentira e manipulação são a hipócrita
bandeira na lapela dos governantes.
Sendo um país diferente :
-muitos sonhos ficaram por realizar,
-muitas situações de injustiça e iniquidade
convivem connosco ainda hoje e agora!
-a gravíssima crise interna deve-se à coligação
de interesses que nos tem desgovernado!
-e a crise internacional pretendem os poderosos
curá-la exactamente com os mesmos falsos remédios que a criaram!
Voltámos a
estar em “guerra”.E
sabemos onde estão os inimigos.
Estando muito diferentes de há 39 anos, estávamos
longe de pensar, que absurdos e negativos indicadores e comportamentos dos
governantes hoje nos colocariam próximos duma bancarrota social e financeira, incentivada
pelos especuladores agiotas e poderosos da banca e da finança internacional.
Quem nos conduz?
A esta austeridade suicidária geradora da continuada desaceleração da economia?
Ao exacerbar da pobreza?
À mais alta taxa de desemprego e aumento e
generalização da precariedade?
À quebra dos salários, já dos mais baixos da
União Europeia? À brutal redução das pensões dos reformados?
A uma despudorada e injusta carga fiscal?
Ao ataque ao direito ao trabalho digno e ao
Estado Social com a grave redução dos legítimos direitos na saúde, na segurança
social, na educação e na justiça?
Com esta política, Portugal tem vindo a empobrecer
e as desigualdades têm vindo a aumentar exponencialmente.
Que se passa?
Desde o operário ao licenciado o português é bom
profissional em todo o mundo! Que nos fazem ou deixamos que nos façam em
Portugal.
E os sucessivos Governos que têm feito?
O 25 de
Abril merece mais, merecia mais.
Merecia e merece outra Politica. Outra classe politica diferente da que tem
detido o poder desde os Governos Constitucionais que infelizmente não tem
sabido, em muitos momentos, estar à altura da grandeza da LIBERTAÇÃO de ABRIL.
Em 37 anos os sucessivos governos constitucionais
têm-se mostrado reféns e amarrados a várias
grilhetas internas e externas:
a)-Dentro
do País/Internamente, prisioneiros:
*-de uma cultura “de
poder pelo poder” em vez “do poder pelas pessoas, pelas nossas gentes” e de uma
cultura da mentira e da manipulação.
*-da criação de clientelas
e de elites sôfregas por lugares ao sol…e que por aí vão propagando formas de
estar e de vivência nada condizentes com o espírito de Abril.
*-do asfixiar das
responsabilidades cívicas e dos direitos de participação e da cidadania activa
que Abril abriu.
*-do prodígio da
incompetência e de estratégia de suicídio…que o mais pessimista de nós nunca esperaria
após o25 de Abril.
*-da ilusão de alternativas salvadores mas que
apenas têm escondido o papel de afundadores do País de Abril, repetindo e alternando
a farsa a que se entregaram nesta quatro décadas subvertendo na prática as
normas, os fundamentos e as linhas orientadoras da Constituição de 1976 e ,pasme-se, até querendo
atribuir-lhe, a ela e ao TC, os males do País.
*-pela incapacidade de desmontar uma intensa
ofensiva ideológica levada a cabo pelos órgãos de comunicação, propriedade do
grande capital, cujo objectivo tem sido criar condições favoráveis à
continuação da política dos poderosos e à desqualificação da vida dos trabalhadores.
*do enfraquecimento propositado do aparelho de
estado para justificar contratações milionárias a privados.
*-da corrupção, da apropriação, assalto e
esbulho aos bens, que supostamente deveriam estar ao serviço de todos os
cidadãos, mas têm servido para a criação de coutadas geradoras de lucros e
escandalosas remunerações e prémios anuais recordes do mundo .
*Reféns, pecado maior, do mando dos grupos
financeiros e económicos nacionais, a cuja subordinação, esta nossa democracia
já compete com os piores tempos da ditadura.
b)-Lá
fora/Externamente,reféns
*-duma débil e falsa União Europeia (um gigante
de pés de barro)para onde partimos (em 1986) apenas com dez anos de democracia
e com um estrondoso atraso estrutural económico (herdado da ditadura) que só
por si merecia, como muitos avisaram, outro tipo de negociações, outras
cautelas, leviana e festivamente, desprezadas.
*-da incapacidade de fazer valerem os pontos de
vista nacionais, submissos à abdicação e imposição que nos fragilizaram em
sectores económicos vitais (como nas pescas, na indústria e na agricultura…)
entre outras malfeitorias semelhantes.
*-à cegueira de não
perceber que a crise internacional teve responsáveis…os mesmíssimos que agora a
querem curar à custa dos mais fracos e do sacrifício da classe que foi sempre a
sacrificada:a classe trabalhadora.
*-cúmplices da ignorância do que tem acontecido
aos povos que recorreram à designada “ajuda externa” que não é mais do que um
“eufemismo” porque significa tudo menos ajuda. É exploração, é especulação, é
ingerência…de agiotas, do mercado usuário.
*-duma lógica de integração capitalista que é o
aumento da acumulação e concentração de capital dos grandes conglomerados de empresas, dos monopólios dos países mais
ricos e desenvolvidos que não só
engordam à custa do saque dos países do terceiro mundo, como também dos países
menos desenvolvidos da U.E..
*-de não perceber que as ditas crises
financeiras resultam das crises do capitalismo e baseiam-se sempre na
sobre-acumulação de capital na esfera da produção. Não perceber que perante as
crises ou impasses o capital monopolista irá tornar-se mais agressivo,
predatório e sem escrúpulos, intensificando a exploração dos trabalhadores. O
objectivo é a redução do custo da força do trabalho.
*-de não perceber ou ser cúmplices de que nenhum
pacto, mecanismo ou programa de estabilidade, poderá, só por si, debelar a
crise ou resolver as contradições do capitalismo, como ataque selvagem e
bárbaro do capital contra os direitos e vida dos trabalhadores, das camadas
populares e dos jovens.
*-de não compreender que com a continuação das
politicas e dos comportamentos ,que teimosamente o Capital impõe ( perante o
qual se têm vergado os responsáveis portugueses)…com a continuação dessas
políticas o desemprego, a pobreza, e as contradições entre os estados-membros
da U.E. irão aumentar, com graves consequências para os povos.
*-não entender que a escalada de ataques anti-populares atingirá todos os estados membros da U.E. porque o Capital Monopolista
quer é reduzir o custo da força do
trabalho, o seu objectivo fulcral é reforçar a competitividade não só em
relação aos EUA, mas também em relação às forças emergentes como China, Índia e
outras, com mão de obra muito mais baixa… a
questão dos défices e dos endividamentos pode ser apenas e tão somente uma cortina
de fumo.
Nada disto
tem a ver com o que deu razão e motivou o 25 de Abril….
Tudo isto é contrário ao que aliança POVO-MFA
queria, na alvorada libertadora…e afasta-se da Constituição mesmo com as sete
alterações já impostas.
É essa política, imposta pelo exterior e acarinhada pela contra-revolução - não raras vezes,executada em frontal desrespeito pela Constituição da República, fora da lei Fundamental do País, de há dois anos para cá, sob a batuta da
troika ocupante - a única responsável pelo estado de desgraça a que Portugal
chegou.
É essa política de ódio a Abril que urge
derrotar e substituir por um política de sentido oposto, logo inspirada nos
valores de Abril.
Por isso iremos comemorar os 40 anos de Abril.
Por isso os comemoraremos em luta. Com a firme convicção de que é nos valores de
Abril - nas suas conquistas políticas, sociais, económicas, culturais,
civilizacionais - que se encontra a solução para os muitos e graves problemas
criados pelos governos e pelas políticas da contra-revolução internas e externas.
Em 25 de Abril quisemos que as pessoas, os
portugueses participassem no futuro.
Fizemos pontes para o futuro.
O poder hoje instalado “quer fazer do amanhã pontes para
o passado”.
Quer regredir aos tempos de antes da revolução
francesa.
Quer o empobrecimento de todos nós para que um por
cento mande em noventa e nove por cento da humanidade. A austeridade é apenas
um instrumento duma estratégia. Querem que se caia num “feudalismo moderno”.
Não deixaremos.
Com a certeza de que a conquista de tal solução
depende, no essencial, da luta dos trabalhadores e do povo.
Com os trabalhadores e o povo, com a intervenção
organizada de todos os homens, mulheres e jovens identificados com os valores
de Abril, conquistaremos um rumo novo para Portugal.
Abril
vencerá!
Porque Abril é o futuro.
A luta
continua e com ela continuará sempre…o
sonho, a revolução e a esperança: que fizeram Abril, que deram força a Abril.
Tal como há 39 anos. Tal como durante 39 anos.
Há
vitórias e derrotas nas constantes batalhas da Vida...[ já dizia B.Brecht ] mas a
grande Vitória é continuar a lutar...a lutar pela paz, igualdade e justiça
social.A lutar pelos valores de Abril e suas conquistas da Revolução.
“Sejamos realistas desejando o impossível.” Para
além de Maio de 68.
Todos nós somos parte da solução.
Repetimos
Abril
vencerá!
Porque Abril é o futuro.
Manuel Duran Clemente ,Coronel Ref.
[Cap. de Abril]
Membro da Presidência do Conselho Português Paz e Cooperação e vogal da
Direcção da ACR/Associação das Conquistas da Revolução. Membro do Grupo de Reflexão
da Associação 25 de Abril.
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