sexta-feira, 24 de abril de 2015

25 de ABRIL/Sonho, Luta, Revolução e Esperança (2015) Voltámos a estar em guerra.


25 de ABRIL/Sonho, Luta, Revolução e Esperança   (2015)
Voltámos a estar em guerra.


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Houve 25 de Abril porque havendo ditadura, colonização, opressão, obscurantismo, repressão, demagogia, isolamento…um pesado policiamento das consciências. queríamos ser Livres, estar…em PAZ, contribuir, com plena cidadania, para a construção do nosso futuro…

Mas

Colonizados e colonizadores, interna e externamente, também houve 25 de Abril porque quisemos acabar com o infortúnio e cegueira duma guerra colonial. 

Todos os que não se sentiam bem…com este estado de coisas… fizeram o 25 de ABRIL.

Fomos um só povo: europeus e africanos. Os do Norte e os do Sul, do Litoral e do Interior:
                       A sentir em português o acto: REVOLTA...
                       A falar em português a palavra: LIBERDADE...

A guerra que travámos tinha várias espécies de “teatro de operações”:
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O teatro de operações não era só em África, na guerra colonial…era em toda a parte
                           onde se lutava,
                           onde se trabalhava
                           onde se sofria,
                           onde se aprendia,
                           onde se conspirava
                           onde se crescia…
                           onde se queria um 25 de Abril.

A guerra em que nos meteram “Portugal uno e indivisível “ isolou-nos ainda mais …Mas como há sempre verso e reverso, a dialéctica encarregou-se de nos colocar contemporâneos com o rumo de mudança e de concretizar o fim  da ditadura opressiva de  quarenta e oito anos e  do colonialismo atávico de quinhentos anos.

 ”Libertámo-nos” duma prisão, dum isolamento e dum obscurantismo e, com os novos ventos da História, quisemos enfunar as velas de velhos navegantes rumo à Paz, a outra Amizade e Cooperação entre os povos.

E…só assim foi possível o 25 de ABRIL

Portugal redimiu-se numa noite e fez surpreendentemente, dum conjunto de jovens militares, emergirem capitães e outros quadros de carreira e milicianos, timoneiros do povo armado…mas também, sob a égide dum povo unido, erguer uma das mais belas alvoradas.

Nós militares, ano após ano, constatámos que afinal o nosso inimigo não estava na mata tropical mas no Terreiro do Paço…Altas patentes militares e Governantes mentiam-nos sem pudor.
E foi, paradoxalmente, com as contradições e conhecimentos adquiridos nessa guerra e o clamor dos povos oprimidos em Portugal e nas Colónias, que soubemos preparar com profissionalismo e competência a tomada do poder.

      (a desenvolver pela importância que tiveram na nossa consciencialização):

[A democratização nas Academias Militares: deixaram de ser 75 cadetes filhos de generais e gente rica para passarem a ser 450 cadetes filhos do povo para aguentar a guerra colonial que se iniciara, enquanto potencias mais ricas foram dando a independência às suas colónias no pós-guerra e até aos anos sessenta.]

[A importância e significado dos anos sessenta com a abertura nos espíritos dos cidadãos: o make love-not war, beatles, lutas anti raciais, assassinatos  de Kennedy, Luter King, o Black-Power,assassinatos em massa de estudantes no México,as lutas estudantis ,o Maio 68 e outros acontecimentos relevantes.]

[O efeito boomerang da acção-psicológica feita pelos militares portugueses junto das populações africanas ,do contacto com as quais,vínhamos convencidos de quem era o inimigo: o dito Estado Novo, orgulhosamente só.]

[Fomos capitães e porquê? Três ou mais comissões de guerra, comandantes da quadricula, responsáveis pela segurança das tropas e das populações, fazendo de ”médicos”, ”enfermeiros”, “padres”, e assegurando a alimentação e não só ,deram aos capitães muita força moral e anímica para passar à acção.]



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Uma Alvorada libertadora, só por si, não faz uma Revolução…mas há Alvoradas que as fazem.  

Nesse dia, há 41 anos, o 25 de Abril sendo um Golpe Militar, organizado, trabalhoso e difícil, teve na estrondosa adesão popular a plataforma para um estado superior  : foi REVOLUÇÃO.

Ao povo, aos cidadãos… foi restituído o que era deles e por isso eles acorreram: a tomar nas suas mãos o que lhe era pertença:
-nas instituições;
-nas fábricas;
-nos bairros;
-nas escolas;
-na terra…no campo…na serra.
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Hoje, passados 41 anos, o Portugal Democrático não devia já ter nada a ver com o Portugal da ditadura.
Não queremos nem podemos branquear o fascismo  se nos últimos anos o 25 de Abril está a ficar distante  não confundamos os males da ditadura salazarista:-a opressão, censura, o estrangulamento dos direitos fundamentais com  índices de analfabetismo de 34%, de 37% de casas sem luz e de 53% de lares sem água….para além doutros miseráveis indicadores como na mortalidade infantil, na reduzida assistência na Saúde, numa pobre Educação pública, na repressão dos trabalhadores, dos estudantes e opositores ao regime, na vergonhosa descriminação entre sexos, na abominável censura e policia politica que prendia e matava, nos tribunais plenários com sentenças renováveis…..enfim, os mais velhos sabem…não podemos confundir  a crueldade de então  com a crueldade dos dias de hoje. Hoje estes imberbes dizem que o país está melhor mas as pessoas estão piores!!!


Os desencantos de hoje e respectivas frustrações nada têm a ver com o 25 de Abril.

Os desencantos de hoje e respectivas frustrações são fruto duma coligação de interesses e conjugação de factores internos e externos.

Às raízes antigas, outras se lhes vieram juntar.

Globalmente são resultado da essência e natureza dum sistema predador:

-Responsável pela miséria, pela fome e pela doença de milhões de seres humanos.
-Responsável pela depauperação de países e pela pilhagem de continentes.

Chama-se: “capitalismo”, com diversas alcunhas:
   -neo-liberalismo,
   -ultra-liberalismo global…
   - simplesmente , “mercado ”.

Em 25 de Abril quisemos que as pessoas, os portugueses participassem no futuro.
Quem deixou, quem permitiu (como e quando) que agora, nos dias de hoje, seja o MERCADO  e os seus tiranetes que mandem em nós ???
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Há anos que vimos afirmando que o sistema gera desumanas situações sócio-económicas, onde os ricos tem ficado cada vez mais ricos e os pobres, cada vez, mais pobres.

Há muito que a economia social foi estrangulada e a vertente financeira se sobrepõe à vertente produtiva (economia real). Anda a circular (no mundo) cinco vezes mais dinheiro virtual  que o da real produção. Quem se amanha ?Os especuladores e corruptos.

A Banca, a especulação agiota, os jogos das troikas…  dos Bilderbergs,  do FMI,  do BCEs  …enfim da alta Finança a governar.
Esta é a essência da crise .

Infelizmente, é-o, há muito.
E o que é que isto tem a ver com o nosso 25 de Abril?? Perguntarão.

Tem tudo a ver.

Para nós Capitães de Abril, para a esmagadora maioria de nós, de todos nós, o verdadeiro 25 de Abril assentava numa base programática (o programa do MFA) com os direitos e os deveres do cidadão, dignos dum Estado-Social…e que, graças à luta dos progressistas, a Constituição da República Portuguesa viria a consagrar, em letra, em 2 de Abril de 1976.
Durante cerca de dois anos o MFA e os governos provisórios produziram quase 200 diplomas (Leis, DL e Portarias) que oficializaram as conquistas da Revolução…para alegria e satisfação popular.

Que País e que Estado-Social temos, 41 anos depois?

Há 41 anos quisemos um país novo.
O programa do MFA deu o mote: descolonizar, democratizar e desenvolver. Ter PAZ, como necessidade intrínseca.

Tivemos muitos avanços e grandes recuos. Mas…

Dos marcos da Revolução Francesa : Liberdade, Igualdade e Fraternidade (Solidariedade), os poderes instalados só vibram com a Liberdade.
Mas onde andam a Igualdade, Fraternidade e a Solidariedade?
É que a Liberdade, anda de boca em boca, para: “explorar”… “oprimir” … “mentir”…“manipular”…
A mentira e manipulação são a hipócrita bandeira na lapela dos governantes.

Sendo um país diferente :
-muitos sonhos ficaram por realizar,

Que outra “guerra” ou outras “guerras” nos atormentam?

Há 41 anos cada família tinha um familiar na guerra, hoje cada família tem um ou mais familiares no desemprego. Voltámos a estar, de facto, noutra tenebrosa guerra.

Voltámos a estar em “guerra”.E sabemos onde estão os inimigos.

Estando muito diferentes de há 41 anos, estávamos longe de pensar, que absurdos e negativos indicadores e comportamentos dos governantes hoje nos colocariam numa bancarrota social e financeira, incentivada pelos especuladores agiotas e poderosos da banca e da finança internacional.

Quem nos conduz?

- A esta austeridade suicidária?
-Ao exacerbar da pobreza?
-À mais alta taxa de desemprego?
-Ao aumento e generalização da precariedade?
-À quebra dos salários, já dos mais baixos da União Europeia?
-À brutal redução das pensões dos reformados?
-À despudorada e injusta carga fiscal?
-Ao ataque ao direito ao trabalho digno?
-Ao ataque nunca visto ao Estado Social com a grave redução dos legítimos direitos na saúde, na segurança social, na educação e na justiça?

Com esta política, Portugal tem vindo a empobrecer e as desigualdades têm vindo a aumentar exponencialmente.



Que se passa?

Desde o operário ao licenciado o português é bom profissional em todo o mundo! Que nos fazem ou deixamos que nos façam em Portugal.

O 25 de Abril merece mais, merecia mais.
Merecia e merece outra Politica. Outra  politica à altura da grandeza da LIBERTAÇÃO de ABRIL.

Muitos políticos e sobretudo estes dos últimos 4 anos têm-se mostrado reféns e amarrados a várias grilhetas internas e externas:

a)-Dentro do País/Internamente, prisioneiros:

*-de uma cultura “de poder pelo poder” em vez “do poder pelas pessoas, pelas nossas gentes” e de uma cultura da mentira e da manipulação.

*-da criação de clientelas e de elites sôfregas por lugares ao sol…e que por aí vão propagando formas de estar e de vivência nada condizentes com o espírito de Abril.

*-pela incapacidade de desmontar uma intensa ofensiva ideológica levada a cabo pelos órgãos de comunicação.

*-da corrupção, da apropriação, assalto e esbulho aos bens, que supostamente deveriam estar ao serviço de todos os cidadãos, mas têm servido para a criação de coutadas geradoras de lucros e escandalosas remunerações e prémios anuais recordes do mundo .

*Reféns, pecado maior, do mando dos grupos financeiros e económicos nacionais, a cuja subordinação, esta nossa democracia já compete com os piores tempos da ditadura.

b)-Externamente,reféns

*-duma débil e falsa União Europeia que vive um forte desconserto, para satisfação das poderosos potentados económicos (um gigante de pés de barro) para onde partimos (em 1986) apenas com dez anos de democracia e com um estrondoso atraso estrutural económico (herdado da ditadura) que só por si merecia, como muitos avisaram, outro tipo de negociações, outras cautelas, leviana e festivamente, desprezadas.

*-da incapacidade de fazer valer os pontos de vista nacionais, submissos à abdicação e imposição que nos fragilizaram em sectores económicos vitais (como nas pescas, na indústria e na agricultura…) entre outras malfeitorias semelhantes.


*-de não perceber que as ditas crises financeiras resultam das crises do capitalismo e baseiam-se sempre na sobre-acumulação de capital na esfera da produção. E o objectivo é a redução do custo da força do trabalho.

*-de não compreender que com a continuação das politicas e dos comportamentos ,que teimosamente o Capital impõe ( perante o qual se têm vergado os responsáveis portugueses)…com a continuação dessas políticas o desemprego, a pobreza, e as contradições entre os estados-membros da U.E. irão aumentar, com graves consequências para os povos.

*-não entender que a escalada de ataques antipopulares atingirá todos os estados membros da U.E, porque o Capital Monopolista quer é reduzir o custo da força do trabalho, o seu objectivo fulcral é reforçar a competitividade não só em relação aos EUA, mas também em relação às forças emergentes como China, India e outras, com mão de obra muito mais baixa… a questão dos défices e dos endividamentos pode ser apenas e tão somente uma cortina de fumo…

Nada disto tem a ver com o que deu razão e motivou o 25 de Abril….
Tudo isto é contrário ao que aliança POVO-MFA queria, na alvorada libertadora…e afasta-se da Constituição mesmo com as sete alterações já impostas.

É essa política da contra-revolução - executada muitas vezes, demasiadas vezes, em frontal desrespeito pela Constituição da República,  fora da lei Fundamental do País e, de há quatro anos para cá, sob a batuta duma  troika ocupante e da submissão dum governo que não defende os nossos reais interesses,os interesses das pessoas.

É essa política de ódio a Abril que urge derrotar e substituir por um política de sentido oposto, logo inspirada nos valores de Abril.

Estamos a comemorar os 41 anos de Abril.
Por isso os comemoraremos em luta. Com a firme convicção de que é nos valores de Abril - nas suas conquistas políticas, sociais, económicas, culturais, civilizacionais - que se encontra a solução para os muitos e graves problemas criados  pelas políticas da contra-revolução internas e externas.

Em 25 de Abril quisemos que as pessoas, os portugueses participassem no futuro.
Fizemos pontes para o futuro.
O poder hoje instalado “quer fazer do amanhã pontes para o passado”.
Quer regredir aos tempos de antes da revolução francesa.
Quer o empobrecimento de todos nós para que um por cento mande em noventa e nove por cento da humanidade. A austeridade é apenas um instrumento duma estratégia. Querem que se caia num “feudalismo moderno”.

Não deixaremos.

Com a certeza de que a conquista de tal solução depende, no essencial, da luta dos trabalhadores e do povo.
Com os trabalhadores e o povo, com a intervenção organizada de todos os homens, mulheres e jovens identificados com os valores de Abril, conquistaremos um rumo novo para Portugal.

Abril vencerá! Porque Abril é o futuro.

Todos nós somos parte da solução.

Repetimos

Abril vencerá! Porque Abril é o futuro.


Manuel Duran Clemente,Coronel Ref.    25 de Abril de 2015

[Cap. de Abril]

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