25 de ABRIL/Sonho, Luta,
Revolução e Esperança (2015)
Voltámos a estar em guerra.
Houve 25 de Abril porque havendo ditadura,
colonização, opressão, obscurantismo, repressão, demagogia, isolamento…um
pesado policiamento das consciências. queríamos
ser Livres, estar…em PAZ, contribuir, com plena cidadania, para a construção do
nosso futuro…
Mas
Colonizados e
colonizadores, interna e externamente, também houve 25 de Abril porque quisemos acabar
com o infortúnio e cegueira duma guerra colonial.
Todos os
que não se sentiam bem…com este estado de coisas… fizeram o 25 de ABRIL.
Fomos
um só povo: europeus e africanos. Os do Norte e os do Sul, do Litoral e do
Interior:
A sentir em português o acto: REVOLTA...
A falar em português a
palavra: LIBERDADE...
A
guerra que travámos tinha várias espécies de “teatro de operações”:
……………………………………………………………………..
O teatro
de operações não era só em África, na guerra colonial…era em toda a parte
onde se lutava,
onde se trabalhava
onde se sofria,
onde se aprendia,
onde se conspirava
onde se crescia…
onde se queria um 25
de Abril.
A guerra em que nos meteram “Portugal uno e
indivisível “ isolou-nos ainda mais …Mas como há sempre verso e reverso, a
dialéctica encarregou-se de nos colocar contemporâneos com o rumo de mudança e de
concretizar o fim da ditadura opressiva de
quarenta
e oito anos e do colonialismo
atávico de quinhentos anos.
”Libertámo-nos”
duma prisão, dum isolamento e dum obscurantismo e, com os novos ventos da
História, quisemos enfunar as velas de velhos navegantes rumo à Paz, a
outra Amizade e Cooperação entre os povos.
E…só assim
foi possível o 25 de ABRIL…
Portugal redimiu-se numa noite e fez
surpreendentemente, dum conjunto de jovens militares, emergirem capitães e
outros quadros de carreira e milicianos, timoneiros do povo armado…mas também, sob
a égide dum povo unido, erguer uma das
mais belas alvoradas.
Nós militares, ano após ano, constatámos que
afinal o nosso inimigo não estava na mata tropical mas no Terreiro do Paço…Altas patentes militares e Governantes
mentiam-nos sem pudor.
E foi, paradoxalmente, com as contradições e
conhecimentos adquiridos nessa guerra e o clamor dos povos oprimidos em
Portugal e nas Colónias, que soubemos preparar com profissionalismo e
competência a tomada do poder.
(a
desenvolver pela importância que tiveram na nossa consciencialização):
[A democratização
nas Academias Militares: deixaram de ser 75 cadetes filhos de generais e gente
rica para passarem a ser 450 cadetes filhos do povo para aguentar a guerra
colonial que se iniciara, enquanto potencias mais ricas foram dando a independência
às suas colónias no pós-guerra e até aos anos sessenta.]
[A importância
e significado dos anos sessenta com a abertura nos espíritos dos cidadãos: o make
love-not war, beatles, lutas anti raciais, assassinatos de Kennedy, Luter King, o Black-Power,assassinatos
em massa de estudantes no México,as lutas estudantis ,o Maio 68 e outros
acontecimentos relevantes.]
[O efeito
boomerang da acção-psicológica feita pelos militares portugueses junto das
populações africanas ,do contacto com as quais,vínhamos convencidos de quem era
o inimigo: o dito Estado Novo, orgulhosamente só.]
[Fomos
capitães e porquê? Três ou mais comissões de guerra, comandantes da quadricula,
responsáveis pela segurança das tropas e das populações, fazendo de ”médicos”, ”enfermeiros”,
“padres”, e assegurando a alimentação e não só ,deram aos capitães muita força
moral e anímica para passar à acção.]
……………………..
Uma Alvorada libertadora, só por si, não faz uma
Revolução…mas há Alvoradas que as fazem.
Nesse dia,
há 41 anos, o 25 de Abril sendo um Golpe Militar, organizado, trabalhoso e
difícil, teve na estrondosa adesão popular a plataforma para um estado
superior : foi REVOLUÇÃO.
Ao povo, aos cidadãos… foi restituído o que era
deles e por isso eles acorreram: a tomar nas suas mãos o que lhe era pertença:
-nas instituições;
-nas fábricas;
-nos bairros;
-nas escolas;
-na terra…no campo…na serra.
………………………………………………………………………………
Hoje,
passados 41 anos, o Portugal Democrático não devia já ter nada a ver com o
Portugal da ditadura.
Não queremos nem podemos
branquear o fascismo
se nos últimos anos o 25 de Abril está a
ficar distante não confundamos os males
da ditadura salazarista:-a opressão, censura, o estrangulamento dos direitos
fundamentais com índices de analfabetismo
de 34%, de 37% de casas sem luz e de 53% de lares sem água….para além doutros
miseráveis indicadores como na mortalidade infantil, na reduzida assistência na
Saúde, numa pobre Educação pública, na repressão dos trabalhadores, dos estudantes
e opositores ao regime, na vergonhosa descriminação entre sexos, na abominável censura
e policia politica que prendia e matava, nos tribunais plenários com sentenças renováveis…..enfim,
os mais velhos sabem…não podemos confundir a crueldade de então com a crueldade dos dias de hoje. Hoje estes imberbes dizem que o país está
melhor mas as pessoas estão piores!!!
Os
desencantos de hoje e respectivas frustrações nada têm a ver com o 25 de Abril.
Os desencantos de hoje e respectivas frustrações
são fruto duma coligação de interesses e conjugação de factores internos e externos.
Às raízes antigas, outras se lhes vieram juntar.
Globalmente são resultado
da essência e natureza dum sistema predador:
-Responsável
pela miséria, pela fome e pela doença de milhões de seres humanos.
-Responsável
pela depauperação de países e pela pilhagem de continentes.
Chama-se: “capitalismo”,
com diversas alcunhas:
-neo-liberalismo,
-ultra-liberalismo global…
- simplesmente , “mercado ”.
Em
25 de Abril quisemos que as pessoas, os portugueses participassem no futuro.
Quem
deixou, quem permitiu (como e quando) que agora, nos dias de hoje, seja o
MERCADO e os seus tiranetes que mandem em nós ???
…………………………………………………………………………….
Há
anos que vimos afirmando que o sistema gera desumanas situações sócio-económicas,
onde os ricos tem ficado cada vez mais
ricos e os pobres, cada vez, mais pobres.
Há
muito que a economia social foi estrangulada
e a vertente financeira se sobrepõe
à vertente produtiva (economia real).
Anda a circular (no mundo) cinco vezes mais dinheiro virtual que o da real produção. Quem se amanha ?Os
especuladores e corruptos.
A
Banca, a especulação agiota, os jogos das troikas… dos Bilderbergs, do FMI, do BCEs …enfim da alta Finança a governar.
Esta é a essência da crise .
Infelizmente,
é-o, há muito.
E o que é que isto tem a
ver com o nosso 25 de Abril?? Perguntarão.
Tem
tudo a ver.
Para
nós Capitães de Abril, para a esmagadora maioria de nós, de todos nós, o
verdadeiro 25 de Abril assentava numa base programática (o programa do MFA) com
os direitos e os deveres do cidadão, dignos dum Estado-Social…e que, graças à luta dos progressistas, a
Constituição da República Portuguesa viria a consagrar, em letra, em 2 de Abril
de 1976.
Durante cerca de dois
anos o MFA e os governos provisórios produziram quase 200 diplomas (Leis, DL e
Portarias) que oficializaram as conquistas da Revolução…para alegria e satisfação popular.
Que País e que
Estado-Social temos, 41 anos depois?
Há 41 anos quisemos um país novo.
O
programa do MFA deu o mote: descolonizar,
democratizar e desenvolver. Ter PAZ, como necessidade intrínseca.
Tivemos muitos avanços e grandes recuos. Mas…
Dos
marcos da Revolução Francesa : Liberdade,
Igualdade e Fraternidade (Solidariedade), os poderes instalados só vibram
com a Liberdade.
Mas
onde andam a Igualdade, Fraternidade e a Solidariedade?
É que a Liberdade, anda de boca em boca, para:
“explorar”… “oprimir” … “mentir”…“manipular”…
A mentira e manipulação são a hipócrita bandeira
na lapela dos governantes.
Sendo um país diferente :
-muitos sonhos ficaram por realizar,
Que outra “guerra” ou outras “guerras” nos
atormentam?
Há 41 anos cada família tinha um familiar na
guerra, hoje cada família tem um ou mais familiares no desemprego. Voltámos a
estar, de facto, noutra tenebrosa guerra.
Voltámos a
estar em “guerra”.E
sabemos onde estão os inimigos.
Estando muito diferentes de há 41 anos, estávamos
longe de pensar, que absurdos e negativos indicadores e comportamentos dos
governantes hoje nos colocariam numa bancarrota social e financeira,
incentivada pelos especuladores agiotas e poderosos da banca e da finança
internacional.
Quem nos conduz?
- A esta austeridade suicidária?
-Ao exacerbar da pobreza?
-À mais alta taxa de desemprego?
-Ao aumento e generalização da precariedade?
-À quebra dos salários, já dos mais baixos da
União Europeia?
-À brutal redução das pensões dos reformados?
-À despudorada e injusta carga fiscal?
-Ao ataque ao direito ao trabalho digno?
-Ao ataque nunca visto ao Estado Social com a
grave redução dos legítimos direitos na saúde, na segurança social, na educação
e na justiça?
Com esta política, Portugal tem vindo a
empobrecer e as desigualdades têm vindo a aumentar exponencialmente.
Que se passa?
Desde o operário ao licenciado o português é bom
profissional em todo o mundo! Que nos fazem ou deixamos que nos façam em
Portugal.
O 25 de
Abril merece mais, merecia mais.
Merecia e merece outra Politica. Outra
politica à altura da grandeza da LIBERTAÇÃO de ABRIL.
Muitos políticos e sobretudo estes dos últimos 4
anos têm-se mostrado reféns e amarrados
a várias grilhetas internas e externas:
a)-Dentro
do País/Internamente, prisioneiros:
*-de uma cultura “de
poder pelo poder” em vez “do poder pelas pessoas, pelas nossas gentes” e de uma
cultura da mentira e da manipulação.
*-da criação de clientelas e de elites sôfregas por lugares
ao sol…e que por aí vão propagando formas de estar e de vivência nada
condizentes com o espírito de Abril.
*-pela incapacidade de desmontar uma intensa
ofensiva ideológica levada a cabo pelos órgãos de comunicação.
*-da corrupção, da apropriação, assalto e
esbulho aos bens, que supostamente deveriam estar ao serviço de todos os
cidadãos, mas têm servido para a criação de coutadas geradoras de lucros e
escandalosas remunerações e prémios anuais recordes do mundo .
*Reféns, pecado maior, do mando dos grupos
financeiros e económicos nacionais, a cuja subordinação, esta nossa democracia
já compete com os piores tempos da ditadura.
b)-Externamente,reféns
*-duma débil e falsa União Europeia que vive um
forte desconserto, para satisfação das poderosos potentados económicos (um
gigante de pés de barro) para onde partimos (em 1986) apenas com dez anos de
democracia e com um estrondoso atraso estrutural económico (herdado da
ditadura) que só por si merecia, como muitos avisaram, outro tipo de
negociações, outras cautelas, leviana e festivamente, desprezadas.
*-da incapacidade de fazer valer os pontos de
vista nacionais, submissos à abdicação e imposição que nos fragilizaram em
sectores económicos vitais (como nas pescas, na indústria e na agricultura…)
entre outras malfeitorias semelhantes.
*-de não perceber que as ditas crises
financeiras resultam das crises do capitalismo e baseiam-se sempre na
sobre-acumulação de capital na esfera da produção. E o objectivo é a redução do
custo da força do trabalho.
*-de não compreender que com a continuação das
politicas e dos comportamentos ,que teimosamente o Capital impõe ( perante o
qual se têm vergado os responsáveis portugueses)…com a continuação dessas
políticas o desemprego, a pobreza, e as contradições entre os estados-membros
da U.E. irão aumentar, com graves consequências para os povos.
*-não entender que a escalada de ataques
antipopulares atingirá todos os estados membros da U.E, porque o Capital Monopolista
quer é reduzir o custo da força do
trabalho, o seu objectivo fulcral é reforçar a competitividade não só em
relação aos EUA, mas também em relação às forças emergentes como China, India e
outras, com mão de obra muito mais baixa… a
questão dos défices e dos endividamentos pode ser apenas e tão somente uma
cortina de fumo…
Nada disto
tem a ver com o que deu razão e motivou o 25 de Abril….
Tudo isto é contrário ao que aliança POVO-MFA
queria, na alvorada libertadora…e afasta-se da Constituição mesmo com as sete
alterações já impostas.
É essa política da contra-revolução - executada muitas
vezes, demasiadas vezes, em frontal desrespeito pela Constituição da República,
fora da lei Fundamental do País e, de há
quatro anos para cá, sob a batuta duma troika ocupante e da submissão dum governo que
não defende os nossos reais interesses,os interesses das pessoas.
É essa
política de ódio a Abril que urge derrotar e substituir por um política de
sentido oposto, logo inspirada nos valores de Abril.
Estamos a comemorar os 41 anos de Abril.
Por isso os comemoraremos em luta. Com a firme
convicção de que é nos valores de Abril - nas suas conquistas políticas,
sociais, económicas, culturais, civilizacionais - que se encontra a solução
para os muitos e graves problemas criados
pelas políticas da contra-revolução internas e externas.
Em 25 de Abril quisemos que as pessoas, os
portugueses participassem no futuro.
Fizemos pontes para o futuro.
O poder hoje instalado “quer fazer do amanhã pontes para
o passado”.
Quer regredir aos tempos de antes da revolução
francesa.
Quer o empobrecimento de todos nós para que um por
cento mande em noventa e nove por cento da humanidade. A austeridade é apenas
um instrumento duma estratégia. Querem que se caia num “feudalismo moderno”.
Não
deixaremos.
Com a certeza de que a conquista de tal solução
depende, no essencial, da luta dos trabalhadores e do povo.
Com os
trabalhadores e o povo, com a intervenção organizada de todos os homens,
mulheres e jovens identificados com os valores de Abril, conquistaremos um rumo
novo para Portugal.
Abril
vencerá!
Porque Abril é o futuro.
Todos nós somos parte da solução.
Repetimos
Abril
vencerá!
Porque Abril é o futuro.
Manuel Duran Clemente ,Coronel Ref. 25 de Abril de 2015
[Cap. de Abril]
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