sábado, 3 de maio de 2014

” 25 DE ABRIL, há 40 anos… e hoje”







” 25 DE ABRIL, há 40 anos…”

“…queríamos ser Livres, ter Paz, contribuir, com plena cidadania, para a construção do nosso futuro.”
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No momento em que comemoramos o 40º aniversário do Dia da Liberdade, passo decisivo para a Revolução de Abril e para as suas conquistas históricas - que transformaram profunda e positivamente Portugal e constituíram a matriz da democracia mais avançada alguma vez existente no nosso País,


 saudamos fraternalmente,   
                                                 
todos os militares de Abril (oficiais, sargentos, praças e milicianos) que, na madrugada do dia 25 de Abril de 1974, dando sequência à longa resistência ao regime fascista, o derrubaram e restituíram a liberdade aos portugueses, pondo fim a quase meio século de opressão e repressão;
o movimento de resistentes e opositores antifascistas , incansáveis lutadores pela liberdade (alguns dos quais encontrando a morte), durante mais de quatro décadas;


e ao longo destes 40 anos que celebramos:

saudamos também:

o movimento operário e popular que, em aliança com o MFA, liquidou o regime fascista e os seus sustentáculos essenciais – os grande grupos monopolistas e os latifundiários –pondo a riqueza e a produção nacionais ao serviço dos interesses dos trabalhadores, do povo e de Portugal;

os governos provisórios, que tiveram como preocupação maior, nas políticas que executaram, o bem-estar dos trabalhadores e do povo –   em especial, os governos que tiveram à sua frente aquele que foi o único primeiro-ministro, até hoje, a identificar-se totalmente com os interesses de Portugal e da imensa maioria dos portugueses: o General Vasco Gonçalves, o eternamente lembrado Companheiro Vasco”;

o poder local democrático uma das mais significativas conquistas de Abril e um dos profícuos baluartes da participação do povo na Democracia real.

os deputados da Assembleia Constituinte que estoicamente lutaram para consagrar as conquistas da revolução na Constituição da República Portuguesa de 1976;

os trabalhadores que, nos últimos 38 anos, com grande coragem e determinação, têm feito frente à ofensiva das política de direita e das politicas neoliberais do grande capital contra Abril;

os jovens - a pensar nos quais nasceu o projecto de futuro que foi a Revolução de Abril -  dos quais depende em muito o futuro de Portugal e que  hoje constituem as primeiras vítimas da política anti-Abril das troikas;

os idosos e reformados que o actual poder transformou em alvo a abater na sua senda da quebra da coesão social e do empobrecimento geral do país;

as mulheres e  homens  que, de Norte a Sul do País, em iniciativas do mais diverso tipo, participam nas Comemorações Populares e assumem com essa participação o compromisso de prosseguir a luta pelos ideais e valores da Revolução de Abril.
                                                 
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Houve 25 de Abril porque havendo ditadura, guerra, colonização, opressão, isolamento, obscurantismo, demagogia, um pesado policiamento das consciências, queríamos ser Livres, ter Paz, contribuir, com plena cidadania, para a construção do nosso futuro.
Os capitães, os militares, anos após anos, foram descobrindo que o inimigo não estava na mata tropical mas no Terreiro do Paço. Altas patentes militares e Governantes mentiam sem pudor. Paradoxalmente foi com a experiência da guerra, que souberam preparar com profissionalismo e competência a tomada do poder.
Há 40 anos Portugal redimiu-se numa noite e fez surpreendentemente, dum conjunto de jovens militares, emergirem capitães, timoneiros do povo armado e sob a égide dum povo unido erguer a mais bela das alvoradas, ponto de partida para a Revolução, para um processo revolucionário que, na base da aliança Povo/MFA, viria a produzir as profundas transformações económicas, sociais, políticas e culturais que dariam origem à Democracia de Abril, consagrada na Constituição da República Portuguesa de 2 de Abril de 1976.
A Revolução de Abril, ao pôr fim à ditadura fascista, abriu o caminho à participação dos cidadãos na vida pública, ao desenvolvimento económico, social e cultural dizendo não ao oportunismo, à corrupção, aos interesses ilegítimos dos grupos financeiros e sim à justiça social, ao direito ao trabalho, ao emprego, à saúde, à educação, à habitação, à paz, a mais futuro.
O processo revolucionário foi um dos períodos mais belos e criativos da nossa história. As conquistas de Abril, entre o democratizar, descolonizar e desenvolver, preconizadas pelo Programa do MFA e aprofundadas pela aliança Povo-MFA, foram formalizadas por mais de duzentos diplomas legais, entre 1974 e 1976. (1)
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Pergunta-se, mas o que é que festejamos , nesta data?
As Conquistas da Revolução – conquistas políticas, económicas, sociais, culturais, civilizacionais – conduziram, desde logo, a significativas melhorias das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores e do povo e à definição de um projecto de progresso e desenvolvimento para Portugal. A par das liberdades democráticas – estas conquistadas pelo povo, nas ruas, através do seu exercício - o estabelecimento imediato do salário mínimo nacional, do aumento das pensões de reforma e de invalidez e do abono da família; o aumento dos salários e o congelamento dos salários superiores a 7 500 escudos; a generalização do direito a férias, com um subsídio equivalente ao salário; o congelamento dos preços e rendas dos prédios urbanos; os primeiros passos dados no sentido de assegurar, como direitos humanos fundamentais, o direito à Saúde e à Educação, que pelo seu conteúdo, marcaram de forma iniludível o sentido do processo em curso. E alguns indicadores e referências merecem ser sublinhados, por exemplo: a taxa de Analfabetismo era em 1974 de 34% é hoje inferior a 3 %,Lares sem luz eram 36% hoje andam pelos 0,2%,lares sem água de 53% passaram para menos de 1%,o SNS tornou-se uma realidade [hoje, fortemente atacado] ,triplicou o nº de Médicos por habitante, houve renovação e cobertura Hospitalar generalizada, a esperança de vida aumentou mais de 10 anos, a mortalidade infantil de 38 por mil passou para 3 por mil, os avanços na ciência ,inovação e investigação são prodigiosos tal como nas comunicações e acessos, a escola foi renovada, mais escola, melhor escola ,mais alunos inscritos e mais e melhores professores [ hoje, mais de 60.000 jovens licenciados ora desempregados e emigrando.]

Festejamos, aqueles 500 dias (do PREC) a que os detractores e inimigos da Revolução apelidaram de loucura …a loucura da Revolução de Abril.
«Loucura (como diz o revolucionário Coronel Varela Gomes) que foi epifania, que foi epopeia, que foi paixão e esperança, rasgar de horizontes, libertando mentes e medo; loucura que foi – e ficou sendo – interregno luminoso na apagada e vil tristeza da existência hodierna da Nação Portuguesa; que despertou o entusiasmo solidário e afectivo de multidões de homens e mulheres pelo mundo fora, saudando a coragem do desafio; loucura que fez tremer (de susto)  as elites lusitanas, em súplica permanente duma salvadora intervenção estrangeira, na postura agachada dos traidores e dos cobardes.»
«Ora, em contraste vindicativo com esses 500 dias de exaltação patriótica e alegria popular... Qual é o saldo dos 38 anos que se seguiram, com a governação exclusiva – virtual ditadura - dos partidos contra-revolucionários?»(Cit.JV.Gomes)

As Nacionalizações, a Reforma Agrária, a Descolonização - e a própria Constituição da República Portuguesa – afirmavam-se como pilar essencial da Revolução Portuguesa e do seu projecto de sociedade.
Apesar de aprovada e promulgada já depois da alteração da correlação de forças que levaria ao 25 de Novembro de 1975, a Constituição da República Portuguesa é um retrato fiel da revolução e, mesmo após as sete revisões a que foi submetida – todas elas roubando-lhe pedaços de Abril – permanece como referência essencial para os trabalhadores e o povo na sua luta contra a política de direita.
Tudo isso faz da defesa da Constituição um objectivo essencial da nossa luta, como alertou Vasco Gonçalves num texto produzido em 1977, numa altura em que as forças da contra-revolução disparavam raivosamente contra tudo o que cheirasse a Abril:
 «O essencial da Constituição Portuguesa está de acordo com as grandes transformações revolucionárias operadas no decurso do nosso processo revolucionário.
A essas transformações revolucionárias chamamos Conquistas da Revolução e uma delas é a própria Constituição (...) A defesa da Constituição Portuguesa é, portanto, a defesa das Conquistas da nossa Revolução»


Na sequência do gravoso ataque a essas mesmas conquistas da “Revolução dos Cravos” e à Constituição de Abril, um ataque com décadas de existência, após o 25 de Novembro do nosso descontentamento, e agravado nos últimos três anos com a invasão da “troika”, Portugal e os portugueses vivem hoje a pior situação política, económica, social e cultural após o 25 de Abril.
Os desencantos de hoje e respectivas frustrações nada têm a ver com o 25 de Abril. Não podemos branquear o fascismo.
Os desencantos de hoje e respectivas frustrações são fruto duma coligação de interesses e conjugação de factores internos e externos (*) a jusante da essência e natureza dum sistema predador responsável pela miséria, pela fome e pela doença de milhões de seres humanos. Chama-se: “capitalismo”, com as alcunhas de neoliberalismo, ultraliberalismo ou simplesmente “mercado”. O mesmo sistema que, com a mentira, a ganância e o virús mortal da austeridade, está hoje a destruir as Liberdades e as Democracias e perigosamente a lançar as bases do recrudescimento duma extrema – direita fascista/neo-nazi por diversos locais da Europa e do planeta.
Quem deixou, quem permitiu (como e quando?) que seja o “mercado” e seus tiranetes a mandar em nós?
Há anos que vimos afirmando que o sistema gera desumanas situações socioeconómicas, com uma aparente e ilusória contrapartida de progresso económico, onde os ricos têm ficado cada vez mais ricos e os pobres, cada vez, mais pobres.
A economia social foi estrangulada e a vertente financeira (especulação) sobrepõe-se à vertente produtiva (economia real).Esta é a essência da crise: A banca e a alta finança a comandar a política como antigamente, na ditadura derrubada. Só que agora com novos e sofisticados trunfos.
Foi assim, com este mando do “mercado”, a subserviência e trapaça destes governantes, nacionais e europeus, que se chegou a esta situação de crise nacional, europeia e internacional, pretendendo, os mandantes, curar as doenças com “remédios falsos” e insistindo na receita: a austeridade. Na mais completa e cega submissão aos números, no desprezo pela pessoa e pelas famílias, na mais grave recessão da economia, nas mais altas taxas de desemprego e pobreza, nos jovens empurrados para a emigração, na generalização da precariedade, na quebra dos salários e redução das pensões dos reformados, na despudorada e injusta carga fiscal, num feroz ataque ao direito ao trabalho, na grave contenção dos legítimos direitos na saúde, na segurança social, na educação e na justiça. Enfim, no firme ensejo de destruir por completo o Estado-Social construído à custa de décadas de lutas. No firme e planificado propósito de nos empobrecer.
Pobres e desempregados os portugueses ficam à mercê dos seus algozes.
Os três “DDD” do MFA foram vergonhosamente transformados em Desigualde, Desemprego, Desastre/Destruição.
Os diplomas dos governos revolucionários de Vasco Gonçalves defendiam e consolidavam os direitos básicos dos cidadãos. Hoje, ao invés, as leis que o mercado fabrica, as leis dos deslumbrados mandantes, subvertem e matam os direitos básicos dos trabalhadores e do povo.
Está na sua natureza, na natureza destes governantes e na sandice da sua demagogia oficial, sem vergonha, declarar: “a vida das pessoas está pior mas o país está melhor”. Que quer dizer isto? Até onde pode ir o desprezo pelas pessoas e o desconhecimento do país real?
E até onde vamos deixar ir esta afronta, esta violência?

Impõe-se derrubar este governo e suas políticas e recuperar a esperança que a madrugada libertadora nos trouxe retomando os seus valores fundamentais.
Queremos uma política que defenda o regime democrático, que edifique um Estado onde o trabalho, a solidariedade, a justiça, a educação e a cultura sejam pilares fundamentais, que coloquem o desenvolvimento da economia ao serviço das pessoas, das novas gerações e do futuro do País.
Assim como a descolonização, foi obra da luta de libertação dos povos, teremos de invocar novamente esse terceiro “D” para nos descolonizarmos da troika e do neoliberalismo com a bravura e luta dum povo soberano de há quase 900 anos.

No 40º aniversário desta data especial estamos certos que  estaremos – muitos, mas muitos mil - participando numa grande e calorosa festa de confraternização comemorativa e que será também forte protesto e a exigência da mudança necessária.

E também estamos contra a mistificação e hipocrisia de quem não merece comemorar Abril.E agora se faz de satisfeito! Hipócritas!
Que Abril poderão festejar quando todos os dias o pretendem matar e lhe dão facadas? O Abril deles não é o nosso.


Vamos ter eleições para o Parlamento Europeu a 25 de Maio. Urge reflectirmos sobre o significado destas eleições –as primeiras depois das troikas nos invadirem .Não queremos esta débil e falsa União Europeia (um gigante de pés de barro) para onde nos fizeram partir (em 1986) apenas com dez anos de democracia e com um estrondoso atraso estrutural económico, herdado da ditadura, (e ainda mais enfraquecido com o ataque à indústria,às pescas e à agricultura), o que só por si merecia, como muitos avisaram, outro tipo de negociações, outras cautelas, leviana e festivamente, desprezadas. É imprescindível que os deputados europeus saibam defender outra Europa. Urge votar nos que querem a mudança.Não ao voto em branco, não ao voto nulo. Urge votar contra o  inimigo.

Em 25 de Abril quisemos que as pessoas, os portugueses participassem no futuro.
Fizemos pontes para o futuro.
O poder hoje instalado “quer fazer do amanhã pontes para o passado”.
Quer regredir aos tempos de antes da revolução francesa.
Quer o empobrecimento de todos nós para que um por cento mande em noventa e nove por cento da humanidade. A austeridade é apenas um instrumento duma estratégia. Querem que se caia num “feudalismo moderno”.

Basta. Não deixaremos. Não ao conformismo. Não ao desânimo. O Povo Português não pode resignar-se e não se deixará vencer.

Estamos certos, o nosso 25 de Abril vencerá. Porque Abril é o Futuro.
25 de Abril, sempre!  

 Obrigado


M. Duran Clemente, Coronel ref.
Capitão de Abril, ex-autarca e associativista.    Abril de 2014


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