João
Varela Gomes
90
anos,muitos amigos
“Semente do nosso
Abril, germinando o cravo, Revolução”.
Querido
Amigo
É “preciso tempo para
nos tornarmos jovens”, alguém disse. Pois apesar dos teus 90 anos que hoje
comemoramos continuas viçoso guerreiro, militante por uma sociedade igualitária
e justa.Sempre o foste esse cavaleiro empunhando a lâmina da tua espada, com a
dimensão plana do nosso Alentejo e o seu punho representando a cruz das gentes
sofridas, na elevação da sua dignidade, tão profusamente por ti defendida!
Submissão,nunca.Nunca
soubeste o que é.
Camarada,companheiro,comandante.
Querido
Amigo.
“Semente do nosso
Abril,germinando cravos,Revolução”.É a tua vida.
Falar dela? Como?Se ela
fala por ti.
É a vossa vida: Maria
Eugénia e João Varela Gomes.Indissosiáveis.Vidas que falam por vós.
Nas batalhas que ambos travaram,
na dor e sofrimento,anos e anos, na incansável e indestrutível missão de libertar
Portugal do fascismo e do árduo combate aos ímpetos retrógrados e saudosistas
para dignificação das suas gentes agrilhoadas.
Mas vamos a alguns factos
relevantes.Depois de terem trabalhado afincadamente na candidatura de Humberto
Delgado em 1958, João Varela Gomes e Maria Eugénia (esta, fazendo a ligação entre militares e civis)
estiveram profundamente ligados à conspiração da Sé em 1959.
Precedendo, os
acontecimentos de Beja, em 1961, o então Capitão Varela Gomes e outros
oposicionistas, promovem uma candidatura para deputados à então Assembleia
Nacional.Pela forma hábil,como fez o pedido,Varela Gomes foi curiosamente
autorizada pelo próprio ditador. Na campanha, entre os empolgantes comícios
realizados no distrito de Lisboa, ficou célebre o comício realizado no Teatro
da Trindade, onde com toda a sua coragem e frontalidade incentivou os presentes à revolta, levando-os ao rubro.
No no final desse ano João
Varela Gomes foi o comandante militar no histórico assalto ao quartel de Beja,
na noite de passagem para o ano de 1962.Ferido gravemente, a acção revolucionária
não teve êxito. Entre a vida e a morte saiu vitorioso. Só seria julgado dois
anos depois, não em Tribunal Militar, mas no “tristemente célebre Plenário”, Tribunal
da Boa Hora ( primeiro caso na história da instituição militar). No seu
julgamento, faz um depoimento (previamente decorado) que só por si o define
como um homem de invulgar integridade e de amor à sua causa.Contra a vontade do
seu advogado,como disse Maria Eugénia em entrevista: «ele foi para tribunal instigar que outros fizessem o que eles tinham
feito. Instigar à revolta. E falou de Salazar de uma maneira que nem queiram
saber…foi uma coisa de arromba!» Condenado a seis anos de prisão maior,
quiseram lhe impor a lei especial, de contar por metade o tempo de reclusão
anterior/preventiva. Face aos apelos e
perante a visita do Papa, em 1967,acabaria por ser alterada esta disposição.A
sentença é cumprida: três anos, entre a Penitenciária e o Aljube (em Lisboa) -
sempre isolado, sempre vigiado - e os restantes três no Forte de Peniche. Nesse
julgamento, a seu lado, como ré, esteve também Maria Eugénia, condenada a 18
meses, que já cumprira, na prisão de Caxias, onde,instigada a denunciar,
resistiu estóicamente: à tortura de
sono, na sede da PIDE,e de imediato a três meses de isolamento, na referida prisão.Nunca
falou.
João Varela Gomes, no forte
de Peniche, onde esteve três anos, diz ter recebido dos seus companheiros de
prisão o melhor acolhimento ao que correspondeu com uma profunda admiração e enorme
respeito por eles. Sempre os viu como homens sérios,cultos e empenhados na
mesma luta e a padecer por ideais.Saiu
de Peniche em 1968,recebido pelos seus - mulher e filhos – no amanhecer dum dia
especial. Diz Maria Eugénia que lhe viu “verter
algumas lágrimas de comoção. Não era possível sair dali, dignamente, deixando
atrás de nós tanta gente a penar em condições duríssimas.”
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Iniciam nova fase.Com
quatro filhos menores. Tiveram a solidariedade de muitos e as dificuldades
inerentes de sustentar um família não pequena.Proibido de actividade política, João
varela Gomes vê Maria Eugénia encarregar-se dessa acção. Activista na Frente Patriótica
de Libertação Nacional e na Comissão
Nacional de Socorro aos Presos Políticos. A sua acção foi sempre de enorme
empenhamento e elevado dinamismo. Tendo participado na campanha eleitoral da
CDE em 1969, é presa pela PIDE durante uma semana, apenas por estar à procura
dos filhos numa manifestação.
Durante o ano de 1973 vêem os seus filhos ser presos pela PIDE: o
Paulo, com 20 anos, por um mês, por causa do 1º de Maio, as filhas de 16 e 17
anos, durante uma semana, além de uma delas (a mais nova) com a mãe serem
espancadas pela polícia de choque, num comício de campanha eleitoral na
S.N.B.A.
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A história de todo o
cidadão - como João Varela Gomes – homem e militar feito de frontalidade e
empenho na acção, de coragem, de honestidade intelectual e de dignidade de
carácter…de não quebrar, nem torcer -não
fica por aqui.
Chegados ao 25 de Abril
de 1974 João Varela Gomes é reintegrado, no Exército, com posto de Coronel.
Também aquilo que tinha
vivido,sofrido e proclamado -a incitação
à revolta- terá sido ouvido pelos capitães. Também as lutas antifascistas fizeram
parte da aprendizagem dos capitães de Abril.
“Sementes do nosso
Abril,germinando cravos,Revolução”.
Logo nos primeiros dias
de Liberdade recebendo ordens por escrito, de Rosa Coutinho, para coordenar o
desmantelamento da Legião Portuguesa.Nem começou a missão. O farisaico, membro
da JSN, Jaime Silvério Marques ,estupefactamente, manda-o prender !!!Começavam
as contradições no seio do MFA e logo tinha de atingir este alvo. Ainda
fez o passeio até à Trafaria .Não se consumou a prisão.Os capitães actuaram e
Dinis de Almeida trouxe-o de regresso.
Foi então criada em
Junho, na Chefia do Estado Maio General das FFAAs, a 5ª Divisão, com o fim
imediato de integrar os sete oficiais que constituíam a 1ª Comissão
Coordenadora do Programa do MFA. Vasco Gonçalves foi o seu primeiro chefe por
apenas um mês, porque toma conta do II Governo Provisório a 18 de Julho. Dentro
do EMGFA o Coronel Varela Gomes transitara para esta nova 5ª Divisão. Como
oficial de maior patente é Varela Gomes que assume, entre Julho e Outubro
“oficiosamente” o lugar de chefe desta
Divisão, seguindo-se lhe o Coronel Robin de Andrade e, mais tarde, o Comandante
Ramiro Correia, que desde Outubro de
1974, já na 5ª Divisão, coordenava e impulsionava as Campanhas de Dinamização
Cultural.
Nos seus 14 meses de
permanência, nesta estrutura,Varela Gomes, tem particular relevância, não só no
período em que está à frente da 5ª Divisão,
na organização e coordenação dos seus diversos sectores, como depois,segunda
figura hierárquica,vincando com a sua acção a marca do militar “intransigente na
defesa dos ideais de Abril e na defesa da Revolução”.
Alguns de nós militares
ou ex-militares ,aqui presentes, somos testemunhas vivas dessa sua pujança e seu dinamismo. Lá estava, sempre no seu “posto
de missão”. E quando necessário, nos momentos mais delicados do período revolucionário,
a sua intervenção e a da 5ª Divisão revelaram-se essenciais.Peculiar em defesa
de Abril e contra os inimigos deste.Aconteceu no 28 de Setembro, no 11 de Março
e no chamado Verão Quente…ou, mesmo ainda, no próprio, 25 de Novembro! Mas
convirá ouvir o que ,de seu próprio punho, João Varela Gomes escreveu no
preâmbulo do Livro Branco da 5ª Divisão, editado em 1984:
“…a 5ª Divisão foi um autêntico órgão revolucionário. …O mérito que porventura
houve foi o de, observando o fluir do movimento popular, tentar assegurá-lo,
defendê-lo, integrá-lo ao nível do poder militar.”
“…militares
de carreira ou em serviço temporário; sargentos, soldados e marinheiros;
funcionários civis; trabalhadores voluntários; intelectuais e artistas;
dedicações sem número; foram centenas, mais de mil, quantos fizeram a 5ªDivisão
e contribuíram para lhe moldar a sua singular feição revolucionária… resoluta,
como marcha para o combate ...”
“
…em igual medida, as centrais de desestabilização imperialistas nos
distinguiram como alvo a destruir. Prioritário. O mais perigoso. Essa distinção
a assumimos. Como título de honra. De tão elevada quota no quadro dos valores
revolucionários que, em sincera modéstia, a achamos imerecida.” (Citámos).
…………………………………………………………………………….
Sabemos como as
Revoluções - povo na rua e trabalhadores
participativos, com a esperança renascida num melhor futuro, empenhados e mais
felizes - são insuportáveis e intoleráveis para a burguesia e suas elites
acomodadas, sedentas de poder que logo se apressam a considerá-las – como a
bagunça na rua, a populaça efusiva, o desvario…mas muito (sobretudo) os seus
haveres e privilégios em risco.
Os nossos 19 meses (ou
500 dias) de período revolucionário, tão
caluniado pelos seus inimigos, são um dos tempos mais belos e ricos da nossa história.
É Varela Gomes quem o escreve “a gloriosa Revolução dos Cravos … é nossa, é de esquerda, é do povo
trabalhador, das pessoas decentes, honestas, cultas. Luta por um melhor futuro
para os desfavorecidos, por nascimento ou condição social.Não tem quaisquer
afinidades com as minorias exploradoras, nem com os desfrutadores de
privilégios abusivos, nem com fascistas ou filofascistas.”…” Mas não deixa de
ser curioso que até uma «troika», no
final de 1975, tenha lavrado um relatório (agora perdido!?) declarando o estado
de boa saúde económico/ financeira de Portugal” (Citámos).
Paradoxalmente, ou não,
esse período contém em si toda a dialéctica reaccionária de contra-revolução.
João V.Gomes apercebeu-se disso muito cedo e daí o seu combate e tentativa de
evitar que esta singrasse. Infelizmente a contra-revolução venceu. Terá
começado, tímida, travestida. Hoje, e há muito tempo, já se passeia engalanada e arrogante.
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Por isso, a saga do
nosso aniversariante e homenageado continua.
É sujeito a um mandato
de captura,para se entregar, emitido pelos vencedores do 25 de Novembro, na
qual se apela à própria população para denunciar o coronel Varela Gomes e
outros militares. Porque que crime?
O crime, esse,
fizeram-no os fautores do Novembro da nossa Primavera.
Feito com planeamento e ordens de missão contra a Revolução. Não foi um golpe
contra um golpe, como lhes soa bem, justificar. Foi um golpe contra a Revolução
concretizado pelos que, se deixaram seduzir, com maior ou menos grau de
percepção, pelo aparente sossego duma ilusória tranquilidade de um regime democrático
doente, em que o povo já não é quem mais ordena.
De acordo com os
ditames da sua consciência, Varela Gomes e outros militares (*), não tinham motivos
para se entregarem ao “restauracionado” novo poder.Tornam-se exilados políticos
da democracia de Abril.
Começa uma nova etapa
na vida deste lutador (novamente
acompanhado de Maria Eugénia). Foi assim durante quatro anos, primeiro em
Angola, onde, ainda teve a desventura de assistir à injusta prisão do saudoso e
inocente, camarada e companheiro, Costa Martins. Depois em Moçambique, onde,
para maior desgosto viveu, também, a trágica morte (por acidente) do não menos saudoso, camarada
e companheiro, Ramiro Correia, com sua mulher e um dos filhos.
Foi assim “Subitamente,
na clivagem do tempo”, (para utilizar o título de um poema deste), em cenário
de tragédia antiquíssima, solene, tão tremenda… que jamais a emoção deixará o
entendimento esquecer.
Regressou a Portugal em
1979.Nunca foi julgado, não obstante ter-lhe sido aplicada (a si e outros
militares) a pena, administrativa e ilegal, de passagem ao quadro de
complemento (a miliciano?!). O Tribunal Superior Administrativo demorou cinco
anos para anular semelhante aberração. Foi integrado, não sem peripécias
grotescas, em 1982, como Coronel mas Reformado!
Camarada,companheiro,comandante.João
Varela Gomes
Querido
Amigo.
Nasceste a 24 de Maio
de 1924. Uma vida cheia de anos, noventa anos cheios de vida.Citando alguém que
te faz justiça diremos: “De uma vida que escolheu o caminho da
coragem e da dignidade, ontem contra o fascismo, hoje contra a quietude
endémica, a indiferença e o cepticismo político e ideológico de uma democracia
que não hesitas em chamar filofascista. Com uma independência e uma
frontalidade a toda a prova, continuas o combate solitário, quase quixotesco,
através de textos livres, indignados, provocatórios, que teimam em furar o
cordão sanitário do politicamente correcto, da aceitação passiva de que não há
alternativa. Como este, que em jeito de homenagem aqui reproduzimos:”
«Mitos do Séc. XX – A
Democracia»
«Mito que remonta à governação
de Atenas Cidade, já lá vão 2500 anos»
« Mito ressuscitado no sec.
XVIII da era de Cristo pela emergente classe burguesa. Os amigos de Péricles
ressurrectos: les gens de bien, gente que tinha alguma coisa a perder. Mito que
ficou consubstanciado na Constituição dos EUA de 1777, nos ideais da Revolução Francesa,
no poder político exercido pela burguesia de então.»
«Assim, sim, exclamaram os
crédulos. Agora acabaram os abusos e privilégios da nobreza e do clero, o poder
será legitimado pelo povo em eleições, os mais aptos, ilustrados e honestos
desempenharão os cargos públicos que nunca mais serão ocupados por favoritismo,
razões de riqueza ou nascimento. Liberdade, Igualdade, Fraternidade. O mundo
civilizado convertido numa grande, feliz e próspera Atenas.»
«Em Portugal, o mito da
democracia também é fruto da época. Constituição de 1820, vitória liberal, etc.
Habitou os sonhos dos antifascistas neste século a findar, durante os cinquenta
anos salazarentos. Veio o 25 de Abril. E vieram ao assalto o Soares, seus pares
e outros exemplares. A desilusão é cruel.»
«Pelo mundo fora os
créditos do sistema democrático também estão pelas ruas da amargura. O
espertalhão de serviço cita Churchill (ou lá quem for): «A democracia é o pior
dos regimes, à excepção de todos os outros».
«Assim sossegam a
consciência para mais demagogia, mais entorses, promessas de socorrer os pobres
e desfavorecidos. Uma rábula de tal maneira desacreditada, que leva meio
eleitorado a abster-se de votar. O modelo democrático, tal como está implantado
no chamado mundo ocidental e vai sendo imposto aos países menos desenvolvidos,
constitui uma máquina bem oleada (lubrificada a dinheiro) para o exercício do
poder absoluto da burguesia capitalista. Embora o funcionamento do sistema
tenha vindo a degradar-se. A ferrugem – isto é, a corrupção – aparece a todos
os níveis. O modelo está esgotado, dizem uns. Está apodrecido, diz a voz do
povo. Mas não, dizem eles. Bastam uma reformazinhas, um rendimento mínimo, um
torneio de futebol. Dêem-nos ideias, dêem-nos ideias.»
«Perante a falência do
equilíbrio triangular, o sistema finge acreditar num 4º poder fiscalizador: a
imprensa. Agora englobando todos os modernos veículos da comunicação social,
incluindo a recentíssima Internet. Ora, todo o mundo sabe como os grandes
capitalistas se apoderaram dos meios de comunicação e informação à escala
planetária. A propaganda imperialista, a defesa dos interesses do capital cobre
todo o globo, atinge o mais remoto povoado nas montanhas. Os noticiários em
todos os países de todos os continentes abrem com a devida vénia às iniciativas
americanas, às actividades dos ícones da burguesia. Era a BBC, agora é a CNN a
referência universal. A aldeia global vem a revelar o mesmo espírito que a
aldeia paroquial. A imprensa livre, a expressão independente da opinião, fica
relegada para uma situação de semiclandestinidade. O quarto poder está
escravizado pelo poder capitalista. Mais um mito que se esvai.(…)» “Esta
Democracia filofascista” de João
Varela Gomes,edição de autor.
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Esta tem sido outra tua
forma de luta nos últimos trinta anos, publicando livros e artigos, divulgando,
esclarecendo, desmascarando, vincando sempre as tuas imorredouras
características de cáustico, mas tenaz e sério, combatente da liberdade.
Fomos mais longe do que
nos tínhamos comprometido.
Exigência da personagem
do homenageado. Exigência dos tempos actuais. Efectivamente a contra-revolução,
de braço dado com o sistema neo-liberal global, entrou no nosso processo como
um vírus, tem-se instalado no propósito de destruir as nossas conquistas de
Abril, as nossas conquistas da Revolução…De tal sorte, passados 40 anos, estaremos estupefactos. Como foi
possível isto ???E como bem dizes “Neste
40º aniversário – em ano de angústia e empobrecimento para milhões de
portugueses – impõe-se desfazer o equívoco/mistificação criado pela farsa das cerimónias oficiais de homenagem ao
25 de Abril. Qual 25 de Abril? »Aquele que foi destruído....pela raiva contra-revolucionária
em 25 Novembro 1975? Haja respeito por uma das páginas mais admiráveis na
história do Povo de Portugal”
…………………………………………………………………………..
Obrigado João Varela
Gomes pelo exemplo,mais um, que só pode revigorar a nossa coragem em prosseguir
a Luta. A luta em que hoje, os trabalhadores, a juventude, as mulheres e homens
de Abril, vão continuar a travar contra os que pretendem restaurar um caduco e tenebroso
passado.
No poema “Destino” do livro “Horas de Vidro” de Urbano Tavares Rodrigues,este diz o que se aplica inteiramente a ti «Trago na fonte/e estrela do fogo/da minha revolta/Nunca aceitaria qualquer tirania/nem a do dinheiro/nem a do mais justo ditador/nem a própria vida eu aceito.../tal como ela é/com todas as promessas/do amor e da juventude/e a parda doença/de envelhecer/a morte em cada dia/antecipada. Na mais lebrega alfurja/ou na cama de folhas macias/da floresta/da onde a chuva te adormeceu/há sempre um idamente de sol/cujos raios te penetram de/ventura/ao sonhares a palavra/liberdade.»
Parabéns João e Maria Eugénia.
Parabéns Paulo,Geninha, Maria da Luz e João António(lá onde estejas) por serem filhos de quem sois.
Parabéns
André,Pedro,Rita ,João e Tiago por serem netos de quem sois.
Parabéns Maria e Rafael por serem bisnetos de quem sois.
Parabéns Maria e Rafael por serem bisnetos de quem sois.
Parabéns a todos nós
por nos aceitares teus Amigos!
Sabemos como, na tua vida, te marcou o AMOR na acção,criação e perca.
Mas
nessas lutas-com derrotas e vitórias- foste sempre de corpo inteiro. É aí que,
na nossa memória, tu-Amigo João- já ascendeste
à eternidade e à imortalidade. Na memória dos que quiseste que fossem
teus queridos e teus amigos, na memória das tuas acções e da tua obra, no
desempenho pelo cimentar do nosso Abril da Liberdade.
Manuel
Duran Clemente
24 de Maio de 2014
(*) Saíram juntos ,em 9 de Janeiro de 1976, para Espanha a caminho do exílio em Madrid ,depois Havana e mais tarde em Luanda : Varela Gomes,Costa Martins e Duran Clemente.Aí encontraram mais militares refugiados.
(*) Saíram juntos ,em 9 de Janeiro de 1976, para Espanha a caminho do exílio em Madrid ,depois Havana e mais tarde em Luanda : Varela Gomes,Costa Martins e Duran Clemente.Aí encontraram mais militares refugiados.
São homens como este que não deixam morrer o sonho da liberdade e da justiça social. Obrigado Revolucionários do meu país. Parabéns querido amigo do nosso povo João Varela Gomes pela sua bonita idade e pelo seu bonito exemplo de vida.
ResponderEliminarPor quanto acima pudemos ler, pela grata admiração que nos merecem os sacrificados e corajosos antifascistas
ResponderEliminarmais nos dói, este sono, esta anestesia de um Povo, que viu vencida a escuridão e o mutismo, que volta a cair sobre o Povo, deixando Portugal
afundar-se na lama e das Guerras Coloniais,de que o libertaram,Abril e seus Capitães e o oceano de gente, que saindo para a rua, o medo vencido, gritavam,de uma vez, todas as verdades amordaçadas durante o horror desses 48 anos,em que a própria Igreja, silenciava os crimes cometidos contra os valorosos antifascistas
E hoje,nas novas gerações, alguém se vai erguer consciente de que se deixar o fascismo fermentar de novo, podem estar certos, que essa cobardia, vão ter que a pagar, com miséria, que já avança e com as humilhações, que não deixarão de vir temperar o magro pão que terão que ganhar a preço de sangue!
!Um imenso abraço, carregado de estima e respeito a esta Família, que sacrificou o seu bem-estar para reerguer Portugal e seu Povo, à altura da Luz e da Dignidade com a Verdade das conquistas de Abril
AVENIDA
Este poema foi escrito há vinte e tal nos, este poema nao é um poema escrito, é um poema falado, portanto a escrita, tem nele pouca importância
poema falado, poema dito, aí ele encontra a sua dimensão, e porque o disse em publico muita vez, sei o alcance que encontra nos corações que o ouvem, e o resultado que neles provoca
mas como evitar que se perca de todos, senão escrevendo
este poema era dito por mim, quase cantando, de mãos nas algibeiras, cabeça provocantemente erguida, em ar de desafio, como se dito por garoto rufia.
Avenida
Fui ainda há pouco a Lisboa
pensando matar saudades
a vida nao se fez boa
a quem fugiu prás cidades
As saudade nao se matam
porque logo nascem mais
mas as vozes nos desatam
e fazem de nós pardais
Estou na Baixa, e os meus olhos
nao vêem prédios nem chão
so vêm dor, mar d'escolhos
a esbarrar na multidão
Lá anda gente a correr
pela vida aos tropeções
lá estão outros a vender
miséria em sonho aos milhões
O pobre pé, descalçado
não incomoda ninguém
tão visto já, resfriado
e nascido de uma mãe !!!
Não me quero ir já embora
tenho ainda muito que ver
mesmo que me doa agora
eu não me quero esquecer
Que se nascemos com olhos
é para ver as montanhas
de injustiças e de abrolhos
que ao homem rasga as entranhas
Lá vai o miúdo roto
leva as mãos nas algibeiras
com ar gaiato e maroto
dizendo duas asneiras
Mas dentro, lá bem no fundo
andam versos a nascer
e é por ser filho do mundo
que anda por aí a sofrer
Que essas palavras que larga
a desafiar a populaça
sao feitas da dor amarga
que mesmo pequeno passa
E agora aqui ao lado
esta um ceguinho a tocar
a pensar também que é fado
andar com fome a cantar
agora... aqui vou eu....
aqui está Martim Moniz
quanta gente a quem mordeu
outra rica, má feliz!
e os meus passos no dia
feito da noite brutal
vão comendo poesia
no homem que vive mal
Enquanto sigo dorida
a olhar o temporal
vou subindo a Avenida
mas firme, no vendaval!!
Já cheguei ao Intendente
e por entre a gente séria
quanta infeliz que mal sente
que não tem mais que miséria
Ai ó senhoras honradas
que me apetece insultar
as vidas despedaçadas
nascem do vosso luxar
Ás que passam sem sentir
por quem chora como nós!
se passarem a sorrir
as mais perdidas sois vós!!
Porque quem vive diferente
se a porta não viu fechada
prá vida passar decente
não lhe custou mesmo nada!
São filhas da noite escura
dum estado podre de velho
e esta ferida que ainda dura
é o seu mais fiel espelho
Mais uns passos, finalmente
eis chego à Praça do Chile
ó povo depressa ó gente
façamos mais um Abril!!!
Marília Gonçalves