AGRADECIMENTO
22.Fev.2014 VOZ DO OPERÁRIO
1.-Deixai que me dirija em primeiro lugar à Direcção e restantes membros dos órgãos sociais desta casa para lhes dar os parabéns pelos 131 anos de vida da Voz do Operário.
Cento e trinta e um anos de sucesso ao serviço da educação e
da cultura, do movimento associativo e do desporto, pugnando pela dignificação
e elevação dos trabalhadores e dos seus associados.
É com grande satisfação, estamos certos, que aqui juntos, –
militantes da liberdade, da solidariedade e do progresso – comemoramos esta
efeméride e o seu digno e elevado significado.
A propósito da homenagem e do momento em que fui avisado.
Fiquei inquieto (e ainda estou) mas como poderia furtar-me a
tão delicada honra quando outros valores se erguem em seu redor. Muito obrigado.
Confesso que sobre o meu papel, no arranque para o 25 de
Abril e no desenvolvimento da revolução, até hoje, tem-me norteado a coerência “irrequieta”
e a recordação, sempre presente, das minhas origens e da formação adquirida
para uma permanente luta por uma sociedade mais livre e igualitária, justa e
solidária.
Mas por não estar sozinho nessa peleja, não posso deixar de
vos dizer, que se aqui sou homenageado recebo a vossa decisão sem hipocrisia e
falsa modéstia, porque aceito convosco e vos agradeço representar tantos mil - de Abril - que muitas lutas
travaram e que em luta continuam.
Tantos mil do Abril que vencerá, porque Abril é o futuro.
Só assim me sentirei bem comigo e convosco. Convosco
comungando memórias e tradições e reflectindo sobre os tão inquietantes
momentos da Democracia Portuguesa e do Povo Português! Do desconserto da
humanidade, enfim do mundo!
2.-Aos presentes militantes de Abril e
antifascistas, à minha companheira e filhos, familiares, amigos e camaradas,
militares de Abril e outros militares igualmente lutadores, antigos camaradas
autarcas, antigos companheiros dos Pupilos do Exército/”Quere é Poder” e
companheiros da Associação Conquistas da Revolução…o nosso abraço e o nosso
bem-haja pelo prazer e significado em ter-vos aqui.
3.-Mas se me permitem a “personalidade
de mérito reconhecido” indubitavelmente merecedora de homenagem, e este ano
ainda mais que nunca, só pode chamar-se “25
de Abril e o acto de libertação do heroico povo português” -encarnada num
dos seus, de muitos fautores - dos quais me apetece salientar, de entre os
militares coerentes, já falecidos, Vasco Gonçalves (o nosso Primeiro-ministro
da Revolução e o mais insigne capitão de Abril), Rosa Coutinho, Costa Martins,
Salgueiro Maia, Ramiro Correia, Nápoles Guerra, Rosário Dias, Bouzas Serrano ….
e ainda, dos vivos, Varela Gomes, V.Costa Santos, José Emílio da Silva, Vicente
da Silva e outros militares de Abril da minha geração–praças, cabos, sargentos
e oficiais (e também milicianos).Nós comandámos mas sem estes nada se faria. E dos
antifascistas civis, lutadores, perseguidos, presos torturados, persistentes
combatentes como esquecer e não nomear Álvaro Cunhal, e o seu partido, na luta
de décadas rumo à victória da liberdade e da dignidade do Povo Português e bem
assim outros compatriotas, de vários quadrantes políticos , levantados do chão,
lutando e resistindo? Por isso e acedendo ao pedido não posso deixar de evocar
“o 25 de Abril”, a revolução, os
seus quarenta anos e a actual situação. Não vou maçar-vos com longa
dissertação. Todos aqui temos memória e consciência.
Houve 25 de Abril porque havendo ditadura, colonização,
opressão, isolamento, obscurantismo, demagogia, um pesado policiamento das
consciências, queríamos ser Livres, ter
Paz, contribuir, com plena cidadania, para a construção do nosso futuro.
Os capitães, os militares, anos
após anos, foram descobrindo que o inimigo não estava na mata tropical mas no
Terreiro do Paço. Altas patentes militares e Governantes mentiam sem pudor.
Paradoxalmente foi com a experiência da guerra, que souberam preparar com
profissionalismo e competência a tomada do poder.
Há 40 anos Portugal redimiu-se numa
noite e fez surpreendentemente, dum conjunto de jovens militares, emergirem
capitães, timoneiros do povo armado e sob a égide dum povo unido
erguer a mais bela das alvoradas, ponto de partida para a Revolução,
para um processo revolucionário que, na base da aliança Povo/MFA, viria a
produzir as profundas transformações económicas, sociais, políticas e culturais
que dariam origem à Democracia de Abril, consagrada na Constituição da
República Portuguesa de 2 de Abril de 1976.
A Revolução de Abril, ao pôr fim à ditadura fascista, abriu o
caminho à participação dos cidadãos na vida pública, ao desenvolvimento
económico, social e cultural dizendo não ao oportunismo, à corrupção, aos
interesses ilegítimos dos grupos financeiros e sim à justiça social, ao direito
ao trabalho, ao emprego, à saúde, à educação, à habitação, à paz, a mais
futuro.
4.-O processo revolucionário foi um dos períodos mais belos e
criativos da nossa história. As conquistas de Abril, entre o democratizar,
descolonizar e desenvolver, preconizadas pelo Programa do MFA e aprofundadas
pela aliança Povo-MFA, foram formalizadas por mais de duzentos diplomas legais,
entre 1974 e 1976.
No entanto e na sequência do gravoso ataque a essas mesmas conquistas
da “Revolução dos Cravos”, um ataque com décadas de existência, após o 25 de Novembro
do nosso descontentamento, e agravado nos últimos três anos com a invasão da “troika”,
Portugal e os portugueses vivem hoje a pior situação política, económica,
social e cultural após o 25 de Abril.
Os desencantos de hoje e respectivas frustrações nada têm a
ver com o 25 de Abril. Os desencantos de hoje e respectivas frustrações são
fruto duma coligação de interesses e conjugação de factores internos e externos a
jusante da essência e natureza dum sistema predador responsável pela miséria,
pela fome e pela doença de milhões de seres humanos. Chama-se: “capitalismo”, neoliberalismo, ultraliberalismo ou
simplesmente “mercado”. O mesmo
sistema que, com a mentira, a ganância e o virús mortal da austeridade, está
hoje a destruir as Liberdades e as Democracias e perigosamente a lançar as
bases do recrudescimento duma extrema – direita fascista por diversos locais da
Europa e do planeta.
Quem deixou, quem permitiu (como e quando?) que seja o
“mercado” e seus tiranetes a mandar em nós? Há anos que vimos afirmando que o sistema gera desumanas
situações socioeconómicas, com uma aparente e ilusória contrapartida de
progresso económico, onde os ricos têm
ficado cada vez mais ricos e os pobres, cada vez, mais pobres.
A economia social foi estrangulada
e a vertente financeira (especulação)
sobrepõe-se à vertente produtiva
(economia real).Esta é a essência da crise:
A banca e a alta finança a comandar a política como antigamente, na ditadura
derrubada. Só que agora com novos trunfos.
Foi assim, com este mando do “mercado”, a subserviência e
trapaça destes governantes, nacionais e europeus, que se chegou a esta situação
de crise nacional, europeia e internacional pretendendo, os mandantes, curar as
doenças com “remédios falsos” e insistindo na receita: *completa e cega
submissão aos números, *desprezo pela pessoa e famílias, *austeridade geradora
de recessão da economia, * as mais altas taxas de desemprego e pobreza, *jovens
empurrados para a emigração, *generalização da precariedade, *quebra dos
salários e redução das pensões dos reformados, *despudorada e injusta carga
fiscal, *feroz ataque ao direito ao trabalho, *grave contenção dos legítimos
direitos na saúde, na segurança social, na educação e na justiça. Enfim, firme
ensejo de destruir por completo o Estado-Social construído à custa de intensas
lutas de tantos anos.
Os diplomas dos governos revolucionários de Vasco Gonçalves defendiam
e consolidavam os direitos básicos dos cidadãos. Hoje, ao invés, as leis do
mercado e as leis dos mandantes, subvertem e matam os direitos básicos dos
trabalhadores e do povo.
Mas está na natureza destes governantes e na sandice da sua
demagogia oficial, sem vergonha, declarar: “a vida das pessoas não está
melhor mas o país está melhor”. Até onde pode ir o desprezo pelas
pessoas e o desconhecimento do país real? Até onde vamos deixar ir esta afronta,
esta violência?
Impõe-se derrubar este
governo e suas políticas e recuperar a esperança que a madrugada libertadora
nos trouxe, retomando os seus valores.
Queremos uma política
que defenda o regime democrático, que edifique um Estado onde o trabalho, a solidariedade, a justiça
e a cultura sejam pilares
fundamentais, que coloque o desenvolvimento da economia ao serviço das pessoas,
das novas gerações e do futuro do País.
Assim como a
descolonização, foi obra da luta de libertação dos povos, teremos de invocar
novamente esse terceiro “D” para nos descolonizarmos
da
troika e do neoliberalismo com a bravura e luta dum povo
soberano de há quase 900 anos.
No 40º aniversário desta data especial estamos certos que lá
estaremos – muitos, mas muitos mil - participando numa grande e calorosa festa
de confraternização comemorativa e que será também forte protesto e a exigência da mudança
necessária. O Povo Português não pode resignar-se e não se deixará vencer.
Estamos certos, o nosso 25 de Abril vencerá.
Porque Abril é o Futuro.
25 de Abril, sempre!
Obrigado
M.Duran Clemente
Parabéns. Pela merecida homenagem e pela bela intervenção.
ResponderEliminarAbraço e Obrigado Raimundo.
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