sábado, 24 de maio de 2014

João Varela Gomes 90 anos,muitos amigos

João Varela Gomes   
90 anos,muitos amigos
“Semente do nosso Abril, germinando o cravo, Revolução”.


















Camarada,companheiro,comandante
Querido Amigo


É “preciso tempo para nos tornarmos jovens”, alguém disse. Pois apesar dos teus 90 anos que hoje comemoramos continuas viçoso guerreiro, militante por uma sociedade igualitária e justa.Sempre o foste esse cavaleiro empunhando a lâmina da tua espada, com a dimensão plana do nosso Alentejo e o seu punho representando a cruz das gentes sofridas, na elevação da sua dignidade, tão profusamente por ti defendida!
Submissão,nunca.Nunca soubeste o que é.

Foste sempre aquele/ que nos mostrou/a urgência do sonho…e a liberdade.

Camarada,companheiro,comandante.
Querido Amigo.

“Semente do nosso Abril,germinando cravos,Revolução”.É a tua vida.
Falar dela? Como?Se ela fala por ti.
É a vossa vida: Maria Eugénia e João Varela Gomes.Indissosiáveis.Vidas que falam por vós.
Nas batalhas que ambos travaram, na dor e sofrimento,anos e anos, na incansável e indestrutível missão de libertar Portugal do fascismo e do árduo combate aos ímpetos retrógrados e saudosistas para dignificação das suas gentes agrilhoadas.
Mas vamos a alguns factos relevantes.Depois de terem trabalhado afincadamente na candidatura de Humberto Delgado em 1958, João Varela Gomes e Maria Eugénia (esta,  fazendo a ligação entre militares e civis) estiveram profundamente ligados à conspiração da Sé em 1959.
Precedendo, os acontecimentos de Beja, em 1961, o então Capitão Varela Gomes e outros oposicionistas, promovem uma candidatura para deputados à então Assembleia Nacional.Pela forma hábil,como fez o pedido,Varela Gomes foi curiosamente autorizada pelo próprio ditador. Na campanha, entre os empolgantes comícios realizados no distrito de Lisboa, ficou célebre o comício realizado no Teatro da Trindade, onde com toda a sua coragem e frontalidade incentivou os presentes à revolta, levando-os ao rubro.
No no final desse ano João Varela Gomes foi o comandante militar no histórico assalto ao quartel de Beja, na noite de passagem para o ano de 1962.Ferido gravemente, a acção revolucionária não teve êxito. Entre a vida e a morte saiu vitorioso. Só seria julgado dois anos depois, não em Tribunal Militar, mas no “tristemente célebre Plenário”, Tribunal da Boa Hora ( primeiro caso na história da instituição militar). No seu julgamento, faz um depoimento (previamente decorado) que só por si o define como um homem de invulgar integridade e de amor à sua causa.Contra a vontade do seu advogado,como disse Maria Eugénia em entrevista: «ele foi para tribunal instigar que outros fizessem o que eles tinham feito. Instigar à revolta. E falou de Salazar de uma maneira que nem queiram saber…foi uma coisa de arromba!» Condenado a seis anos de prisão maior, quiseram lhe impor a lei especial, de contar por metade o tempo de reclusão anterior/preventiva.  Face aos apelos e perante a visita do Papa, em 1967,acabaria por ser alterada esta disposição.A sentença é cumprida: três anos, entre a Penitenciária e o Aljube (em Lisboa) - sempre isolado, sempre vigiado - e os restantes três no Forte de Peniche. Nesse julgamento, a seu lado, como ré, esteve também Maria Eugénia, condenada a 18 meses, que já cumprira, na prisão de Caxias, onde,instigada a denunciar, resistiu estóicamente:  à tortura de sono, na sede da PIDE,e de imediato a três meses de isolamento, na referida prisão.Nunca falou.
João Varela Gomes, no forte de Peniche, onde esteve três anos, diz ter recebido dos seus companheiros de prisão o melhor acolhimento ao que correspondeu com uma profunda admiração e enorme respeito por eles. Sempre os viu como homens sérios,cultos e empenhados na mesma luta  e a padecer por ideais.Saiu de Peniche em 1968,recebido pelos seus - mulher e filhos – no amanhecer dum dia especial. Diz Maria Eugénia que lhe viu “verter algumas lágrimas de comoção. Não era possível sair dali, dignamente, deixando atrás de nós tanta gente a penar em condições duríssimas.”
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Iniciam nova fase.Com quatro filhos menores. Tiveram a solidariedade de muitos e as dificuldades inerentes de sustentar um família não pequena.Proibido de actividade política, João varela Gomes vê Maria Eugénia encarregar-se dessa acção. Activista na Frente Patriótica de Libertação Nacional e  na Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos. A sua acção foi sempre de enorme empenhamento e elevado dinamismo. Tendo participado na campanha eleitoral da CDE em 1969, é presa pela PIDE durante uma semana, apenas por estar à procura dos filhos numa manifestação.
Durante o ano de 1973  vêem os seus filhos ser presos pela PIDE: o Paulo, com 20 anos, por um mês, por causa do 1º de Maio, as filhas de 16 e 17 anos, durante uma semana, além de uma delas (a mais nova) com a mãe serem espancadas pela polícia de choque, num comício de campanha eleitoral na S.N.B.A. 
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A história de todo o cidadão - como João Varela Gomes – homem e militar feito de frontalidade e empenho na acção, de coragem, de honestidade intelectual e de dignidade de carácter…de não quebrar, nem torcer -não fica por aqui.
Chegados ao 25 de Abril de 1974 João Varela Gomes é reintegrado, no Exército, com posto de Coronel.
Também aquilo que tinha vivido,sofrido e proclamado -a incitação à revolta- terá sido ouvido pelos capitães. Também as lutas antifascistas fizeram parte da aprendizagem dos capitães de Abril.
“Sementes do nosso Abril,germinando cravos,Revolução”.
Logo nos primeiros dias de Liberdade recebendo ordens por escrito, de Rosa Coutinho, para coordenar o desmantelamento da Legião Portuguesa.Nem começou a missão. O farisaico, membro da JSN, Jaime Silvério Marques ,estupefactamente, manda-o prender !!!Começavam as contradições no seio do MFA e logo tinha de atingir este alvo. Ainda fez o passeio até à Trafaria .Não se consumou a prisão.Os capitães actuaram e Dinis de Almeida trouxe-o de regresso.
Foi então criada em Junho, na Chefia do Estado Maio General das FFAAs, a 5ª Divisão, com o fim imediato de integrar os sete oficiais que constituíam a 1ª Comissão Coordenadora do Programa do MFA. Vasco Gonçalves foi o seu primeiro chefe por apenas um mês, porque toma conta do II Governo Provisório a 18 de Julho. Dentro do EMGFA o Coronel Varela Gomes transitara para esta nova 5ª Divisão. Como oficial de maior patente é Varela Gomes que assume, entre Julho e Outubro “oficiosamente” o lugar de  chefe desta Divisão, seguindo-se lhe o Coronel Robin de Andrade e, mais tarde, o Comandante Ramiro Correia,  que desde Outubro de 1974, já na 5ª Divisão, coordenava e impulsionava as Campanhas de Dinamização Cultural.
Nos seus 14 meses de permanência, nesta estrutura,Varela Gomes, tem particular relevância, não só no período  em que está à frente da 5ª Divisão, na organização e coordenação dos seus diversos sectores, como depois,segunda figura hierárquica,vincando com a sua acção a marca do militar “intransigente na defesa dos ideais de Abril e na defesa da Revolução”.
Alguns de nós militares ou ex-militares ,aqui presentes, somos testemunhas vivas dessa sua pujança e  seu dinamismo. Lá estava, sempre no seu “posto de missão”. E quando necessário, nos momentos mais delicados do período revolucionário, a sua intervenção e a da 5ª Divisão revelaram-se essenciais.Peculiar em defesa de Abril e contra os inimigos deste.Aconteceu no 28 de Setembro, no 11 de Março e no chamado Verão Quente…ou, mesmo ainda, no próprio, 25 de Novembro! Mas convirá ouvir o que ,de seu próprio punho, João Varela Gomes escreveu no preâmbulo do Livro Branco da 5ª Divisão, editado em 1984:
“…a 5ª Divisão foi um autêntico órgão revolucionário. …O mérito que porventura houve foi o de, observando o fluir do movimento popular, tentar assegurá-lo, defendê-lo, integrá-lo ao nível do poder militar.”
“…militares de carreira ou em serviço temporário; sargentos, soldados e marinheiros; funcionários civis; trabalhadores voluntários; intelectuais e artistas; dedicações sem número; foram centenas, mais de mil, quantos fizeram a 5ªDivisão e contribuíram para lhe moldar a sua singular feição revolucionária… resoluta, como marcha para o combate ...”
“ …em igual medida, as centrais de desestabilização imperialistas nos distinguiram como alvo a destruir. Prioritário. O mais perigoso. Essa distinção a assumimos. Como título de honra. De tão elevada quota no quadro dos valores revolucionários que, em sincera modéstia, a achamos imerecida.” (Citámos).
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Sabemos como as Revoluções -  povo na rua e trabalhadores participativos, com a esperança renascida num melhor futuro, empenhados e mais felizes - são insuportáveis e intoleráveis para a burguesia e suas elites acomodadas, sedentas de poder que logo se apressam a considerá-las – como a bagunça na rua, a populaça efusiva, o desvario…mas muito (sobretudo) os seus haveres e privilégios em risco.
Os nossos 19 meses (ou 500 dias)  de período revolucionário, tão caluniado pelos seus inimigos, são um dos tempos mais belos e ricos da nossa história. É Varela Gomes quem o escreve  “a gloriosa Revolução dos Cravos é nossa, é de esquerda, é do povo trabalhador, das pessoas decentes, honestas, cultas. Luta por um melhor futuro para os desfavorecidos, por nascimento ou condição social.Não tem quaisquer afinidades com as minorias exploradoras, nem com os desfrutadores de privilégios abusivos, nem com fascistas ou filofascistas.”…” Mas não deixa de ser curioso que  até uma «troika», no final de 1975, tenha lavrado um relatório (agora perdido!?) declarando o estado de boa saúde económico/ financeira de Portugal” (Citámos).
Paradoxalmente, ou não, esse período contém em si toda a dialéctica reaccionária de contra-revolução. João V.Gomes apercebeu-se disso muito cedo e daí o seu combate e tentativa de evitar que esta singrasse. Infelizmente a contra-revolução venceu. Terá começado, tímida, travestida. Hoje, e há muito tempo, já se  passeia engalanada e arrogante.
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Por isso, a saga do nosso aniversariante e homenageado continua.
É sujeito a um mandato de captura,para se entregar, emitido pelos vencedores do 25 de Novembro, na qual se apela à própria população para denunciar o coronel Varela Gomes e outros militares. Porque que crime?
O crime, esse, fizeram-no os fautores do Novembro da nossa Primavera. Feito com planeamento e ordens de missão contra a Revolução. Não foi um golpe contra um golpe, como lhes soa bem, justificar. Foi um golpe contra a Revolução concretizado pelos que, se deixaram seduzir, com maior ou menos grau de percepção, pelo aparente sossego duma ilusória tranquilidade de um regime democrático doente, em que o povo já não é quem mais ordena.
De acordo com os ditames da sua consciência, Varela Gomes e outros militares (*), não tinham motivos para se entregarem ao “restauracionado” novo poder.Tornam-se exilados políticos da democracia de Abril.
Começa uma nova etapa na vida deste  lutador (novamente acompanhado de Maria Eugénia). Foi assim durante quatro anos, primeiro em Angola, onde, ainda teve a desventura de assistir à injusta prisão do saudoso e inocente, camarada e companheiro, Costa Martins. Depois em Moçambique, onde, para maior desgosto viveu, também, a trágica morte  (por acidente) do não menos saudoso, camarada e companheiro, Ramiro Correia, com sua mulher e um dos filhos.
Foi assim “Subitamente, na clivagem do tempo”, (para utilizar o título de um poema deste), em cenário de tragédia antiquíssima, solene, tão tremenda… que jamais a emoção deixará o entendimento esquecer.
Regressou a Portugal em 1979.Nunca foi julgado, não obstante ter-lhe sido aplicada (a si e outros militares) a pena, administrativa e ilegal, de passagem ao quadro de complemento (a miliciano?!). O Tribunal Superior Administrativo demorou cinco anos para anular semelhante aberração. Foi integrado, não sem peripécias grotescas, em 1982, como Coronel mas Reformado!
Camarada,companheiro,comandante.João Varela Gomes
Querido Amigo.
Nasceste a 24 de Maio de 1924. Uma vida cheia de anos, noventa anos cheios de vida.Citando alguém que te faz justiça  diremos: “De uma vida que escolheu o caminho da coragem e da dignidade, ontem contra o fascismo, hoje contra a quietude endémica, a indiferença e o cepticismo político e ideológico de uma democracia que não hesitas em chamar filofascista. Com uma independência e uma frontalidade a toda a prova, continuas o combate solitário, quase quixotesco, através de textos livres, indignados, provocatórios, que teimam em furar o cordão sanitário do politicamente correcto, da aceitação passiva de que não há alternativa. Como este, que em jeito de homenagem aqui reproduzimos:”

«Mitos do Séc. XX – A Democracia»
«Mito que remonta à governação de Atenas Cidade, já lá vão 2500 anos»
« Mito ressuscitado no sec. XVIII da era de Cristo pela emergente classe burguesa. Os amigos de Péricles ressurrectos: les gens de bien, gente que tinha alguma coisa a perder. Mito que ficou consubstanciado na Constituição dos EUA de 1777, nos ideais da Revolução Francesa, no poder político exercido pela burguesia de então.»
«Assim, sim, exclamaram os crédulos. Agora acabaram os abusos e privilégios da nobreza e do clero, o poder será legitimado pelo povo em eleições, os mais aptos, ilustrados e honestos desempenharão os cargos públicos que nunca mais serão ocupados por favoritismo, razões de riqueza ou nascimento. Liberdade, Igualdade, Fraternidade. O mundo civilizado convertido numa grande, feliz e próspera Atenas.» 
«Em Portugal, o mito da democracia também é fruto da época. Constituição de 1820, vitória liberal, etc. Habitou os sonhos dos antifascistas neste século a findar, durante os cinquenta anos salazarentos. Veio o 25 de Abril. E vieram ao assalto o Soares, seus pares e outros exemplares. A desilusão é cruel.»
«Pelo mundo fora os créditos do sistema democrático também estão pelas ruas da amargura. O espertalhão de serviço cita Churchill (ou lá quem for): «A democracia é o pior dos regimes, à excepção de todos os outros».
«Assim sossegam a consciência para mais demagogia, mais entorses, promessas de socorrer os pobres e desfavorecidos. Uma rábula de tal maneira desacreditada, que leva meio eleitorado a abster-se de votar. O modelo democrático, tal como está implantado no chamado mundo ocidental e vai sendo imposto aos países menos desenvolvidos, constitui uma máquina bem oleada (lubrificada a dinheiro) para o exercício do poder absoluto da burguesia capitalista. Embora o funcionamento do sistema tenha vindo a degradar-se. A ferrugem – isto é, a corrupção – aparece a todos os níveis. O modelo está esgotado, dizem uns. Está apodrecido, diz a voz do povo. Mas não, dizem eles. Bastam uma reformazinhas, um rendimento mínimo, um torneio de futebol. Dêem-nos ideias, dêem-nos ideias.»
«Perante a falência do equilíbrio triangular, o sistema finge acreditar num 4º poder fiscalizador: a imprensa. Agora englobando todos os modernos veículos da comunicação social, incluindo a recentíssima Internet. Ora, todo o mundo sabe como os grandes capitalistas se apoderaram dos meios de comunicação e informação à escala planetária. A propaganda imperialista, a defesa dos interesses do capital cobre todo o globo, atinge o mais remoto povoado nas montanhas. Os noticiários em todos os países de todos os continentes abrem com a devida vénia às iniciativas americanas, às actividades dos ícones da burguesia. Era a BBC, agora é a CNN a referência universal. A aldeia global vem a revelar o mesmo espírito que a aldeia paroquial. A imprensa livre, a expressão independente da opinião, fica relegada para uma situação de semiclandestinidade. O quarto poder está escravizado pelo poder capitalista. Mais um mito que se esvai.(…)» “Esta Democracia filofascista”  de João Varela Gomes,edição de autor.


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Esta tem sido outra tua forma de luta nos últimos trinta anos, publicando livros e artigos, divulgando, esclarecendo, desmascarando, vincando sempre as tuas imorredouras características de cáustico, mas tenaz e sério, combatente da liberdade.
Fomos mais longe do que nos tínhamos comprometido.
Exigência da personagem do homenageado. Exigência dos tempos actuais. Efectivamente a contra-revolução, de braço dado com o sistema neo-liberal global, entrou no nosso processo como um vírus, tem-se instalado no propósito de destruir as nossas conquistas de Abril, as nossas conquistas da Revolução…De tal sorte, passados 40  anos, estaremos estupefactos. Como foi possível isto ???E como bem dizes “Neste 40º aniversário – em ano de angústia e empobrecimento para milhões de portugueses – impõe-se desfazer o equívoco/mistificação criado pela  farsa das cerimónias oficiais de homenagem ao 25 de Abril. Qual 25 de Abril? »Aquele que foi destruído....pela raiva contra-revolucionária em 25 Novembro 1975? Haja respeito por uma das páginas mais admiráveis na história do Povo de Portugal”
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Obrigado João Varela Gomes pelo exemplo,mais um, que só pode revigorar a nossa coragem em prosseguir a Luta. A luta em que hoje, os trabalhadores, a juventude, as mulheres e homens de Abril, vão continuar a travar contra os que pretendem restaurar um caduco e tenebroso passado.

No poema “Destino” do livro “Horas de Vidro” de Urbano Tavares Rodrigues,este diz o que se aplica inteiramente a ti «Trago na fonte/e estrela do fogo/da minha revolta/Nunca aceitaria qualquer tirania/nem a do dinheiro/nem a do mais justo ditador/nem a própria vida eu aceito.../tal como ela é/com todas as promessas/do amor e da juventude/e a parda doença/de envelhecer/a morte em cada dia/antecipada. Na mais lebrega alfurja/ou na cama de folhas macias/da floresta/da onde a chuva te adormeceu/há sempre um idamente de sol/cujos raios te penetram de/ventura/ao sonhares a palavra/liberdade.»

Parabéns João e Maria Eugénia.
Parabéns Paulo,Geninha, Maria da Luz e João António(lá onde estejas) por serem filhos de quem sois.
Parabéns André,Pedro,Rita ,João e Tiago por serem netos de quem sois.
Parabéns Maria e Rafael por serem bisnetos de quem sois.
Parabéns a todos nós por nos aceitares teus Amigos!

Sabemos como, na tua vida, te marcou o AMOR na acção,criação e perca.
Mas nessas lutas-com derrotas e vitórias- foste sempre de corpo inteiro. É aí que, na nossa memória, tu-Amigo João- já ascendeste  à eternidade e à imortalidade. Na memória dos que quiseste que fossem teus queridos e teus amigos, na memória das tuas acções e da tua obra, no desempenho pelo cimentar do nosso Abril da Liberdade.


Manuel Duran Clemente             24 de Maio de 2014 

(*) Saíram juntos ,em 9 de Janeiro de 1976, para Espanha a caminho do exílio em Madrid ,depois Havana e mais tarde em Luanda : Varela Gomes,Costa Martins e Duran Clemente.Aí encontraram mais militares refugiados.


2 comentários:

  1. São homens como este que não deixam morrer o sonho da liberdade e da justiça social. Obrigado Revolucionários do meu país. Parabéns querido amigo do nosso povo João Varela Gomes pela sua bonita idade e pelo seu bonito exemplo de vida.

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  2. Por quanto acima pudemos ler, pela grata admiração que nos merecem os sacrificados e corajosos antifascistas
    mais nos dói, este sono, esta anestesia de um Povo, que viu vencida a escuridão e o mutismo, que volta a cair sobre o Povo, deixando Portugal
    afundar-se na lama e das Guerras Coloniais,de que o libertaram,Abril e seus Capitães e o oceano de gente, que saindo para a rua, o medo vencido, gritavam,de uma vez, todas as verdades amordaçadas durante o horror desses 48 anos,em que a própria Igreja, silenciava os crimes cometidos contra os valorosos antifascistas
    E hoje,nas novas gerações, alguém se vai erguer consciente de que se deixar o fascismo fermentar de novo, podem estar certos, que essa cobardia, vão ter que a pagar, com miséria, que já avança e com as humilhações, que não deixarão de vir temperar o magro pão que terão que ganhar a preço de sangue!
    !Um imenso abraço, carregado de estima e respeito a esta Família, que sacrificou o seu bem-estar para reerguer Portugal e seu Povo, à altura da Luz e da Dignidade com a Verdade das conquistas de Abril

    AVENIDA
    Este poema foi escrito há vinte e tal nos, este poema nao é um poema escrito, é um poema falado, portanto a escrita, tem nele pouca importância
    poema falado, poema dito, aí ele encontra a sua dimensão, e porque o disse em publico muita vez, sei o alcance que encontra nos corações que o ouvem, e o resultado que neles provoca
    mas como evitar que se perca de todos, senão escrevendo
    este poema era dito por mim, quase cantando, de mãos nas algibeiras, cabeça provocantemente erguida, em ar de desafio, como se dito por garoto rufia.


    Avenida

    Fui ainda há pouco a Lisboa
    pensando matar saudades
    a vida nao se fez boa
    a quem fugiu prás cidades


    As saudade nao se matam
    porque logo nascem mais
    mas as vozes nos desatam
    e fazem de nós pardais



    Estou na Baixa, e os meus olhos
    nao vêem prédios nem chão
    so vêm dor, mar d'escolhos
    a esbarrar na multidão

    Lá anda gente a correr
    pela vida aos tropeções
    lá estão outros a vender
    miséria em sonho aos milhões

    O pobre pé, descalçado
    não incomoda ninguém
    tão visto já, resfriado
    e nascido de uma mãe !!!

    Não me quero ir já embora
    tenho ainda muito que ver
    mesmo que me doa agora
    eu não me quero esquecer

    Que se nascemos com olhos
    é para ver as montanhas
    de injustiças e de abrolhos
    que ao homem rasga as entranhas

    Lá vai o miúdo roto
    leva as mãos nas algibeiras
    com ar gaiato e maroto
    dizendo duas asneiras

    Mas dentro, lá bem no fundo
    andam versos a nascer
    e é por ser filho do mundo
    que anda por aí a sofrer

    Que essas palavras que larga
    a desafiar a populaça
    sao feitas da dor amarga
    que mesmo pequeno passa

    E agora aqui ao lado
    esta um ceguinho a tocar
    a pensar também que é fado
    andar com fome a cantar

    agora... aqui vou eu....
    aqui está Martim Moniz
    quanta gente a quem mordeu
    outra rica, má feliz!

    e os meus passos no dia
    feito da noite brutal
    vão comendo poesia
    no homem que vive mal

    Enquanto sigo dorida
    a olhar o temporal
    vou subindo a Avenida
    mas firme, no vendaval!!

    Já cheguei ao Intendente
    e por entre a gente séria
    quanta infeliz que mal sente
    que não tem mais que miséria

    Ai ó senhoras honradas
    que me apetece insultar
    as vidas despedaçadas
    nascem do vosso luxar

    Ás que passam sem sentir
    por quem chora como nós!
    se passarem a sorrir
    as mais perdidas sois vós!!

    Porque quem vive diferente
    se a porta não viu fechada
    prá vida passar decente
    não lhe custou mesmo nada!

    São filhas da noite escura
    dum estado podre de velho
    e esta ferida que ainda dura
    é o seu mais fiel espelho

    Mais uns passos, finalmente
    eis chego à Praça do Chile
    ó povo depressa ó gente
    façamos mais um Abril!!!

    Marília Gonçalves

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