domingo, 26 de novembro de 2017

O 25 DE NOVEMBRO E OS REMORSOS MAL-RESOLVIDOS


O 25 DE NOVEMBRO E OS REMORSOS MAL-RESOLVIDOS DO MAJOR SOUSA E CASTR0 por Jorge CG

(um comentário de Jorge CG que merece ficar registado no meu blogue)

Num artigo, que se põe nos comentários a esta minha ‘postagem’ para consulta de quem o queira (até começar) por fazer, o Major Sousa  Castro (SC) tenta justificar perante si mesmo a escolha errada que fez em 1975. Os erros em si são humanos e até posso fazer fé que SC tenha sido sincero nas suas opções. Mas 42 anos depois a verdade Histórica merece ser reposta, como analisadas as suas consequências. Fugir à responsabilidade das opções feitas, mesmo que o fossem em nome e um “mal menor”, ilude quem quiser, a começar pelos remorsos do próprio, m as não torce a verdade dos factos. É aquilo a que, do ponto de vista da psicologia, Freud chamou um “transfer”: SC alija as suas opções para as costas de uma narrativa fixionada, na medida em que a História que não chegou a ser não se compadece como justificação para a História que é e os factos que lhe deram origem.
A argumentação de SC assenta nesse mesmo sofisma. Começa por considerar – como se de um meta-leninista e ortodoxo se tratasse – que o rumo da História é determinável, mesmo nas coordenadas do que se não deu e se desconhece em absoluto como seria. Mais: cujos acontecimentos ulteriores vêm até pôr em causa certas “deduções” de “inevitabilidades” do “ou isto ou aquilo”. SC maquilha o 25 de Novembro (e o próprio Documento dos 9, que subscreveu) com a presunção de que se não tivessem os acontecimentos tomado aquele rumo teríamos caído no totalitarismo (refere-se ao modelo da União das Repúblicas Socialistas “Soviéticas”) ‘versus’ democracia ‘in abstracto’. Quando, pelo caminho, ruiu o modelo da URSS e a chamada ‘Democracia’ deu no que deu. Confesso que se as sociedades se resolvessem por ‘votos’ (como SC resume a questão da Democracia, no modelo de voto singular para representatividade e legitimidade política de terceiros, porque pode votar-se segundo outras formas de organização de escolha e sem sujeição à manipulação de opiniões e ao estreitamento de escolhas orgânicas) eu teria imensa dificuldade em escolher entre os males da URSS e os males do capitalismo imperialista contemporâneo. Mas a questão central é outra. É que nada prova que seria de uma maneira ou outra. Mais: há dados, na base das hipóteses, que até contrariam essa mesma hipótese em que SC se escuda para fugir do que o espelho da História lhe devolve.
Quer o declínio económico da URSS (que até explicará algumas inflexões do próprio PCP nessa mesma data, mas que não são agora para aqui chamadas), quer a própria natureza específica do PCP (apesar da sua dependência orgânica e material à URSS, mas, ainda que discretamente, muito crítico da adopção do modelo da URSS para Portugal), mesmo que se reduzisse (por absurdo) o 25 de Novembro ao confronto entre o PCP e os restantes partidos parlamentares, com uns ‘tontinhos idealistas’ pelo meio (como insinua SC). não teríamos tido nunca o decalque do modelo da URSS. Mais: a implosão do modelo da URSS era bem provável que fosse até acelerado, dando origem a coisa diferente do que a continuidade de oligarquias e destruição do Estado, formação de máfias e rendição incondicional de Ietlsine ao imperialismo norte-americano, cuja recuperação na própria Rússia de tal decadência ainda hoje não foi totalmente resgatada. Mas adiante, que não é da URSS em si que se quer falar: caiu por seus erros e pronto. Mas o que se quer salientar é que o caminho universal, a partir da Europa, poderia ter sido outro se o 25 de Novembro em Portugal outro desfecho tivesse tido. Desde logo porque não iria sequer o PCP “tomar o Poder”, muito menos replicar a URSS ou as “democracias populares” (esse tal determinismo meta-leninista de SC enjeita o mais basilar do próprio marxismo: “os acontecimentos histórios repetem-se, mas da segunda vez como farsa”). A multicomposição (nas FFAAA e nas classes trabalhadoras e do próprio empresariado de pequena dimensão) da sociedade portuguesa, o “arrastamento” previsível de transformações em dominó na Europa, a começar na Espanha, mas a ter larga influência no resto da Europa, seria bem provável que não se fixasse no Muro de Berlim e “contaminasse” no melhor dos sentidos a “Europa de Leste”. A reconversão de políticas capitalistas agressivas a modelos cada vez mais keynesianos, a centralidade que a social-democracia (de Olof Palm, não “outra”) ganharia como charneira, a queda de monopólios e muitos outros fenómenos de par com a evolução de um processo revolucionário (não sangrento) em Portugal, era bem mais provável que desse origem a um Mundo muito mais interessante do que o da “sovietização” da Europa, talvez mesmo da sovietização (sem comas) moderada de uma Europa até aos Urais, com repercussões mundiais, até pelos novos equilíbrios geoestratégicos.
Mas isto é tudo no capítulo dos “talvez”, dir-se-á. Sim, é. Como diz Pacheco Pereira – bem, acho eu - “a História é das coisas mais caóticas que há”. E se o é, tanto o é verdade para estas hipóteses quanto para as de SC, muito mais simplistas, reducionistas e de visão curta no campo da capacidade de olhar a História para á do que é presente ou passado, hoje só mesmo passado. O 25 de Novembro de 1975, mais do que “travar” um processo HIPOTETICAMENTE perigosamente totalitário foi um processo de “travar” REALMENTE uma experiência revolucionária única, singular e cujas consequências teriam, isso sim é certo, um enorme prejuízo à sobrexploração que hoje se vive no Mundo e à completa distorção da mais elementar Democracia mesmo que se não queira falar senão dentro das nossas fronteiras.
SC conclui que o 25 de Novembro, pese aquilo que ele “reconhece” como retrocessos tremendos (em que enaltece os esforços, verdadeiros, de Eanes, Lourenço e Antunes para evitar maiores danos), acabou por permitir cumprir o 25 de Abril, em nome da tal “devolução da soberania” ao Povo Português que o MFA trouxe. E isso é uma falácia, por assim dizer para contornar a palavra mentira. O 25 de Novembro não devolveu soberania popular nenhuma a que o 25 de Abril abrira as portas. Não só não se cumpriram muitos e muitos dos aspectos da Democracia (que o próprio Manifesto do MFA não resumia ao “voto eleitoral” e no modelo da “democracia” Ocidental), como a própria soberania política nunca foi tão dominada pelo estrangeiro como agora, pelo menos se recuarmos até 1640. O 25 de Novembro interrompeu processos genuinamente democráticos nos campos da Economia, do Conhecimento e da Participação Popular. E a própria “Democracia” Ocidental involuiu para formas de autoritarismo, ‘austeritarismo’ e autismo político nunca antes c vistos, cuja expressão mais caricatural se assume na eleição de um Trump como Presidente dos Estados Unidos da América e se reflecte no crescimento da extrema-direita Europa fora…
A 24 de Abril de 1974, a distribuição da riqueza nacional entre o mundo do trabalho e o do capital era de, respectivamente, 40% ‘versus’ 60% (a inversa da então média da Europa Ocidental). A 24 de Novembro de 1975 ultrapassara um poucos, respectivamente, os 65% versus 35%. A 26 de Novembro de 2017 é, calcula-se de 30% ‘versus’ 70%... Foi esta a consagração das “promessas” do 25 de Abril a que SC se refere também? É desta “regeneração da Pátria para a defesa da Democracia e da Liberdade” do 25 de Abril de que SC se orgulha? Ou são os remorsos a falar pela boca da delusão?
SC, se está a falar com sinceridade – e eu quero crer que sim -, deveria recorrer preferentemente ao divã da sua memória política. Deve enfrentar os fantasmas que oculta dos encontros com Carlucci e das permissividades com o ELP, o MDLP e o fechar de olhos ao retorno de ex-Pides a um novo activismo político no chamado “Verão Quente”. Se quiser ser sério consigo mesmo, em vez de se esconder no biombo desse meta-leninismo analítico da História usado em nome de combate à sociedade iniciada por Lenine, assume os erros (sem que tenha sequer de significar que hoje trocaria de barricada simplesmente) porque errar é humano, mas não faça da sua própria vergonha areia para iludir incautos. Os métodos mais sofisticados – para gente mais esclarecida – de um argumentário que entronca no dos comunistas que davam injecções nas orelhas aos velhinhos” não colhe de todo. E no caso do 25 de Novembro em Portugal muito menos: não se tratou tão-pouco de “escolher entre o comunismo e o imperialismo”, mas tão só o de estar com os trabalhadores em demanda de um processo novo e original de luta contra o imperialismo ou vergar a este em nome de medos induzidos.
O 25 de Novembro não é uma rota de correcção de excessos ou descaminhos num processo revolucionário. O 25 de Novembro, ao contrário do que SC afirma, é a data do assassinato do 25 de Abril.
A argumentação de SC assenta nesse mesmo sofisma. Começa por considerar – como se de um meta-leninista e ortodoxo se tratasse – que o rumo da História é determinável, mesmo nas coordenadas do que se não deu e se desconhece em absoluto como seria. Mais: cujos acontecimentos ulteriores vêm até pôr em causa certas “deduções” de “inevitabilidades” do “ou isto ou aquilo”. SC maquilha o 25 de Novembro (e o próprio Documento dos 9, que subscreveu) com a presunção de que se não tivessem os acontecimentos tomado aquele rumo teríamos caído no totalitarismo (refere-se ao modelo da União das Repúblicas Socialistas “Soviéticas”) ‘versus’ democracia ‘in abstracto’. Quando, pelo caminho, ruiu o modelo da URSS e a chamada ‘Democracia’ deu no que deu. Confesso que se as sociedades se resolvessem por ‘votos’ (como SC resume a questão da Democracia, no modelo de voto singular para representatividade e legitimidade política de terceiros, porque pode votar-se segundo outras formas de organização de escolha e sem sujeição à manipulação de opiniões e ao estreitamento de escolhas orgânicas) eu teria imensa dificuldade em escolher entre os males da URSS e os males do capitalismo imperialista contemporâneo. Mas a questão central é outra. É que nada prova que seria de uma maneira ou outra. Mais: há dados, na base das hipóteses, que até contrariam essa mesma hipótese em que SC se escuda para fugir do que o espelho da História lhe devolve.Quer o declínio económico da URSS (que até explicará algumas inflexões do próprio PCP nessa mesma data, mas que não são agora para aqui chamadas), quer a própria natureza específica do PCP (apesar da sua dependência orgânica e material à URSS, mas, ainda que discretamente, muito crítico da adopção do modelo da URSS para Portugal), mesmo que se reduzisse (por absurdo) o 25 de Novembro ao confronto entre o PCP e os restantes partidos parlamentares, com uns ‘tontinhos idealistas’ pelo meio (como insinua SC). não teríamos tido nunca o decalque do modelo da URSS. Mais: a implosão do modelo da URSS era bem provável que fosse até acelerado, dando origem a coisa diferente do que a continuidade de oligarquias e destruição do Estado, formação de máfias e rendição incondicional de Ietlsine ao imperialismo norte-americano, cuja recuperação na própria Rússia de tal decadência ainda hoje não foi totalmente resgatada. Mas adiante, que não é da URSS em si que se quer falar: caiu por seus erros e pronto. Mas o que se quer salientar é que o caminho universal, a partir da Europa, poderia ter sido outro se o 25 de Novembro em Portugal outro desfecho tivesse tido. Desde logo porque não iria sequer o PCP “tomar o Poder”, muito menos replicar a URSS ou as “democracias populares” (esse tal determinismo meta-leninista de SC enjeita o mais basilar do próprio marxismo: “os acontecimentos histórios repetem-se, mas da segunda vez como farsa”). A multicomposição (nas FFAAA e nas classes trabalhadoras e do próprio empresariado de pequena dimensão) da sociedade portuguesa, o “arrastamento” previsível de transformações em dominó na Europa, a começar na Espanha, mas a ter larga influência no resto da Europa, seria bem provável que não se fixasse no Muro de Berlim e “contaminasse” no melhor dos sentidos a “Europa de Leste”. A reconversão de políticas capitalistas agressivas a modelos cada vez mais keynesianos, a centralidade que a social-democracia (de Olof Palm, não “outra”) ganharia como charneira, a queda de monopólios e muitos outros fenómenos de par com a evolução de um processo revolucionário (não sangrento) em Portugal, era bem mais provável que desse origem a um Mundo muito mais interessante do que o da “sovietização” da Europa, talvez mesmo da sovietização (sem comas) moderada de uma Europa até aos Urais, com repercussões mundiais, até pelos novos equilíbrios geoestratégicos.Mas isto é tudo no capítulo dos “talvez”, dir-se-á. Sim, é. Como diz Pacheco Pereira – bem, acho eu - “a História é das coisas mais caóticas que há”. E se o é, tanto o é verdade para estas hipóteses quanto para as de SC, muito mais simplistas, reducionistas e de visão curta no campo da capacidade de olhar a História para á do que é presente ou passado, hoje só mesmo passado. O 25 de Novembro de 1975, mais do que “travar” um processo HIPOTETICAMENTE perigosamente totalitário foi um processo de “travar” REALMENTE uma experiência revolucionária única, singular e cujas consequências teriam, isso sim é certo, um enorme prejuízo à sobrexploração que hoje se vive no Mundo e à completa distorção da mais elementar Democracia mesmo que se não queira falar senão dentro das nossas fronteiras.SC conclui que o 25 de Novembro, pese aquilo que ele “reconhece” como retrocessos tremendos (em que enaltece os esforços, verdadeiros, de Eanes, Lourenço e Antunes para evitar maiores danos), acabou por permitir cumprir o 25 de Abril, em nome da tal “devolução da soberania” ao Povo Português que o MFA trouxe. E isso é uma falácia, por assim dizer para contornar a palavra mentira. O 25 de Novembro não devolveu soberania popular nenhuma a que o 25 de Abril abrira as portas. Não só não se cumpriram muitos e muitos dos aspectos da Democracia (que o próprio Manifesto do MFA não resumia ao “voto eleitoral” e no modelo da “democracia” Ocidental), como a própria soberania política nunca foi tão dominada pelo estrangeiro como agora, pelo menos se recuarmos até 1640. O 25 de Novembro interrompeu processos genuinamente democráticos nos campos da Economia, do Conhecimento e da Participação Popular. E a própria “Democracia” Ocidental involuiu para formas de autoritarismo, ‘austeritarismo’ e autismo político nunca antes c vistos, cuja expressão mais caricatural se assume na eleição de um Trump como Presidente dos Estados Unidos da América e se reflecte no crescimento da extrema-direita Europa fora… A 24 de Abril de 1974, a distribuição da riqueza nacional entre o mundo do trabalho e o do capital era de, respectivamente, 40% ‘versus’ 60% (a inversa da então média da Europa Ocidental). A 24 de Novembro de 1975 ultrapassara um poucos, respectivamente, os 65% versus 35%. A 26 de Novembro de 2017 é, calcula-se de 30% ‘versus’ 70%... Foi esta a consagração das “promessas” do 25 de Abril a que SC se refere também? É desta “regeneração da Pátria para a defesa da Democracia e da Liberdade” do 25 de Abril de que SC se orgulha? Ou são os remorsos a falar pela boca da delusão? SC, se está a falar com sinceridade – e eu quero crer que sim -, deveria recorrer preferentemente ao divã da sua memória política. Deve enfrentar os fantasmas que oculta dos encontros com Carlucci e das permissividades com o ELP, o MDLP e o fechar de olhos ao retorno de ex-Pides a um novo activismo político no chamado “Verão Quente”. Se quiser ser sério consigo mesmo, em vez de se esconder no biombo desse meta-leninismo analítico da História usado em nome de combate à sociedade iniciada por Lenine, assume os erros (sem que tenha sequer de significar que hoje trocaria de barricada simplesmente) porque errar é humano, mas não faça da sua própria vergonha areia para iludir incautos. Os métodos mais sofisticados – para gente mais esclarecida – de um argumentário que entronca no dos comunistas que davam injecções nas orelhas aos velhinhos” não colhe de todo. E no caso do 25 de Novembro em Portugal muito menos: não se tratou tão-pouco de “escolher entre o comunismo e o imperialismo”, mas tão só o de estar com os trabalhadores em demanda de um processo novo e original de luta contra o imperialismo ou vergar a este em nome de medos induzidos.O 25 de Novembro não é uma rota de correcção de excessos ou descaminhos num processo revolucionário. O 25 de Novembro, ao contrário do que SC afirma, é a data do assassinato do 25 de Abril.» JORGE CG

sábado, 25 de novembro de 2017

25 de novembro :um acto fratricida.





25 de novembro :um acto fratricida.

................................
Um acto inútil e divisionista que fez erguer ,não os sonhos que referes, mas os pesadelos vividos ao longo de 40 anos.E não é tudo....MDC.
.............................................................................................

Respondendo ao meu camarada de armas Rodrigo Sousa Castro.(ver o seu comentário que partilho em baixo)
O que está errado é dizer-se que os militares "ditos vencidos" queriam, cito Rodrigo Sousa Castro, « do outro lado ....aqueles que preconizavam um modelo de sociedade do tipo das democracias populares dos estados totalitários do leste europeu, acompanhados por outros cujo impulso revolucionário os levava a quererem estabelecer um sistema puro e utópico de poder popular.»Justificação frágil e várias vezes rebatida. De facto para alem dos resultados da reunião do Comité Central do PCP em Agosto /75 ,em que Alvaro Cunhal declarou que não havia lugar a aventuras militares para instalar o quer que fosse a não ser defender as CONQUISTAS DA REVOLUÇÃO (estabelecidas em 25 A. pelo Programa do MFA e ,durante o chamado PREC, em mais de 200 despachos/Decretos -Leis,sobretudo dos governos de Vasco Gonçalves, ) É portanto falso que fosse o 25 de Novembro que estabeleceu as bases da Democracia em Portugal.Tudo uma falácia para justificar o ataque por quem não gostava da liberdade que se vivia e que não entende que na essência da democracia estaria o "PODER POPULAR" o poder das pessoas e não o poder de certos políticos que defendem outros caminhos (os interesses dos poderosos e do neo-liberalismo com várias capas enganadoras) menos os interesses das pessoas. e bem como dizes a seguir ao 25 de Novembro e à aprovação da Constituição de 1976 (como bem diz Pezarat Correia) surgiram todos os meses e anos os ataques contra-revolucionários (e contra a Constituição)e os "militares de Abril/Novembro, não fizeram outro 25 de Novembro....contra a subversão desse percurso e deu no que tu acabas por declarar no final do teu comentário: «Mas o sonho mais profundo e genuíno dos capitães de Abril, o sonho de uma Sociedade Justa e Fraterna, o sonho da Felicidade para o Povo, esse , não foi enterrado , como muitos dizem pelo acto patriótico do 25 de Novembro de 1975, esse foi apreendido, enclausurado e destruído de forma sistemática, por quem se apossou dele e dos direitos dos portugueses.
Os acontecimentos de anos recentes, em que fica cabalmente demonstrado a falência politica da cleptocracia que tem mandado no País e a falência da dita sociedade civil e de parte das suas elites, convoca-nos a todos, para a regeneração da Pátria e para a defesa da Democracia e da Liberdade»(RSC).És tu que o dizes e isso é verdade...o que torna de facto o 25 de Novembro um acto fratricida,entre militares de Abril,escusado e que só nos dividiu sem bons resultados e ainda com a agravante de afastar da RTP,da EN,do DN ,do Século.da Capital e de outros órgãos... 152 jornalistas ou equiparados, o que veio reflectir-se na falta de qualidade e de seriedade da comunicação social dos dias de hoje.Por isso para muitos de nós o 25 de Novembro foi um acto tudo menos patriótico.Um acto inútil e divisionista que fez erguer ,não os sonhos que referes, mas os pesadelos vividos ao longo de 40 anos.E não é tudo....MDC.
............
O que diz Sousa Castro:
«O 25 DE NOVEMBRO DE 1975
Passam hoje 42 anos sobre uma data dramática para o Povo Português.
Nesse dia, através da Força Armada, as forças politicas emergentes do derrube da ditadura , procuravam impor os seus projectos, no acto final de uma disputa que se tinha prolongado pelo verão ( chamado Verão Quente) de 1975..
De um lado as que queriam construir uma sociedade democrática e um Estado de Direito no modelo vigente na Europa Ocidental, do outro lado aqueles que preconizavam um modelo de sociedade do tipo das democracias populares dos estados totalitários do leste europeu, acompanhados por outros cujo impulso revolucionário os levava a quererem estabelecer um sistema puro e utópico de poder popular.
E ironia do destino, alguns dos que durante a ditadura sempre clamaram por eleições livres, e por elas tinham lutado e sofrido passam então as desvaloriza-las em função de estratégias alternativas de assalto ao Poder.
Perante esta disputa, as Forças Armadas dividiram-se e chegaram ao confronto físico.
Os militares vencedores , foram apoiados pelos partidos que até há dois anos atrás se reclamavam da exclusiva legitimidade para governar ( arco da governação, como diziam, PS-PSD -CDS).
Os vencedores se declinaram o poder do momento e executaram de forma ordenada e genuína a entrega do poder aos representantes eleitos do Povo, não se coibiram de praticar uma politica persecutória e em muitos casos injusta para com os militares vencidos, que só muitos anos mais tarde foi parcialmente reparada. Essa politica atingiu também de forma discriminatória muitos quadros civis e ameaçou mesmo um retrocesso dramático do processo de democratização , parado por três homens cuja História se encarregará de reconhecer Ramalho Eanes, Melo Antunes e Vasco Lourenço.
Mas o que ficou dessa disputa fraticida foi o cumprimento integral da palavra dos capitães que em 25 de Abril de 1974 prometeram ao Povo a Liberdade e o exercício pleno da sua Soberania. Palavra dada e cumprida com o acto final da revisão constitucional de 1982 e a retirada total do poder militar da esfera politica.
Podemos hoje perguntar-nos, o que resta dessa acção patriótica e generosa.
O exercício das liberdades públicas o progresso material inevitável face ás novas condições criadas, é certo.
Mas o sonho mais profundo e genuíno dos capitães de Abril, o sonho de uma Sociedade Justa e Fraterna, o sonho da Felicidade para o Povo, esse , não foi enterrado , como muitos dizem pelo acto patriótico do 25 de Novembro de 1975, esse foi apreendido, enclausurado e destruído de forma sistemática, por quem se apossou dele e dos direitos dos portugueses.
Os acontecimentos de anos recentes, em que fica cabalmente demonstrado a falência politica da cleptocracia que tem mandado no País e a falência da dita sociedade civil e de parte das suas elites, convoca-nos a todos, para a regeneração da Pátria e para a defesa da Democracia e da Liberdade»Rodrigo Sousa Castro.25 Novembro de 2017.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

CV Manuel Duran Clemente Novembro de 2017

Manuel António DURAN CLEMENTE
Um dos Capitães de Abril

Nasceu em Almada em 28 de Junho de 1942.
Seu pai é natural de Capinha(Fundão) e sua mãe de Redondela/ Pontevedra (Galiza). Divorciado, tem três filhos e quatro netos.


…………………………………………………………………………
É um dos capitães da génese clandestina do Movimento de Capitães.

…………………………………………………………………………….
Cursou o ensino técnico (perito contabilista) e liceal nos Pupilos do Exército. Ingressou na Academia Militar em 1961.Licenciou-se em Administração. É também além de gestor e administrador de empresas, Técnico de Contas  registado na antiga DGCI desde 1966. Teve vários cargos, militares e civis, nas áreas administrativa, financeira e de gestão. Nomeadamente, e antes do 25 de Abril/74 foi durante três anos, instrutor da Escola Prática de Administração Militar e Director Financeiro da Direcção da Arma de Engenharia (Obras e Infraestruturas Militares)
Foi promovido a Capitão em 1968.
Recebeu a medalha de ouro de Louvor da Cruz Vermelha Portuguesa por serviços distintos realizados em Maio de 1967.
Foi-lhe atribuído o grau de Cavaleiro da Ordem Militar de Avis (02.10.1971) por ter tido vários louvores de serviços distintos,entre os quais ,em tão curto espaço de tempo,três louvores de Oficiais-Generais: General-Director da Academia Militar (1962),General-Director do Serviço de Logística(1967) e General-Director da Arma de Engenharia (1969).
…………………………………………………………………………….
Antes da Revolução conheceu S.Tomé , Angola, Moçambique (1969/70)   e Guiné-Bissau (1973/74), tendo estado, em comissões militares na guerra colonial, nestas duas últimas ex-colónias.

Solidariza-se, em 1969, com o movimento MDP/CDE. Tem reuniões clandestinas entre 1969 e 1973. 
Em Abril de 1973 contesta publicamente em Aveiro, no Congresso da Oposição Democrática, o regime ditatorial, onde distribui um manifesto político.
Como consequência da apresentação deste documento à hierarquia militar (onde, além de criticar a falta de liberdade e a guerra colonial, requer o abandono das Forças Armadas)  o Capitão Duran Clemente sofre como “punição” a deportação/mobilização para a Guiné-Bissau onde chegou em Julho de 1973.
Teve então oportunidade de desenvolver o processo conspirativo, já iniciado em Lisboa, logo após a sua chegada à capital guineense.
(Ver publicação sobre o seu desempenho no inicio e desenvolvimento do Movimento de Capitães nesta colónia, no depoimento no Livro Conquistas da Revolução editado pela ACR em 23 de Abril de 2014 ou no seu blogue omirantealmirante2.blogspot.pt e no recente livro editado por Jorge Golias)
É aí, em Bissau, que promove a  constituição de um dos primeiros núcleos clandestinos e onde se iniciaram reuniões alargadas dos Capitães. Desde a primeira dessas reuniões contou com a presença de alguns militares (que depois ficaram mais conhecidos) tais como Otelo Saraiva de Carvalho, Salgueiro Maia, Matos Gomes, Jorge Golias e Faria Paulino.

O Capitão Duran Clemente é um dos quatro autores da carta subscrita por cerca de cinquenta capitães (em guerra na Guiné) dirigida ao Governo, em Agosto de 1973, pondo em causa o sistema e deixando já antever uma tomada de posição de força.
Só depois deste acto se realiza em Alcáçovas a reunião de mais de 130 capitães no Continente e se iniciam manifestações semelhantes em Moçambique e Angola.
É eleito,em Bissau, em Setembro/73 para a primeira Comissão Coordenadora do movimento de capitães com os capitães Matos Gomes, Almeida Coimbra e António Caetano/Sousa Pinto.

Durante o período de preparação do 25 de Abril é o elemento de ligação ao MFA/Continente, a Hugo dos Santos e Vasco Lourenço, isto é, entre a Guiné e Lisboa.
Promove-se, nessa ocasião (Agosto/Setembro/73) na Guiné-Bissau o alargamento da conspiração à Marinha e Força Aérea.
Destaca-se pela acção intensa que teve no “recrutamento” de militares/capitães, não só do Exército como da Força Aérea e da Marinha, no envolvimento nas acções conducentes ao acto libertador que estando mobilizados na Guiné, iam regressando a Portugal, (no fim das suas comissões de guerra de dois anos) entre Julho de 1973 e Março de 1974.
Exerce também missões de ligação a militares “não profissionais” (milicianos) na fase conspirativa, tais como Barros Moura e Celso Cruzeiro (antigos dirigentes académicos), entre outros, que viriam a ter colaboração significativa no equilíbrio das soluções futuras, já depois da alvorada libertadora.

Duran Clemente com os oficiais organizados tomam o poder também em Bissau e em toda a Colónia, no dia 25 de Abril, colocando nos postos chaves, militares de confiança e integrados no espírito do Programa MFA depois de sanearem e “remeterem” para Lisboa, nos dias seguintes, os oficiais superiores conotados com a ditadura, tais como o General Bettencourt Rodrigues Governador e Comandante-Chefe e outros adeptos do sistema.

Esta atitude na Guiné estava integrada na operação global e serviria sempre de reserva a qualquer eventual malogro das acções então planeadas e a decorrer no Continente.
A tomada de posição na Guiné, felizmente, não foi necessária para se impor como “moeda de troca”, porque a Revolução vingou em Lisboa mas reforçou-a e consolidou-a, sobretudo no referente ao processo pacífico de descolonização. A pressão do MFA da Guiné é importante. A colónia já estava reconhecida como país independente por uma centena de países. Mas Spínola e outros faziam contra-vapor em Lisboa. O processo de descolonização da Guiné iria decorrer sem incidentes sob a chefia de Carlos Fabião e do acompanhamento da coordenação do MFA/Guiné, a partir de 7 de Maio  e até 15 de Outubro de 1974.

Foi no período de transição nomeado pelo MFA para Director do único Jornal “A Voz da Guiné” que se constituiu como mais um agente de dinamização e esclarecimento no processo em curso, sobretudo na cidade de Bissau.

Após a Lei 7/74 (reconhecimento do direito das colónias à independência) e do comunicado conjunto ONU/PORTUGAL (a 4 de Agosto) em que se reconhece a Guiné-Bissau como Estado independente, participa em várias acções de preparação e transferência de poderes no território da Guiné e integra missões de contacto e acolhimento dos primeiros dirigentes do PAIGC, tais como Luís Cabral, Manuel dos Santos, Vasco Cabral, Julio Carvalho, Juvêncio Gomes, Francisco Mendes, Pedro Pires e outros.

Já antes, de Maio a Julho, por acções legitimadas pelo MFA e por Carlos Fabião e pelo decurso dos processos de negociações, de (Londres e Argel) é alvo de perseguição pelo então General A.Spinola, sobretudo depois duma entrevista dada em Agosto,em Bissau, à RTP (a J.Letria) denunciando que militares portugueses e guerrilheiros do PAIGC já confraternizavam com normalidade. Chegou a ser chamado a Lisboa e a receber ordens para encerrar o Jornal; acções a que se opôs o Governador Carlos Fabião que, apesar de considerado militar "spinolista", após chegado a Bissau em 7 de Maio, opta definitivamente pelas posições do MFA.

Como convidado pelo PAIGC esteve, em Madina do Boé, nas comemorações do primeiro aniversário da independência da Guiné Bissau, em 24 de Setembro de 1974.

Com o processo na Guiné resolvido em 15 de Outubro de 1974 (data do regresso a Lisboa do ultimo contingente militar português) o Capitão Duran Clemente regressa a Lisboa onde, com um grupo significativo de oficiais que se tinham distinguido em Bissau, integram a 5ª Divisão  do Estado Maior General das Forças Armadas.
Aí se organizam numa das estruturas mais destacadas no Processo Revolucionário até ao 25 de Novembro de 1975.
O Capitão Duran Clemente foi, nesta estrutura, um dos responsáveis pelo Centro de Esclarecimento e Informação Pública coordenando programas de Rádio e Televisão e integrando a redacção do Jornal quinzenal “ O Boletim do MFA” editado durante um ano ( 25 exemplares ).

Na sua actividade, extra militar,  é ainda em 1974 convidado para Vice-Presidente da Associação de Amizade Portugal / Guiné-Bissau ,associação que viria a constituir-se formalmente em 1977 e a cujo acto eleitoral assiste Pedro Pires. Rogério Paulo e Duran Clemente são eleitos Presidente e Vice Presidente desta Associação.
  
Foi Secretário-geral da Assembleia do MFA sendo dela seu porta-voz depois do 11 de Março e até Setembro/75 (Tancos).

Na data de 11 de Março/75 aos microfones da então Emissora Nacional alerta o País, durante o noticiário das 13.00, da invasão do RALIS e do golpe que Spínola tentou realizar.
Os avisos feitos são fundamentais ao alertar os próprios militares envolvidos em eminente confronto junto ao RALIS (paraquedistas e artilheiros).

Está pouco divulgado que por esta acção é dos raros oficiais que no período revolucionário é formalmente “louvado” pelo Chefe do EMGFA e Presidente da Republica /General Costa Gomes.

Mantém-se firme nos seus princípios e convicções no período mais conturbado do PREC, nomeadamente no chamado “Verão quente” revelando-se como “gonçalvista” assumido.

Quis o destino que fosse a última voz do Movimento das Forças Armadas (revolucionário) em 25 de Novembro de 1975, ao defender a revolução nos ecrãs da Televisão.

Após este acontecimento recusou submeter-se ao mandato de captura e ser preso no Portugal democrático.

Esteve ausente do país, exilado em Cuba e na R. P. Angola durante dez meses. Regressou em 9 de Setembro de 1976, foi expulso administrativamente do Exército. Foi reintegrado, quatro anos depois, por decisão Judicial, após amnistia, sendo promovido a Major e posteriormente reformado "compulsivamente".

Três  anos depois de ter sido  aprovada( em 1999 ) a Lei que impôs a reconstituição das carreiras aos militares que pela sua intervenção em 1974 e 1975 foram afastados e “perseguidos”, ascendeu  ao posto de Coronel (reformado) .Posição que deveria ter desde 1991 e que a Lei só repôs em 2002.
  
Exerce, desde 1967, ou seja nos últimos quarenta e cinco anos, a actividade de consultor na área financeira, administração, gestão, planeamento e organização  e desenvolvimento regional, tendo apoiado a cooperação portuguesa na Guiné-Bissau onde chegou a ser consultor por parte da Comissão da União Europeia num programa especial de dinamização ao desenvolvimento e reorganização de serviços.

Foi colaborador e administrador de empresas (Laboratotrio Sanitas, Medicinália-SARL,Herdade da Torre-SA)  e director financeiro e administrativo da CAU -Cooperativa de Arquitectura e Urbanismo e esteve cerca de 12 anos como consultor e administrador da empresa SNEDE/Sociedade Nacional de Empreendimentos e Desenvolvimento Económico, S.A, sendo entre 1978 e 1987, director de projectos de desenvolvimento. Colaborou ainda em 1980, com Mário Murteira num curso de formação de quadros superiores, em Cabo Verde

Através de concurso publico, em Março de 1991 ,foi admitido como consultor "profissional independente" à Câmara Municipal do Seixal tendo, a partir de 1 de Abril de 1991, chefiado a Divisão Administrativa de Urbanismo (durante mais de 15  anos)  e tendo sido (a partir de 2007 e até 2011) adjunto  do Vereador Jorge Silva no mesmo Pelouro de Planeamento e Urbanismo da Câmara Municipal do Seixal.
Ao serviço do Município, para além dos trabalhos específicos da DAU ou de Adjunto de Vereador, colaborou em todos os grandes projectos durante mais de 25 anos: reestruturação dos serviços  do Pelouro, contributos para a nova legislação de construções e loteamentos, igualmente para a nova lei que cria as AUGIs e apoio a estas, contributos para estudos que integrassem o novo PDM, participação nos respectivos regulamentos de taxas municipais, participação nas desafectações e expropriações a propor no alargamento da auto-estrada A2, no novo eixo ferroviário Norte-Sul, no novo metro Sul do Tejo, na nova extensão da AE 33 e na instalação da grande superfície Rio Sul, viabilidade económica para aquisição da Mundet, na implementação de super-mercados, na criação de Associação com os Areeiros do Seixal, no apoio às juntas de freguesia, organizações sociais, culturais, educativas e desportivas, aos munícipes e empresários , no apoio à tramitação do licenciamento do Centro de Estágio do SLB, em propostas de negociação para eliminação de construções clandestinas tendo em vista a mobilidade, controlo da inspecção de elevadores, contributos para o inicio dos estudos do projecto Arco Ribeirinho do Sul, etc. tendo tido papel significativo na área da formação e de reorganização de serviços como elemento pertencente às três comissões de reorganização do Regulamento dos Serviços Municipais em 1993, 2000 e 2010. Como representante da Câmara fez parte, com o seu Presidente, da Administração da CDR, Agência de Desenvolvimento Regional de Setúbal .
Foi ainda, em 1994, durante um mandato Presidente do Seixal Futebol Clube.
Em 1999 é nomeado pela CMS,por acumulação, para a Direcção do Parque Industrial do Seixal onde se mantém até à sua extinção em 2012.
Em 1993 é um dos técnicos empenhados em cumprir o desígnio da autarquia com a criação da AEERPPAS-Associação da Autarquia e Areeiros para a Preservação do Ambiente do Seixal, onde se mantém há mais  de 24 anos, como membro da sua direcção. Ainda hoje é membro da sua comissão liquidatária.

Foi candidato à Assembleia da Republica, pelo círculo de Setúbal pela CDU, em 1999.Em Setembro de 2001, substituiu no parlamento Octávio Teixeira, cedendo esta posição ao candidato seguinte, Bruno Dias.

Foi autarca eleito, durante 12 anos como Presidente da Assembleia de Freguesia em Santa Catarina – Lisboa, pela Coligação PS/PCP.

Foi candidato por esta coligação PS/PCP em 2001 à Câmara Municipal de Lisboa. Em consequência foi Vereador (substituto), na oposição (2001/2005), nesta autarquia.

É membro e activista, fundador do Movimento cívico "Não Apaguem a Memória" tendo sido considerado arguido e julgado (e absolvido) em Tribunal a 21 de Dezembro (2006) por uma acção de protesto, em 5 de Outubro de 2005,  junto das antigas instalações da PIDE/DGS, por se expor, indignado, ao branqueamento do significado da transformação urbanística, ali em curso, em plena Rua António Maria Cardoso, de trágica " má memória". 

Em Março de 2007 foi eleito para a Presidência do CPPA, Conselho Português para a  Paz e Cooperação e reeleito em 2013

É associado, desde a sua fundação, da Associação 25 de Abril.

É fundador da Associação Conquistas da Revolução constituída em 2011, sendo eleito membro da sua Direcção e designado coordenador da sua “Folha Informativa”. Renunciou a estas actividades em Setembro de 2014 tendo colaborado na edição dos livros publicados por esta.

Por ocasião dos aniversários da Revolução já realizou centenas de intervenções em Escolas e Sessões Públicas em autarquias, colectividades e associações por todo o país.

No mesmo sentido fez intervenções junto da emigração portuguesa em Paris, Bruxelas, Espanha, E.U.A, Cabo Verde, Guiné/Bissau e Angola.

É autor do livro “ Elementos para a Compreensão do 25 de Novembro “, Edições Sociais, 1976.
É co-autor do livro “30 anos do 25 de Abril “ (painel  “a conspiração na Guiné”), edição Casa das Letras, 2005,coordenado por M. Barão da Cunha, e da brochura “ O Paradoxo do Militar Libertador: da Guerra Colonial ao 25 de Abril” apresentado na Universidade de Saint Dennis/Paris em 1999.

É autor de diversos  artigos e intervenções na comunicação social, escrita e falada, destacando-se os últimos artigos  "Não Apaguem a Memória -Se arguidos somos todos, todos fomos absolvidos" e "Pode nascer um país" ( do ventre duma chaimite ) este, citando o poeta Ary dos Santos, numa alusão ao país que queríamos ser e ao que somos,"Reconciliação connosco próprios...no 25 de Abril: E hoje? E ainda “Economia Real versus Economia Virtual/O ultraliberalismo Global e a Crise Europeia”, “O estado Social e o Neoliberalismo” e “Urbano Tavares Rodrigues, até já amigo”   e texto de homenagem a  Varela Gomes nos seus 90 anos.”

Apresentou à Conferência da Paz/CPPC (7.12.2013) e à Convenção Democrática Nacional (8.12.2013) a comunicação “25 de Abril-Sonho, Luta, Revolução e Esperança”.

Editou recentemente a brochura ”A Guiné, o 25 de Abril e o reconhecimento da sua independência”.

No passado dia 22 de Fevereiro de 2014, por ocasião do 131º aniversário da Voz do Operário, esta instituição, como faz todos os anos, distinguiu-o como sócio honorário e na homenagem de personalidade de mérito do ano “pelo reconhecimento do seu importante papel no desenvolvimento da revolução do 25 de Abril (que naquele ano comemorava o 40º aniversário) bem como a luta em defesa dos trabalhadores e do povo, pela Dignidade, Liberdade e Democracia.” (citando excerto da carta da Direcção da VO).
Colaborou na edição dos Livros “Conquistas da Revolução” e de “Vasco,nome de Abril publicados pela Associação Conquistas da Revolução, respectivamente em 23 de Abril e 18 de Julho, do ano de 2014, quando ainda era seu director e membro do grupo de trabalho de edição.
Foi fundador em 1993 e membro da primeira direcção, em 1993 , da Associação “Os Amigos da Fundação das Casas Fronteira e Alorna” entidade cultural prestigiada e é sócio honorário desde 27 de Abril de 2016.!

Em 6 de Novembro de 2017, por ocasião do 181º aniversário do Concelho do Seixal, é-lhe atribuída a medalha de prata de “bons serviços municipais” com homenagem pública no Fórum Municipal desta cidade.

Continua na sua luta constante de esclarecimento, sob o ponto de vista progressista, sobre os factos políticos nacionais e internacionais, para que a memória não se apague.


  Novembro de 2017
…………………………………………………..
Blogues: -omirantealmirante2.blogspot.pt
                -prosapoeticamdc.blogspot.pt



sexta-feira, 8 de setembro de 2017

O TEMPO ARDE Carlos Barbeitos Amigo

Homenagem ao Carlos Barbeitos )escrita maravilhosa da filha Diana Pimentel Barbeitos) ao Homem Amigo ....homem franzino mas grande de alma ...que mais se pode dizer.....posso dizer.Fazes -me falta.Fazem sempre faltam Amigos como tu....Ainda agora pensava ir à Galiza estar por aí contigo....desabafarmos.!!!Abraço à nossa "terra .mãe"---MDC.
o tempo arde
[ para os meus irmãos, pelo nosso pai. ]
Sei que não vou saber escrever-te. Sei que estas são fracas palavras para ti, por ti. Morreste. Escrevo-te em falha, em falta. Há um mês, ontem, para sempre, começava a acabar a vida, a tua, a nossa.
Os relógios de casa – a que davas corda, dia a dia – pararam um a um; horas, minutos, segundos anulados. Manhãs, tardes, noites suspensas como o pêndulo quieto do relógio da cozinha. Os teus e os meus lentos e leves passos eram então a medida do tempo que se perdia, da dor que crescia.
Havia incêndios na serra (intuiste, ainda). Havia em ti um incêndio interior. Nem a promessa de trovoada pela madrugada atenuava o cheiro a terra queimada por dentro de ti e sob o chão da nossa vida a ruir.
O ar parou, murmuraste. Pousei muito leve a minha mão sobre o teu peito, a respirarmos a um só compasso, a tentar ensinar-te o que o teu corpo perdia. Dá-me um abraço, pedi-te; pensei poder guardar-te inteiro, ainda, dar-te o ar em mim. Falharam-te os braços até então sempre fortes sempre abertos sempre nossos.
Foste para longe de casa. A esperança segurava-nos e abandonava-nos e segurava-nos e abandonava-nos (aos filhos, aos amigos, aos teus companheiros e às tuas companheiras, contigo sempre, como tu sempre com todos). Um dia durou um mês, uma hora um dia. Duros dias (pouco, ainda).
Uma tarde os teus óculos partiram-se e a pilha do relógio cansou-se. Não o sabia então: o temor, o terror, o susto, o sobressalto estavam ainda a começar. Um tubo a invadir os teus pulmões carbonizados, a boca, o nariz, as veias tomados por objectos estranhos, os sentidos anulados, a tua voz silenciada, os braços sem pulsar, o sangue a escapar de ti, tu inteiramente nu do que foste, agora só um lençol, a respiração por fora de ti (o som, o horror), as máquinas, todos os sinais a cada dia menos vitais e nem fio de vida em ti.
Nós do outro lado de uma espécie de vida – ainda não sabemos qual nem como sem ti – vazios à espera da espera de quê? – sem saber onde tu. Sim, o lugar tinha um nome, cuidados intensivos (eu senti então – não disse – que merecias cuidados que se dissessem de outro modo porque o teu sempre foi um cuidado delicado e dedicado, em reserva e pudor, nas palavras, no amor, na perda, na dor).
Conta-me uma história, tinhas-me pedido numa das madrugadas antes de. Contei-te histórias que me contaste tu, que toda a vida vivemos. Que aprendi a ler à tua secretária ao som do disco de vinyl em que Leonard Bernstein ensina os sons e as vozes de ‘Pedro e o Lobo’ e que Prokofiev me parecia o nome de um amigo.
Lembrámo-nos do corpo forte da nadadora da família a atravessar sem temor o Minho, das ameixas que eu e a Catrineta lanchámos no telhado da coelheira, dos coletes salva-vidas para andarmos de barco a remos rio Minho acima, dos pic-nics e dos bailes de Agosto ao som do gira-discos (agora mudo), do complicado comboio (agora desmontado) que construíste no sótão para e com o nosso irmão, lembrámo-nos da sagração da primavera com que celebrámos a Mada coroada de flores da quinta (e tu a trautear ‘As quatro estações’ de Vivaldi), dos mergulhos de verão da Mada e da Maggie no tanque (hoje vazio), das pescarias no rio Mouro com as catraias, dos aviões e dos barcos, modos de partir que toda a vida escolheste e com paciência construíste como promessa de liberdade.
Não sabias o desamor (guardaste cartas e fotografias por mais de cinquenta anos; o mesmo amor, surpresa, ternura do primeiro olhar, da primeira paixão, de todas as palavras e de todas as perdas – sem um lamento audível). Amaste amar, amaste muito e muitos, amaste a vida.
Partimos, como tu, da quinta onde a vinha foi cultivada pelas tuas mãos; faltar-nos-á a vindima deste ano, por décadas, para toda a vida. Não guardei entre os dedos um punhado de terra: a terra à terra pertence, ensinaste-me. Sei que moro em terra em corpo de ninguém.
‘É o fim, filha’; acreditei em ti, como sempre.
Sinto saudades do passado contigo futuro. Do futuro de ti.
O tempo arde. Para sempre.   Diana Pimentel (Barbeitos)

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

AUTOEUROPA ....greve e capitalismo e a cegueira de alguns



É possível trabalhadores contra trabalhadores por razões sectárias...?Nunca pensei ver ,ouvir ou ler.A confusão e por vezes pouca honestidade com que por aqui se desenvolvem teorias "de tiros nos pés" é bem a demonstração da iliteracia politica... ou da manipulação "cavaquista" ou PPC.Numa sociedade em que se pretende desagravar o peso do trabalho e em que nalguns países já não se trabalha na generalidade tantas horas e se pretendem dar mais oportunidade a mais emprego, vem aqui o trabalhador provavelmente da Restauração ou o do Hospital ....(exemplifico) defender que é bom é trabalhar aos sábados ,e porque não ao domingo e feriados...Deixem de ter medo do "papão comunista" e pensem.....e deixem de se intrometer nas lutas justas dos trabalhadores com as características que cada género ou especificidade contêm.. não tenham pena do CAPITALISMO....coitadinho..ninguém aqui é estúpido, mas parece gostar de se auto-flagelar,pelo que ouve no café ou no táxi...MDC.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A Comunicação Social e o Verão Quente de 1975...e Hoje

Por Jorge Seabra   Uma partilha oportuna para memória futura.Não esquecendo os militares presos em Custóias (Porto) e os militares exilados Varela Gomes,Costa Martins,Duran Clemente,Pereira Pinto,Martins Jorge,Jorge Carvaheira,Alvaro Fernandes e outros.MDC
.........................................................................................................................................
«A recente onda de histeria da direita mostra quão sensível ela é à quebra das alianças do Verão Quente de 75, continuadas na comunicação social que persiste em falsear a realidade, apresentando como uma ameaça à democracia os que por ela mais lutam e lutaram, antes e depois do 25 de Abril, em Portugal, na Ucrânia, na Síria ou na Venezuela.
https://www.abrilabril.pt/sites/default/files/styles/jumbo1200x630/public/assets/img/frank_carlucci-portugal.jpg?itok=-7TT6IBn
Frank Carlucci, embaixador norte-americano em Portugal entre 1975 e 1978, «acompanhou de perto» o Verão Quente de 1975
Frank Carlucci, embaixador norte-americano em Portugal entre 1975 e 1978, «acompanhou de perto» o Verão Quente de 1975Créditos/ noticiasmagazine.pt
«É que estava a ver cada vez pior, os vermelhos mais desbotados, o rosa mais amarelo e o negro a avançar!…» – dizia-me há dias um velho amigo e grande cirurgião, falando da recuperação da visão após a catarata operada, com a sua ironia política e o eterno sorriso de menino maroto.
E talvez tenha sido este Verão de tragédias e as leituras que se procuram para férias que me levaram a comprar o belo e bem documentado livro Quando Portugal ardeu, do jornalista da Visão Miguel Carvalho, uma revisitação às memórias do «Verão Quente» de 1975 e à onda de crimes da rede bombista que atacou sindicatos e partidos de esquerda, alegando querer restaurar a democracia «ameaçada pelos comunistas».
Estão lá bem documentadas as cumplicidades de insuspeitos «democratas» com a CIA de Carlucci, (condecorado por Mário Soares) e as ligações com a direita salazarenta e revanchista, onde afloram conhecidos bombistas, como Ramiro Moreira (premiado com um emprego na Petrogal e amnistiado por Mário Soares), Manuel Marques da Costa, o «Águia», Teixeira Gomes e o Ângelo «de Trancoso», industriais nortenhos como Rui Castro Lopo, Abílio de Oliveira e Joaquim Ferreira Torres, este último, silenciado a tiro por cúmplices, numa emboscada.
Estavam também envolvidos altos comandos militares, como o comandante da Região Norte, Brigadeiro Pires Veloso, chefes da PSP (Major Mota Freitas) e da PJ (Inspector Júlio Regadas), e figuras gradas da Igreja, onde se destacam o arcebispo de Braga e o Cónego Melo, este último com direito a estátua na cidade, talvez por dizer «Deus abençoe as vossas mãos» aos bombistas do MDLP (Movimento Democrático de Libertação de Portugal, de extrema-direita).
Entre muitos outros, a rede incluía membros do Conselho da Revolução, como Sanches Osório e Canto e Castro, e da Junta de Salvação Nacional, como o general Galvão de Melo e o ex-presidente da República, general Spínola, que comandou, a partir de Espanha e da Suíça, o terrorismo bombista do MDLP, e que afirmou querer «eliminar fisicamente» os comunistas a Günter Wallraff, jornalista alemão que se fez passar por traficante de armas, sendo depois premiado pelo 25 de Novembro, que o elevou a Marechal.
Agentes estrangeiros, essenciais «à festa», também não faltaram.
Para além do chefe da orquestra, o embaixador dos USA, Frank Carlucci (mais tarde chefe máximo da CIA), de Guérin-Sérac, «Morgan» (ex-OAS e director da Aginter Press fascista) e Jay Salby, o «Castor», outro importante agente da CIA, até o ex-oficial nazi Otto Skorzeny, mítico «herói» da libertação de Mussolini, entrou no conluio vendendo armas à direita fascista do ELP (Exército de Libertação de Portugal).
A esta amálgama unida no «anticomunismo» (ou no «anti-PCP»), também se juntou a esquerda dita «radical», infiltrada, como o PRP/BR, onde militava Artur Albarran (mais tarde locutor da TV e sócio de Carlucci num negócio imobiliário), ou o MRPP, de Arnaldo Matos.
«até o ex-oficial nazi Otto Skorzeny, mítico «herói» da libertação de Mussolini, entrou no conluio vendendo armas à direita fascista do ELP (Exército de Libertação de Portugal).»
Este último, para além de «viver à larga» – «…são como um saco para onde o dinheiro é atirado, não se sabe por quem…», no dizer de Saldanha Sanches, então seu dirigente dissidente –, trabalhava contra «os revisas do PC», colaborando na preparação do golpe de 25 de Novembro, mantendo contactos «discretos» com Soares, Eanes e Sá Carneiro, que publicamente atacavam com a senha habitual.
Essa duplicidade e ajuda à contra-revolução, foram também alegremente confirmadas pelos seus militantes de então, Ana Gomes (agora PS) e Fernando Rosas (BE), em entrevista ao programa «Baseado numa história verídica» do canal Q, de 7 de Julho de 2017.
Nesta cena de enganos, com centenas de ataques a centros de trabalho e sedes de partidos da esquerda, com mortos em carros, casas mandadas pelos ares e bombas na embaixada de Cuba que causaram duas vítimas, todos – da CIA de Carlucci às «fundações» da social-democracia europeia, dos Espírito Santo, Mello e Champalimaud aos fascistas do ELP, do MDLP, da CODECO e da Aginter Press, dos mercenários da FLNA de Holden Roberto e Chipenda aos «moderados» do PS, PSD e CDS, incluindo os «revolucionários» do MRPP e do PRP/BR – apoiaram implícita ou explicitamente a onda de terror contra sindicatos e partidos de esquerda, tendo como alvo a CGTP, MDP, UDP e PCP.
Vale a pena rever os acontecimentos desse Verão de 75, agora com mais informação e com os olhos que o tempo nos dá, para percebermos que, quando pensamos saber tudo o que o diabo amassou, descobrimos que foi ainda pior, que a violência foi mais extensa e brutal, que a mentira foi mais descarada e perversa, que a «vaga de fundo do povo português» (como dirigentes do PPD, CDS e do PS lhe chamavam) foi mais encenada e planeada, misturando política e marginalidade, anticomunismo e puro roubo, fanatismo e trafico de divisas, tudo na maior impunidade, com homens de charuto em hotéis de luxo e jantares em tascas com «mulheres e vinho», a que nem sequer faltou a exploração dos operacionais que recebiam migalhas dos muitos milhões «doados» para a «libertação de Portugal».
Ler o livro Quando Portugal ardeu, que completa outras importantes obras sobre o tema, como O 25 de Novembro a Norte – O processo Revolucionário no ano de 75, de Jorge Sarabando Moreira, levanta também a ingénua pergunta se tudo não teria sido diferente caso os intervenientes dessa conspiração contra os avanços de Abril não tivessem então escondido e negado o que hoje é, pelos próprios, afirmado sem pruridos e até com orgulho, confirmando factos e cumplicidades que, na época, pareceriam inacreditáveis ou fruto de uma doentia teoria da conspiração.
E, no entanto, houve gente com coragem que investigou tudo, descobriu tudo, que desmascarou tudo, homens honestos, como a PJ de Álvaro Guimarães Dias, Matos Fernandes, Mouro Pinto, Vaz Tomé, Lopes Duarte, o coronel Ernesto Ramos e colaboradores da PJ militar, e da SDCI, a informação militar, do Capitão de Mar e Guerra Rodrigues Soares e camaradas, estes últimos presos logo a 26 de Novembro.
«Apesar do significado intrinsecamente antidemocrático da onda terrorista, para alguns dos testemunhos do "centro" e da "esquerda moderada", tudo se passou como se essa conjura constituísse apenas uma fase sombria mas incontornável da nossa democracia»
Gente impoluta que correu enormes riscos, enfrentando ameaças vindas de fora e das próprias instituições a que pertenciam, a que o País nunca agradeceu devidamente.
Apesar do significado intrinsecamente antidemocrático da onda terrorista, para alguns dos testemunhos do «centro» e da «esquerda moderada», tudo se passou como se essa conjura constituísse apenas uma fase sombria mas incontornável da nossa democracia e, por isso, ética e politicamente aceitável.
Nesta encenação, entra também o «cerco» ao 1.º Congresso do CDS no Porto, invocado símbolo da vocação ditatorial dos «comunas», acontecimento organizado e convocado por militantes de todas as origens (Juventude Socialista, LCI, LUAR, PRP-BR, OCMLP…), menos pelo PCP (!), que, em comunicados e nas palavras de Álvaro Cunhal, «não organizou, não participou e não apoiou as manifestações» contra o congresso do CDS.
Apesar disso, para os media nacionais e internacionais, o badalado «cerco» passou a ser a prova incontestável da falta de sentido democrático do PCP, (o Daily Telegraph dizia que «reflectia uma técnica comunista clássica»), assumindo ainda hoje, a direita, o papel de virginal vítima, enquanto, por trás do pano, organizava a onda de incêndios, atentados à bomba e fuga de capitais que preparou o 25 de Novembro.
Chegou-se até a querer «dividir» o país com uma zona «livre», a norte de Rio Maior, terra das célebres mocas (símbolo da sua «democracia»…), com o governo de Mário Soares a ameaçar «fugir» para o Porto, onde ficaria protegido «dos vermelhos» pelo ELP e pelo MDLP de Alpoim Galvão e Spínola, com a bênção do Cónego Melo.
António Taborda, prestigiado advogado e um dos defensores das vítimas da rede bombista, mais de 40 anos depois, ouvido por Miguel Carvalho, concluiu:
«Para mim, estava tudo harmonizado entre o embaixador norte-americano Frank Carlucci, o Mário Soares, o MDLP, o ELP e a arquidiocese de Braga».
Como dizia Ramiro Moreira, o bombista-mor: «Era tudo anticomunismo! Era uma festa!».
Talvez essa experiência nos permita perceber melhor como se organizam e desenvolvem «revoltas» como a da Praça Maidan, na Ucrânia, ou os boicotes e as violentas manifestações anti-governamentais na Venezuela.
Em Portugal, a «guetização» do PCP e da esquerda à esquerda do PS, mantida desde o 25 de Novembro de 75, só nas últimas eleições foi em parte quebrada com a inflexão do PS, forçado a abrir a negociação das condições mínimas para a viabilização parlamentar de um governo socialista, na sequência do repúdio eleitoral da política dos governos da troika.
O fim do sequestro da democracia pelo chamado «arco do poder» do PS, PSD e CDS representou, por isso, uma derrota maior dos que acobertam a defesa dos interesses do grande capital com a instrumentalização de mentiras e preconceitos anticomunistas.
A recente onda de histeria da direita (ver artigo de João Miguel Tavares «Somos todos demasiado tolerantes com o PC» – Público, 8/7/17) e a desesperada invenção do «diabo» que faltava, chegado numa manhã de fumo ou de nevoeiro com a exploração ad nauseam da tragédia de Pedrógão (cavalgando as dificuldades criadas pela sua própria política de privatização e desinvestimento nos serviços públicos), mostram, para além de enorme hipocrisia, quão sensível ela é à quebra das alianças do Verão Quente de 75, continuadas na comunicação social que persiste em falsear a realidade, apresentando como uma ameaça à democracia os que por ela mais lutam e lutaram, antes e depois do 25 de Abril, em Portugal, na Ucrânia, na Síria ou na Venezuela.
Também por isso, é difícil compreender os que, afirmando-se críticos da política agressiva e de pilhagem neocolonial da União Europeia e dos USA no Médio Oriente ou na América Latina, cedem à pressão da contra-informação da direita dando crédito à velha receita dos «Verões quentes» da CIA, pondo-se ao lado dos Spínolas e Cónegos Melo locais e das orquestradas campanhas contra governos eleitos que procuram defender as populações dos seus desígnios de rapina.»   JORGE SEABRA

0 COMENTÁRIOS