domingo, 26 de novembro de 2017

O 25 DE NOVEMBRO E OS REMORSOS MAL-RESOLVIDOS


O 25 DE NOVEMBRO E OS REMORSOS MAL-RESOLVIDOS DO MAJOR SOUSA E CASTR0 por Jorge CG

(um comentário de Jorge CG que merece ficar registado no meu blogue)

Num artigo, que se põe nos comentários a esta minha ‘postagem’ para consulta de quem o queira (até começar) por fazer, o Major Sousa  Castro (SC) tenta justificar perante si mesmo a escolha errada que fez em 1975. Os erros em si são humanos e até posso fazer fé que SC tenha sido sincero nas suas opções. Mas 42 anos depois a verdade Histórica merece ser reposta, como analisadas as suas consequências. Fugir à responsabilidade das opções feitas, mesmo que o fossem em nome e um “mal menor”, ilude quem quiser, a começar pelos remorsos do próprio, m as não torce a verdade dos factos. É aquilo a que, do ponto de vista da psicologia, Freud chamou um “transfer”: SC alija as suas opções para as costas de uma narrativa fixionada, na medida em que a História que não chegou a ser não se compadece como justificação para a História que é e os factos que lhe deram origem.
A argumentação de SC assenta nesse mesmo sofisma. Começa por considerar – como se de um meta-leninista e ortodoxo se tratasse – que o rumo da História é determinável, mesmo nas coordenadas do que se não deu e se desconhece em absoluto como seria. Mais: cujos acontecimentos ulteriores vêm até pôr em causa certas “deduções” de “inevitabilidades” do “ou isto ou aquilo”. SC maquilha o 25 de Novembro (e o próprio Documento dos 9, que subscreveu) com a presunção de que se não tivessem os acontecimentos tomado aquele rumo teríamos caído no totalitarismo (refere-se ao modelo da União das Repúblicas Socialistas “Soviéticas”) ‘versus’ democracia ‘in abstracto’. Quando, pelo caminho, ruiu o modelo da URSS e a chamada ‘Democracia’ deu no que deu. Confesso que se as sociedades se resolvessem por ‘votos’ (como SC resume a questão da Democracia, no modelo de voto singular para representatividade e legitimidade política de terceiros, porque pode votar-se segundo outras formas de organização de escolha e sem sujeição à manipulação de opiniões e ao estreitamento de escolhas orgânicas) eu teria imensa dificuldade em escolher entre os males da URSS e os males do capitalismo imperialista contemporâneo. Mas a questão central é outra. É que nada prova que seria de uma maneira ou outra. Mais: há dados, na base das hipóteses, que até contrariam essa mesma hipótese em que SC se escuda para fugir do que o espelho da História lhe devolve.
Quer o declínio económico da URSS (que até explicará algumas inflexões do próprio PCP nessa mesma data, mas que não são agora para aqui chamadas), quer a própria natureza específica do PCP (apesar da sua dependência orgânica e material à URSS, mas, ainda que discretamente, muito crítico da adopção do modelo da URSS para Portugal), mesmo que se reduzisse (por absurdo) o 25 de Novembro ao confronto entre o PCP e os restantes partidos parlamentares, com uns ‘tontinhos idealistas’ pelo meio (como insinua SC). não teríamos tido nunca o decalque do modelo da URSS. Mais: a implosão do modelo da URSS era bem provável que fosse até acelerado, dando origem a coisa diferente do que a continuidade de oligarquias e destruição do Estado, formação de máfias e rendição incondicional de Ietlsine ao imperialismo norte-americano, cuja recuperação na própria Rússia de tal decadência ainda hoje não foi totalmente resgatada. Mas adiante, que não é da URSS em si que se quer falar: caiu por seus erros e pronto. Mas o que se quer salientar é que o caminho universal, a partir da Europa, poderia ter sido outro se o 25 de Novembro em Portugal outro desfecho tivesse tido. Desde logo porque não iria sequer o PCP “tomar o Poder”, muito menos replicar a URSS ou as “democracias populares” (esse tal determinismo meta-leninista de SC enjeita o mais basilar do próprio marxismo: “os acontecimentos histórios repetem-se, mas da segunda vez como farsa”). A multicomposição (nas FFAAA e nas classes trabalhadoras e do próprio empresariado de pequena dimensão) da sociedade portuguesa, o “arrastamento” previsível de transformações em dominó na Europa, a começar na Espanha, mas a ter larga influência no resto da Europa, seria bem provável que não se fixasse no Muro de Berlim e “contaminasse” no melhor dos sentidos a “Europa de Leste”. A reconversão de políticas capitalistas agressivas a modelos cada vez mais keynesianos, a centralidade que a social-democracia (de Olof Palm, não “outra”) ganharia como charneira, a queda de monopólios e muitos outros fenómenos de par com a evolução de um processo revolucionário (não sangrento) em Portugal, era bem mais provável que desse origem a um Mundo muito mais interessante do que o da “sovietização” da Europa, talvez mesmo da sovietização (sem comas) moderada de uma Europa até aos Urais, com repercussões mundiais, até pelos novos equilíbrios geoestratégicos.
Mas isto é tudo no capítulo dos “talvez”, dir-se-á. Sim, é. Como diz Pacheco Pereira – bem, acho eu - “a História é das coisas mais caóticas que há”. E se o é, tanto o é verdade para estas hipóteses quanto para as de SC, muito mais simplistas, reducionistas e de visão curta no campo da capacidade de olhar a História para á do que é presente ou passado, hoje só mesmo passado. O 25 de Novembro de 1975, mais do que “travar” um processo HIPOTETICAMENTE perigosamente totalitário foi um processo de “travar” REALMENTE uma experiência revolucionária única, singular e cujas consequências teriam, isso sim é certo, um enorme prejuízo à sobrexploração que hoje se vive no Mundo e à completa distorção da mais elementar Democracia mesmo que se não queira falar senão dentro das nossas fronteiras.
SC conclui que o 25 de Novembro, pese aquilo que ele “reconhece” como retrocessos tremendos (em que enaltece os esforços, verdadeiros, de Eanes, Lourenço e Antunes para evitar maiores danos), acabou por permitir cumprir o 25 de Abril, em nome da tal “devolução da soberania” ao Povo Português que o MFA trouxe. E isso é uma falácia, por assim dizer para contornar a palavra mentira. O 25 de Novembro não devolveu soberania popular nenhuma a que o 25 de Abril abrira as portas. Não só não se cumpriram muitos e muitos dos aspectos da Democracia (que o próprio Manifesto do MFA não resumia ao “voto eleitoral” e no modelo da “democracia” Ocidental), como a própria soberania política nunca foi tão dominada pelo estrangeiro como agora, pelo menos se recuarmos até 1640. O 25 de Novembro interrompeu processos genuinamente democráticos nos campos da Economia, do Conhecimento e da Participação Popular. E a própria “Democracia” Ocidental involuiu para formas de autoritarismo, ‘austeritarismo’ e autismo político nunca antes c vistos, cuja expressão mais caricatural se assume na eleição de um Trump como Presidente dos Estados Unidos da América e se reflecte no crescimento da extrema-direita Europa fora…
A 24 de Abril de 1974, a distribuição da riqueza nacional entre o mundo do trabalho e o do capital era de, respectivamente, 40% ‘versus’ 60% (a inversa da então média da Europa Ocidental). A 24 de Novembro de 1975 ultrapassara um poucos, respectivamente, os 65% versus 35%. A 26 de Novembro de 2017 é, calcula-se de 30% ‘versus’ 70%... Foi esta a consagração das “promessas” do 25 de Abril a que SC se refere também? É desta “regeneração da Pátria para a defesa da Democracia e da Liberdade” do 25 de Abril de que SC se orgulha? Ou são os remorsos a falar pela boca da delusão?
SC, se está a falar com sinceridade – e eu quero crer que sim -, deveria recorrer preferentemente ao divã da sua memória política. Deve enfrentar os fantasmas que oculta dos encontros com Carlucci e das permissividades com o ELP, o MDLP e o fechar de olhos ao retorno de ex-Pides a um novo activismo político no chamado “Verão Quente”. Se quiser ser sério consigo mesmo, em vez de se esconder no biombo desse meta-leninismo analítico da História usado em nome de combate à sociedade iniciada por Lenine, assume os erros (sem que tenha sequer de significar que hoje trocaria de barricada simplesmente) porque errar é humano, mas não faça da sua própria vergonha areia para iludir incautos. Os métodos mais sofisticados – para gente mais esclarecida – de um argumentário que entronca no dos comunistas que davam injecções nas orelhas aos velhinhos” não colhe de todo. E no caso do 25 de Novembro em Portugal muito menos: não se tratou tão-pouco de “escolher entre o comunismo e o imperialismo”, mas tão só o de estar com os trabalhadores em demanda de um processo novo e original de luta contra o imperialismo ou vergar a este em nome de medos induzidos.
O 25 de Novembro não é uma rota de correcção de excessos ou descaminhos num processo revolucionário. O 25 de Novembro, ao contrário do que SC afirma, é a data do assassinato do 25 de Abril.
A argumentação de SC assenta nesse mesmo sofisma. Começa por considerar – como se de um meta-leninista e ortodoxo se tratasse – que o rumo da História é determinável, mesmo nas coordenadas do que se não deu e se desconhece em absoluto como seria. Mais: cujos acontecimentos ulteriores vêm até pôr em causa certas “deduções” de “inevitabilidades” do “ou isto ou aquilo”. SC maquilha o 25 de Novembro (e o próprio Documento dos 9, que subscreveu) com a presunção de que se não tivessem os acontecimentos tomado aquele rumo teríamos caído no totalitarismo (refere-se ao modelo da União das Repúblicas Socialistas “Soviéticas”) ‘versus’ democracia ‘in abstracto’. Quando, pelo caminho, ruiu o modelo da URSS e a chamada ‘Democracia’ deu no que deu. Confesso que se as sociedades se resolvessem por ‘votos’ (como SC resume a questão da Democracia, no modelo de voto singular para representatividade e legitimidade política de terceiros, porque pode votar-se segundo outras formas de organização de escolha e sem sujeição à manipulação de opiniões e ao estreitamento de escolhas orgânicas) eu teria imensa dificuldade em escolher entre os males da URSS e os males do capitalismo imperialista contemporâneo. Mas a questão central é outra. É que nada prova que seria de uma maneira ou outra. Mais: há dados, na base das hipóteses, que até contrariam essa mesma hipótese em que SC se escuda para fugir do que o espelho da História lhe devolve.Quer o declínio económico da URSS (que até explicará algumas inflexões do próprio PCP nessa mesma data, mas que não são agora para aqui chamadas), quer a própria natureza específica do PCP (apesar da sua dependência orgânica e material à URSS, mas, ainda que discretamente, muito crítico da adopção do modelo da URSS para Portugal), mesmo que se reduzisse (por absurdo) o 25 de Novembro ao confronto entre o PCP e os restantes partidos parlamentares, com uns ‘tontinhos idealistas’ pelo meio (como insinua SC). não teríamos tido nunca o decalque do modelo da URSS. Mais: a implosão do modelo da URSS era bem provável que fosse até acelerado, dando origem a coisa diferente do que a continuidade de oligarquias e destruição do Estado, formação de máfias e rendição incondicional de Ietlsine ao imperialismo norte-americano, cuja recuperação na própria Rússia de tal decadência ainda hoje não foi totalmente resgatada. Mas adiante, que não é da URSS em si que se quer falar: caiu por seus erros e pronto. Mas o que se quer salientar é que o caminho universal, a partir da Europa, poderia ter sido outro se o 25 de Novembro em Portugal outro desfecho tivesse tido. Desde logo porque não iria sequer o PCP “tomar o Poder”, muito menos replicar a URSS ou as “democracias populares” (esse tal determinismo meta-leninista de SC enjeita o mais basilar do próprio marxismo: “os acontecimentos histórios repetem-se, mas da segunda vez como farsa”). A multicomposição (nas FFAAA e nas classes trabalhadoras e do próprio empresariado de pequena dimensão) da sociedade portuguesa, o “arrastamento” previsível de transformações em dominó na Europa, a começar na Espanha, mas a ter larga influência no resto da Europa, seria bem provável que não se fixasse no Muro de Berlim e “contaminasse” no melhor dos sentidos a “Europa de Leste”. A reconversão de políticas capitalistas agressivas a modelos cada vez mais keynesianos, a centralidade que a social-democracia (de Olof Palm, não “outra”) ganharia como charneira, a queda de monopólios e muitos outros fenómenos de par com a evolução de um processo revolucionário (não sangrento) em Portugal, era bem mais provável que desse origem a um Mundo muito mais interessante do que o da “sovietização” da Europa, talvez mesmo da sovietização (sem comas) moderada de uma Europa até aos Urais, com repercussões mundiais, até pelos novos equilíbrios geoestratégicos.Mas isto é tudo no capítulo dos “talvez”, dir-se-á. Sim, é. Como diz Pacheco Pereira – bem, acho eu - “a História é das coisas mais caóticas que há”. E se o é, tanto o é verdade para estas hipóteses quanto para as de SC, muito mais simplistas, reducionistas e de visão curta no campo da capacidade de olhar a História para á do que é presente ou passado, hoje só mesmo passado. O 25 de Novembro de 1975, mais do que “travar” um processo HIPOTETICAMENTE perigosamente totalitário foi um processo de “travar” REALMENTE uma experiência revolucionária única, singular e cujas consequências teriam, isso sim é certo, um enorme prejuízo à sobrexploração que hoje se vive no Mundo e à completa distorção da mais elementar Democracia mesmo que se não queira falar senão dentro das nossas fronteiras.SC conclui que o 25 de Novembro, pese aquilo que ele “reconhece” como retrocessos tremendos (em que enaltece os esforços, verdadeiros, de Eanes, Lourenço e Antunes para evitar maiores danos), acabou por permitir cumprir o 25 de Abril, em nome da tal “devolução da soberania” ao Povo Português que o MFA trouxe. E isso é uma falácia, por assim dizer para contornar a palavra mentira. O 25 de Novembro não devolveu soberania popular nenhuma a que o 25 de Abril abrira as portas. Não só não se cumpriram muitos e muitos dos aspectos da Democracia (que o próprio Manifesto do MFA não resumia ao “voto eleitoral” e no modelo da “democracia” Ocidental), como a própria soberania política nunca foi tão dominada pelo estrangeiro como agora, pelo menos se recuarmos até 1640. O 25 de Novembro interrompeu processos genuinamente democráticos nos campos da Economia, do Conhecimento e da Participação Popular. E a própria “Democracia” Ocidental involuiu para formas de autoritarismo, ‘austeritarismo’ e autismo político nunca antes c vistos, cuja expressão mais caricatural se assume na eleição de um Trump como Presidente dos Estados Unidos da América e se reflecte no crescimento da extrema-direita Europa fora… A 24 de Abril de 1974, a distribuição da riqueza nacional entre o mundo do trabalho e o do capital era de, respectivamente, 40% ‘versus’ 60% (a inversa da então média da Europa Ocidental). A 24 de Novembro de 1975 ultrapassara um poucos, respectivamente, os 65% versus 35%. A 26 de Novembro de 2017 é, calcula-se de 30% ‘versus’ 70%... Foi esta a consagração das “promessas” do 25 de Abril a que SC se refere também? É desta “regeneração da Pátria para a defesa da Democracia e da Liberdade” do 25 de Abril de que SC se orgulha? Ou são os remorsos a falar pela boca da delusão? SC, se está a falar com sinceridade – e eu quero crer que sim -, deveria recorrer preferentemente ao divã da sua memória política. Deve enfrentar os fantasmas que oculta dos encontros com Carlucci e das permissividades com o ELP, o MDLP e o fechar de olhos ao retorno de ex-Pides a um novo activismo político no chamado “Verão Quente”. Se quiser ser sério consigo mesmo, em vez de se esconder no biombo desse meta-leninismo analítico da História usado em nome de combate à sociedade iniciada por Lenine, assume os erros (sem que tenha sequer de significar que hoje trocaria de barricada simplesmente) porque errar é humano, mas não faça da sua própria vergonha areia para iludir incautos. Os métodos mais sofisticados – para gente mais esclarecida – de um argumentário que entronca no dos comunistas que davam injecções nas orelhas aos velhinhos” não colhe de todo. E no caso do 25 de Novembro em Portugal muito menos: não se tratou tão-pouco de “escolher entre o comunismo e o imperialismo”, mas tão só o de estar com os trabalhadores em demanda de um processo novo e original de luta contra o imperialismo ou vergar a este em nome de medos induzidos.O 25 de Novembro não é uma rota de correcção de excessos ou descaminhos num processo revolucionário. O 25 de Novembro, ao contrário do que SC afirma, é a data do assassinato do 25 de Abril.» JORGE CG

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