sábado, 28 de junho de 2014

MEMÓRIAS de ADRIANO / MINHAS MEMÓRIAS (escrito em 1997)

COM AGRADECER ÁS AMIGAS E AMIGOS OS VOTOS DE PARABÉNS?

Fui ao baú das memórias e encontrei esta composição em Homenagem ao nosso Adriano,nos 15 anos do seu falecimento,dita em Avintes:

MEMÓRIAS de ADRIANO
MINHAS MEMÓRIAS
(escrito em 1997)

... Voz de Fado e de Destino
... tinha também o masculino apelo do rebate e do COMBATE!
Um TEMPO de grande tensão histórica e de grande tensão interior
TEMPO PEJADO DE APELOS E SINAIS CARREGADO DE PERIGOS E ANGÚSTIAS
PRENHE DE COISAS NOVAS
RUÍAM TABUS e MITOS
LAVANTAVAM-SE BARREIRAS
APERTAVAM A MORDAÇA
REFORÇAVAM A REPRESSÃO
ALGO ESTAVA EM MARCHA
NOVA CONSCIÊNCIA
ENERGIA QUE PULSAVA

. POVOS QUE SE LIBERTAVAM
( degrau a degrau
passo a passo ... para a Liberdade )
para a CIDADE
para a CIDADANIA
. Sem Liberdade não há CIDADÃO
. Sem CIDADÃO não há multidão
que se aconchegue
na união
de viver ...
de fazer ...
de crescer ...
de se ser humano ... realmente
. Na unidade de construir: GENTE!

** COIMBRA a saber de:
Santa Maria / Henrique Galvão
Quartel de Beja / Varela Gomes
Greves: Lisboa e Alentejo
Vendaval: Humberto Delgado
** COIMBRA de revolta
liquidação da autonomia das associações
. O FLUIR DA HISTÓRIA: no sopro do tempo
na correntes da ideias
. NESSA COIMBRA DE ADRIANO
( de José Afonso e de outros )
onde chegou
e de onde nunca terá saído ( foi-se e está presente ) no saber eterno da poesia e da cantiga
o “ canto novo que os tempos reclamavam “
a BARCA NOVA de Adriano
( a barca carregada de soldados para a guerra injusta )
a BALADA DO OUTONO de Zeca Afonso
Tudo mudou:
De Coimbra para Lisboa
De Coimbra para o Porto
As três academias
Eram finalmente luta e intervenção
“ não mais a capa velhinha feita mortalha para a sepultura “
como alguém diz
Capa: bandeira de luta
Capa: bandeira de liberdade
A poesia e os poetas
Os cantores e sua música
Gritavam:
Uma nova fraternidade
Uma nova esperança...
Em todo este Processo os poetas e cantores desempenham um papel fundamental:
- que terá sido o mais generoso e o mais corajoso
- nunca se recusam cantar o que era preciso cantar
( mesmo na noite mais triste em tempo de servidão )
HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE RESISTE
HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE DIZ NÃO
( Manuel Alegre ) ( Trova do Vento que Passa )
“ Canção com lágrimas “ – ( do Canto e as Armas )
“ Tejo que levas as águas “ – (Manuel da Fonseca)

O 25 DE ABRIL teve várias portas para o nosso encontro
Para a retoma do nosso amor próprio
Para a recuperação da nossa auto estima;
Auto estima interior como cidadãos portugueses...
E se o caminho
( e os caminhos )
Se fazem caminhando ... para as portas por onde se entrou em ABRIL
Um dos caminhos foi feito pelas
- pelas trovas dos poetas ( de Adriano )
- pelas baladas dos cantores ( de Zeca )
- pela canção desse nosso tempo
- na trova nova:
* velha luta
* imensa esperança
Que abalou as estruturas bolorentas
Culturais do FASCISMO...
Apelando á resistência e ao
Combate de milhares e milhares de jovens
Daquela geração ... da nossa geração.
... “ vieram dizer que não tinham medo “
que “ a verdade era mais forte que as algemas “
( M. Alegre )
“ CANTOU-SE ABRIL antes de Abril o SER “
é verdade ... e justo repeti-lo
Cantando-se
... COMO HEI-DE AMAR serenamente
com tanto amigo na prisão
( F.A Pacheco )
... Já lá vai Pedro Soldado
num barco da nossa armada
( Fiama P. Brandão )
Cantando-se

... O soldadinho não volta
do outro lado do mar
( R. Ferreira )
Cantando-se

... Tejo que levas as águas
... leva nas águas as grades de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade das bocas amordaçadas
( M. Fonseca )
... Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as águas para o mar

“ QUE NUNCA MAIS “ porque o fascismo existiu

- vida cercada de mecanismos opressivos
- sociedade assente na exploração
- na prepotência
- na hipocrisia
- na violência

Tristeza de um povo
Coragem no Combate Liberdade ABRIL
Por um futuro melhor

Na sombra da noite eu fui afastado
Por gente sem rosto e longo braço armado
( M. Fonseca )

Foi-se a noite da mentira Liberdade ABRIL
Veio o dia do Combate

P’rá frente na luta até à vitória
Não fiques para traz Liberdade ABRIL
Que o teu vestido
É o mesmo da gente

Já meu país foi uma flor de verde pinho
País em terra e semeá-lo uma aventura
Depois abriu-se o mar como um caminho Liberdade ABRIL
Depois o bosque se faz barco e o barco arado
Dessa nova e fatal agricultura
Colher no mar
O fruto nunca semeado

Depois o bosque se faz barco
E ramo a ramo
Foi remo e quilha
Era um povo a perder-se por Liberdade ABRIL
Seu amo
Que perdia seu povo de
Ilha
Em ilha...

Porque és tão triste tristeza
Toda feita de suspeita
Tristeza de olhos no chão
Tristeza de manga de alpaca
Tristeza de ombros curvados
Tristeza triste tristeza Liberdade ABRIL
Porque não corres tristeza
Porque não cantas não gritas
Não acendes tua mágoa
No meio de cada praça

Porque não falas mais alto
Porque não cantas tristeza
Nem as lágrimas transformas
Em gritos dentro de nós Liberdade ABRIL
Em gritos, raivas e pedras
Com que partas à pedrada
A redoma onde prenderam
A nossa vida / tristeza

Vi minha Pátria na margem
Dos rios que vão para o mar
Como quem ama a viagem
Mas tem sempre de ficar
Vi ferir os verdes ramos
Direitos e ao céu voltados Liberdade ABRIL
A quem gosta de tiranos
Vi sempre os ombros curvados
Se o verde trigo desfolhar
Pede notícias e diz
Ao trevo de quatro folhas
Que eu morro por meu país

Teu nome onde exilado
Hábito e canto
Mais do que nome: NAVIO
Onde já fui marinheiro
Naufragado

No teu nome
*Sobre esta página escrevo o teu nome
Que no peito trago escrito
Laranja, verde, limão
Amargo e doce o teu nome
Esta chama ateada no meu peito
Por quem morro
Por quem vivo

Este nome rosa e cardo
Por quem livre sou cativo
*Sobre esta página escrevo o teu nome:

LIBERDADE....
Com mãos se faz a PAZ
Se faz a GUERRA

Com mãos tudo se faz e se desfaz

Com mãos se faz o poema e
são de terra

Com mãos se faz a guerra e
são a PAZ

Com mãos se rasga o mar
Com mãos se lavra

Não são de pedras estas casas
Mas de mãos
E estão no fruto e na palavra

As mãos que são o CANTO
E são as ARMAS
E CRAVAM-SE NO TEMPO COMO FARPAS
AS MÃOS QUE VÊS NAS COISAS
Transformadas
Folhas que vão no vento
Verdes harpas
DE MÃOS é cada flor
Cada cidade
NINGUÉM PODE VENCER ESTAS ESPADAS
NAS TUAS MÃOS COMEÇA A LIBERDADE

25 ABRIL Liberdade
“ Liberdade feita dia “ como diz Eduardo Lourenço

O 25 de Abril tornou-se o “ dia à dia “ com as contradições
Certo / errado
Luz / escuro
Manhã / tarde
Jovem / velho
Homem / mulher
Unido / desunido

Por isso os que fazem de conta que não há ou não houve 25 de Abril
Os que dizem mal da mudança...
Estão a comemorá-la
Estão a homenagear, sem querer
O 25 de Abril

porque foi este que lhe restituiu ou deu a possibilidade de deixarem de ser cativos da mordaça e de até sendo livres poderem usar a LIBERDADE para a tratar mal ou dizer mal dela

Segundo o nosso ponto de vista
Segundo o ponto de vista do que
Neste momento e aqui festejamos e comemoramos
Ao dar vida à memória de Abril
Fortalecemos a LIBERDADE pela qual lutámos e pugnámos.
Ao SOL DA LIBERDADE tem sido infelizmente possível:
- falsear a história
- branquear a ditadura
- promover contra a cultura da MEMÓRIA a cultura do
ESQUECIMENTO
- renascer fantasmas
- substituir a ideia de mudança de Revolução pela ideia de mercado
- dar força à competição feroz e enfraquecer a solidariedade o jogo do empurra:
- na rua
- na escola
- no emprego
- na comunicação social
- na política

Tem sido possível ao SOL DA LIBERDADE
Aqui e no mundo
- que os ricos estejam mais ricos quando os pobres não estarão menos pobres
Se Adriano ou Zeca Afonso ou Ary dos Santos hoje cantassem, cantariam
- que deveríamos ser realistas exigindo o impossível
Como?

Como se ainda não ousámos fazer o possível?

Ousar o possível é.entre tanta coisa
Usar a nossa voz ( outra vez o nosso canto e a nossa música contra outras armas )

Contra a visão monetarista que se opõe ao regime social mais humano, democrático e mais participado...

Lutar para que não haja uma Europa ( e nós nela ) ultrafinanceira por cima das conquistas da civilização e da HUMANIDADE...

OUSAR esse possível é cumprir mais o canto / a praia / a luta e todos os que combateram pela LIBERDADE, por ABRIL

Por isso aqui estamos
OUSAR esse possível

E estarmos hoje na intimidade da alma grande dos poetas, dos cantores e dos estados
Alma maior que o nosso tamanho
... essa alma de combatentes pela LIBERDADE que tem a dimensão do planeta e que orbita na nossa esperança.

A ESPERANÇA deve ter o tamanho do UNIVERSO!
Do UNIVERSO que as portas de Abril Abriram!
Grândola Vila Morena
Terra da Fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti ó cidade
(Zeca Afonso)

E de Manuel Alegre :

“NÃO ERA SÓ A VOZ O SOM A OITAVA
QUE ELE QUERIA SEMPRE MAIS ACIMA
NEM SEQUER A PALAVRA QUE NOS DAVA
RESTITUÍDA AO TOM DE CADA RIMA

ERA A TRISTEZA DENTRO DA ALEGRIA
ERA UM FUNDO DE FESTA NA AMARGURA
E A QUASE INSUPORTÁVEL NOSTALGIA
QUE TRAZIA POR DENTRO DA TERNURA

O CORPO GRANDE E A ALMA DE MENINO
TRAZIA NO OLHAR AQUELE ASSOMBRO
DE QUEM QUERIA CABER E NÃO CABIA
OS PÉS FORA DO BERÇO E DO DESTINO
ALGUÉM O VIU PARTIR DE VIOLA AO OMBRO
ERA OUTUBRO EM AVINTES E CHOVIA”
Era Adriano.
(16 de Outubro de 1982)
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Hoje somos todos nós companheiros…vão 32 anos!!!
E a luta é eterna. Abril também. Venceremos
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Manuel Duran Clemente e os citados!!! (28-06-2014)

OBRIGADO AMIGAS E AMIGOS

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