segunda-feira, 20 de abril de 2015

PORTUGAL ERA UM PAIS TRISTE-2

Portugal era um país triste - 2
Agora que se aproxima mais uma comemoração do movimento libertador de 25 de Abril de 1974, talvez convenha lembrar a alguns saudosistas que por aí andam, o que era o Portugal da década de 60, quando eu, privilegiado, pude ir estudar para a universidade.
Privilegiado não era só eu: em todo o país havia 49 mil estudantes universitários, hoje são praticamente 1.300.000. Aqueles que vociferam contra o SNS, não sabem, ou esquecem, que hoje todas as mulheres fazem os partos em unidades hospitalares e naquela época SÓ 18%: nascia-se em casa, o que ajuda a explicar a mortalidade infantil que era de 77,5%, contra 5% nos nossos dias. E médicos por 1000 mil habitantes eram 80, contra 325 em 2011. Para aqueles que acham que "antigamente é que era bom", lembro que há 50 anos, SÓ 28 % das casas tinham água canalizada, duche ou banheira só em 19%, sanitários em 42%, mas esgotos só 38%. A energia eléctrica não chegava a metade dos lares, só a 41%: vivia-se à luz do candeeiro de petróleo, mesmo em cidades importantes. Portugal era um país miserável, na cauda Europa, para onde emigraram, entre 1960 e 1970, 1 MILHÃO DE PORTUGUESES FAMINTOS À PROCURA DE MELHORES CONDIÇÕES E, TAMBÉM, EM FUGA À GUERRA COLONIAL. Esta, absorveu quase 10% da população e mais de 90% da juventude masculina: em 13 anos de guerra, cerca de 1 milhão de portugueses combateu nas colónias, dos quais quase 9.000 morreriam e cerca de 100 mil ficaram feridos ou incapacitados. A evidência desta situação, faz com que em 1971, 25% dos recenseados faltava ao serviço militar, calculando o EMGFA que durante os 13 anos da guerra, cerca de 110 a 170 mil jovens faltaram ao serviço militar. O que nos leva a um outro número significativo e que ajuda, também, a explicar o movimento dos capitães: as reservas de recrutamento esgotaram-se em 1973. Teria de começar tudo de novo e voltar a chamar os que já lá tinham estado.
Este foi o resultado de uma política retrógrada, tacanha, isolada do exterior, com uma forte influência dos valores da igreja católica, sobrevalorizando o papel subalterno da mulher e valorizando a pobreza quase como um fim a atingir. Mas, nada é imutável e é neste quadro que vai despontar uma geração que, provavelmente, terá sido aquela que mais contribuiu para uma ruptura entre gerações, tomando consciência da realidade social e despertando para o seu papel dinamizador no sentido da profunda alteração do estado em que o país vivia.   F.Vicente

Sem comentários:

Enviar um comentário