quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A Guerra Colonial, contada, na primeira pessoa…


A Guerra Colonial, contada, na primeira pessoa…
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A história dum gesto afectuoso contada por um familiar dum militar vitima dessa guerra!A quem respondi:
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Obrigado Amigo, esse rapaz, era um diligente militar, Cabo no Batalhão de Intendência da Guiné/BIG, onde (1973/74) fui segundo comandante, sendo comandante o então Major Bravo Ferreira, homem bom. Esse jovem militar foi numa missão ao porto fluvial de Cufar (Destacamento de Intendência do BIG,na zona) num barco que para ali levou mantimentos, para abastecimento das guarnições da região. Nos vários transportes na viatura (jeep), entre o barco e os armazéns durante o dia, nada aconteceu. Num dos últimos trajectos a viatura passou por cima duma mina , certamente colocada entretanto, mas a potência da mesma era tal que cavou um buraco do tamanho do “jeep” e matou de imediato quatro dos cinco militares. Pela sua constituição, o quinto, o nosso amigo, ficou muito ferido e foi transportado de helicóptero para o Hospital de Bissau, onde esteve 52 dias em coma!!!
Recebi as últimas cartas dos pais e da mãe que lhas li no hospital nas visitas quase diárias.Os pais assustados não percebiam a razão de não receberem correio nos últimos 50 dias. Fui preparando os pais para o que se adivinhava ser um fim infeliz, mas ainda com alguma esperança.
O pior aconteceu. Fui chamado ao hospital quando ele faleceu. Não resisti a dar-lhe o beijo de despedida na testa gelada pelo desconserto da humanidade.

O meu gesto foi um gesto de pai e de mãe.
Muitos de nós devemos ter tido essa reacção ao ver vidas jovens ceifadas por uma política imbecil.

PARA HAVER 25 DE ABRIL MUITOS MORRERAM.MAS FORAM AS SEMENTES DA REVOLTA E DA LIBERDADE!!!
OBRIGADO.
HOMENAGEM A TODOS OS QUE MORRERRAM OU FICARAM DIMINUIDOS POR UMA ESTUPIDA GUERRA COLONIAL.

Manuel Duran Clemente, Coronel SAM ref.

Em resposta a esta mensagem:

«Olá Duran Clemente! Envio-lhe um abraço do Bravo Ferreira(coronel), com quem estive 15 dias em S.Pedro de Muel nas termas, a ver se me safo dos meus achaques! Ele pediu-me que lhe enviasse um abraço e aqui estou a cumprir a promessa! Soube também por ele, uma coisa que me emocionou muito: a morte de um rapaz de Muge, que morreu em vésperas de vir para a metrópole, e a quem o Sr. deu um beijo, dizendo: "Este beijo, é o da tua mãe!" O rapaz… era filho de uma família minha amiga de Muge e que não escrevia desde há muito à mãe, e que ele a meu pedido, fez o favor de encontrar! O seu gesto, contado pelo meu primo, reflecte o seu carácter, e a fibra dos grandes homens! Bem haja e um abraço de amizade e reconhecimento também, do Carlos Ramalho.»

4 comentários:

  1. Obrigado Coronel, estive na guerra em Angola e passados todos estes anos ainda me emociono a ler relatos destes acontecimentos, bem haja.

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  2. Caro Camarada e Amigo Duran Clemente

    Em primeiro lugar um forte Abraço que te devia ter dado na Voz de Operário, mas estava ainda Aveiro, onde fui a tratamento da minha cervical "magoada" pelos maus tratos que sofreu e que me impediu de poder conduzir durante uns tempos.
    Calcula que o teu blog está a ser lido a alguns fuzos horários para Nascente e de lá me mandaram a tua foto perguntando se era o mesmo que em 25/11 tinha "encerrado" o programa da RTP.
    Manel já agora e em "jeito" de homenagem a um Camarada desconhecido, queria recordar que em 73 , o Cap Para Cordeiro era um dos oficial de ligação com a "malta conspirativa" e que chegou a acompanhar reuniões de "marujos" a bordo da LFG Lira.
    Infelizmente o Cap Cordeiro faleceu num salto poucos dias antes da "nossa Madugada", não tendo tido a felicidade de assistir ao 25 de Abril.
    Aliás, o na altura 1º Ten Martins Soares, que comandava a "Lira", onde muitas reuniões de Marinha em Bissau se realizavam, tambem já faleceu, mas teve a oportunidade de ser o impulsionador , criador e inaugurar o Museu Nautico de Macau, onde perdurará muita da memória Lusa naquelas Terras.

    Um Abração
    Manel Marques Pinto

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